Pelo menos 16 pessoas foram vítimas de uma agência de turismo de Belo Horizonte que oferecia passagens e pacotes de viagens com preços atrativos, recebia os valores dos clientes e não entregava os produtos. Somente entre as vítimas identificadas até agora, o prejuízo já ultrapassa os R$ 42 mil, mas, segundo o advogado que representa parte delas, novas pessoas lesadas devem surgir com a divulgação do caso.
A empresa, chamada Next Stop, possuía dois registros: um de Micro Empreendedor Individual (MEI), no nome de uma mulher, que era quem fazia todo o contato com os clientes; e uma empresa com o mesmo nome fantasia, inclusive cadastrada no sistema do Ministério do Turismo, que tem como sócio um homem, que segundo informações seria namorado da suspeita. O segundo CNPJ, agora, consta com outro nome de empresa.
Para conseguir clientes, eles ofereciam passagens e pacotes com preços muito baixos. Após a venda, eles entregavam apenas uma parte dos produtos, para que os “clientes” satisfeitos indicassem a agência para outras pessoas, que seriam suas novas vítimas.
Uma das vítimas, que preferiu não ser identificada, contou que chegou até a Next Stop por indicação de conhecidos. “Compramos 10 passagens, para toda a família, para uma viagem internacional. Faltando uma semana soubemos de duas famílias que tiveram problemas com a agência, passagens canceladas na véspera e até pessoas que ficaram presas em outro país sem o bilhete do retorno”, detalha a vítima.
Três dias antes do tão aguardado passeio em família, a dona da agência confirmou que as passagens seriam emitidas e pediu que todos fizessem o exame de PCR, exigido para o voo. A família fez os testes, mas, até o dia da viagem, a suspeita sumiu, não respondendo mensagens ou dando desculpas. “Até hoje não vimos o nosso dinheiro de volta, foram R$ 17 mil de prejuízo”, lamenta a mulher.
Um grupo de três amigos também foi lesado pela agência, após adquirir passagens para assistir à final da Copa do Brasil em Curitiba. Eles receberam a indicação de um colega de um grupo de torcedores do Atlético. “Foram R$ 2.200 reais para nós três, fiz o PIX e, no dia seguinte, comecei a achar estranho. Questionei algumas coisas e pedi o cancelamento. Ela disse que estava tudo bem, mas que a devolução do dinheiro seria demorada por causa do sistema das passagens”, detalha.
A partir daí, começaram as desculpas. “Ela sempre fala como se fosse uma empresa grande, que deu problema no jurídico, que tinha perdido a senha do banco, que o WhatsApp estava instável. Hoje ela já nem responde mais. Ainda não fiz BO, mas estou aguardando para entrar com uma ação nas pequenas causas”, afirma o jovem.
O advogado Carlos Eduardo Teixeira de Godoi representa até agora 15 vítimas da Next Stop, que totalizam cerca de R$ 40 mil em perdas. “Estes são os casos que já conhecemos, mas certamente existem pessoas que compraram passagens para até o meio do ano e nem imaginam que foram vítimas de um golpe”, diz.
Segundo ele, já foram abertas duas representações criminais, uma em BH e outra em Matozinhos, e três novas representações serão ajuizadas nos próximos dias. Além disso, também já correm outras três ações judiciais contra os suspeitos.
“No início eu cheguei a suspeitar que seria apenas má gestão, que ela tivesse se enrolado com o negócio e virou uma bola de neve. Mas com o tempo verificamos que existia má fé, muitas mentiras, e-mails falsos se passando por instituições bancárias, para justificar por não fazer os estornos. Ela prometeu fechar acordos, mas nunca cumpria com o que tinha prometido”, lembra o defensor das vítimas.
Endereço da empresa é espaço de coworking
Após as vítimas começarem a registrar ocorrências policiais, a Next Stop apagou sua página nas redes sociais e tirou do ar o seu site. A suspeita, que era quem fazia o contato com as vítimas, bloqueou parte das vítimas ou simplesmente as ignora. Para além disso, o endereço da sede que consta no registro da empresa é, na verdade, um espaço de coworking, um endereço apenas para receber as correspondências.
“Está ficando cada vez mais difícil buscar por estas pessoas, parece tudo planejado para, posteriormente, na Justiça, dificultar de encontrar bens ou formas de tomar outras medidas contra estas pessoas. O que esperamos agora é que a polícia avance na investigação”, complementa o advogado das vítimas.
Procurada, a dona da empresa não foi localizada para comentar as denúncias. Já o homem, que tem os mesmo CNPJ com outro nome, negou qualquer envolvimento com a agência de turismo ou com a mulher que fazia os contatos com as vítimas.
“A situação dessa empresa é lamentável, mais uma empresa que fecha as portas assim como a Itapemerim e outras grandes empresas que faliram, essa é apenas mais uma. Onde essa pessoa está, o que está fazendo, eu realmente não sei te informar”, disse.
VÍTIMAS DEVEM PROCURAR DELEGACIAS
A Polícia Civil (PC) informou que já está apurando os fatos relatados contra a agência Next Stop e que, por se tratar de eventual prática do crime de estelionato, é preciso que as vítimas formalizem a representação, com contrato de prestação de serviço ou outros elementos de provas, e prestem depoimento.
“A PC esclarece que a pessoa que se sentir lesada deverá comparecer a uma delegacia mais próxima e registrar a ocorrência com a devida representação. A Polícia Civil informa, ainda, que constatada a conduta criminosa o responsável poderá responder pelo crime de estelionato, com pena de 1 a 5 anos, conforme previsão legal”, finaliza a nota .
Da redação, com informações: O Tempo.