Casos de violência contra médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem têm se tornado cada vez mais comuns no Brasil. Segundo levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM), as agressões físicas e verbais aumentaram 68% na última década. Apenas em 2024, foram registrados mais de 4.500 boletins de ocorrência — o maior número já registrado, com média de 12 profissionais agredidos por dia.
Em unidades públicas e privadas, relatos de ameaças, socos, tapas e ofensas são frequentes. Técnicos de enfermagem e médicos relatam trabalhar sob constante tensão e medo. Muitos profissionais afirmam que os plantões se tornaram cenários de insegurança, onde a violência se banalizou.
Em um hospital da zona oeste de São Paulo, uma técnica de enfermagem foi agredida por uma acompanhante após tentar organizar o fluxo de atendimento. Ela sofreu lesões físicas e desenvolveu síndrome do pânico, afastando-se do trabalho por tempo indeterminado. O trauma causou ainda queda de cabelo e crises de ansiedade.
Em outra situação, uma médica foi agredida com um soco no rosto enquanto atendia uma criança em um pronto-socorro. Apesar da presença de segurança patrimonial, não houve intervenção, pois esses profissionais não são autorizados a agir em casos de violência.
Segundo relatos, as agressões verbais são praticamente diárias, e a maioria dos casos não é denunciada. Muitos profissionais preferem não levar as ocorrências adiante para evitar mais transtornos ou por falta de apoio institucional.
O problema vai além das agressões físicas. A ausência de estrutura, a falta de insumos e a carência de equipes médicas contribuem para um ambiente hostil. Profissionais de saúde acabam sendo responsabilizados por falhas do sistema, como atrasos, falta de medicamentos e exames.
Casos de agressão também foram registrados após diagnósticos que não agradaram familiares de pacientes. Em um episódio, uma receita médica foi arremessada contra o rosto de uma médica por um acompanhante que discordava da conduta adotada.
Os estados com mais registros de agressões são São Paulo, Paraná e Minas Gerais. A maioria dos incidentes ocorre em prontos-socorros e unidades de pronto atendimento. As vítimas são, em grande parte, mulheres.
O CFM alerta que o número de casos pode ser ainda maior, já que muitos não são formalmente registrados. Para conter a escalada da violência, o Conselho apoia o Projeto de Lei 6.749/16, que prevê o agravamento das penas para agressores de profissionais da saúde. A proposta já foi aprovada na Câmara dos Deputados e segue para análise no Senado.
Além disso, a entidade trabalha na criação de delegacias especializadas e prepara uma norma que obrigará os responsáveis técnicos das unidades de saúde a comunicar imediatamente a polícia sempre que houver uma agressão.
A crescente insegurança nos ambientes de atendimento tem afastado bons profissionais dos plantões. Segundo representantes da categoria, a violência virou um ciclo vicioso que afeta diretamente a qualidade do atendimento. “É difícil cuidar do outro quando se tem medo de ser a próxima vítima”, resumiu uma profissional da linha de frente.