Barueri, 13 de agosto de 2025 – A discussão sobre adultização infantil voltou a ganhar espaço na mídia e nas redes sociais após a repercussão de um vídeo publicado pelo influenciador Felca, que já acumula mais de 32 milhões de visualizações no YouTube. Na publicação, Felca alerta para os riscos da exploração de crianças e adolescentes em atividades e rotinas que não correspondem à sua faixa etária, denunciando a exposição precoce para fins de lucro na internet.
O caso reacendeu o debate sobre crianças e adolescentes expostos de forma precoce a padrões de comportamento adulto, incluindo sexualização e responsabilidades financeiras, fenômeno que chegou a motivar a apresentação de projetos de lei no Congresso Nacional.
Segundo Ana Cláudia Favano, psicóloga, pedagoga e gestora da Escola Internacional de Alphaville, em Barueri/SP, a adultização infantil compromete o desenvolvimento emocional, social e cognitivo das crianças. “Quando pulamos etapas, prejudicamos aspectos fundamentais que servirão de base para a vida adulta”, explica.
O que é adultização infantil
O termo refere-se à exposição precoce de crianças a comportamentos, conteúdos, responsabilidades e padrões típicos da vida adulta. Isso pode incluir uso de maquiagem e roupas inadequadas, consumo de redes sociais sem supervisão, cobrança de responsabilidades excessivas e imitação de comportamentos adultos, alerta Ana Cláudia.
Consequências para o desenvolvimento
Os efeitos da adultização infantil podem ser amplos e duradouros, incluindo insegurança, baixa autoestima, ansiedade, dificuldades de socialização e prejuízos no desempenho escolar. A exposição precoce também aumenta a vulnerabilidade a diferentes tipos de abuso. “Quando a criança é estimulada a se comportar como um adulto, ela ainda não tem recursos emocionais para lidar com as demandas e pressões que vêm junto”, afirma a especialista.
Sinais de alerta
Entre os indicativos de adultização infantil estão:
- Interesse excessivo por aparência física e padrões estéticos incompatíveis com a idade;
- Uso de produtos de cuidados para adultos, como cremes antienvelhecimento;
- Preocupação desmedida com dinheiro ou futuro;
- Reproduzir comportamentos sensuais ou amorosos;
- Perda de interesse por brincadeiras e jogos infantis;
- Assumir responsabilidades além da capacidade e interação com grupos mais velhos.
O papel de pais e escolas
Famílias e instituições de ensino devem promover experiências compatíveis com cada fase de desenvolvimento, incentivando brincadeiras, interação social saudável e respeito às etapas naturais da infância. “Pais e educadores devem ser guardiões da infância, filtrando conteúdos e experiências para que sejam apropriados à idade e estimulando a autonomia dentro de limites seguros”, reforça Ana Cláudia.
Atividades adequadas por faixa etária
- 0 a 3 anos: foco em exploração sensorial e motora, brincadeiras livres e estímulo à comunicação;
- 4 a 6 anos: imaginação e faz de conta, dramatizações, histórias e jogos simbólicos;
- 7 a 9 anos: consolidação de habilidades cognitivas, esportes coletivos, projetos escolares e atividades artísticas;
- 10 a 12 anos: autonomia em pequenas responsabilidades, desenvolvimento de senso crítico e cooperação, sem exposição a conteúdos adultos.
Prevenção e orientação
Ao identificar sinais de adultização, familiares e amigos devem dialogar com os responsáveis, sugerir atividades adequadas e monitorar o uso de tecnologias. “O diálogo é a principal ferramenta. Preservar a infância não é atraso, mas proteção e investimento no futuro”, conclui Ana Cláudia Favano.