Ao longo de cinco dias, 100 estudantes de escolas públicas da cidade mineira participaram de curso de férias com abordagem de Stanford
Alunos de escolas públicas de Vespasiano, em Minas Gerais, dedicaram um tempo de suas férias para reforçar o aprendizado da matemática. De 22 a 26 de julho, estudantes do 5º ao 9º anos do Ensino Fundamental participaram do Curso de Férias Mentalidades Matemáticas. A iniciativa traz uma abordagem inovadora no ensino da disciplina, com atividades visuais e colaborativas, além de valorizar o erro como parte da aprendizagem.
Ao longo dos cinco dias, alunos de três escolas municipais diferentes estiveram imersos no mundo da matemática e entenderam como aprender a disciplina pode ser simples. A Escola Municipal Jose Silva recebeu, diariamente, cerca de 100 estudantes para fortalecer conceitos da abordagem Mentalidades Matemáticas, que já vem sendo trabalhada nas salas de aula do município há dois anos e meio.
Em aproximadamente 30 horas de aulas ao longo de toda a semana, os alunos aprenderam a disciplina por meio de exercícios com formas geométricas, como triângulos e quadrados, conheceram matemáticos importantes de outras eras, como Carl Friedrich Gauss e Blaise Pascal, e ainda debateram a matemática uns com os outros.
“A primeira evidência de que estamos no caminho certo é ver o sorriso dos meninos, vê-los sentindo que estão aprendendo, que são capazes. Como educadora, eu considero que o Curso de Férias é a melhor experiência que se pode ter. O salto de segunda para terça já foi gigantesco, com os alunos mais confortáveis na sala de aula, começando a participar. De terça para quarta, outro salto enorme, com eles se sentindo mais abertos, falando mais no grupo, com toda a turma, apresentando suas ideias”, explica Marina França, gerente de inovação educacional do Mentalidades Matemáticas.
“Eu consegui aprender muitas coisas novas. Nunca fui de pedir ajuda e sempre fazia tudo sozinha. Agora eu aprendi a me abrir com a professora. O curso me ajudou bastante. Eu falaria para as pessoas que elas deveriam tentar também”, relata Gabriela Estela Fernandes, do 5º ano do Ensino Fundamental.
“O curso me ajudou muito a entender a Matemática. Fiquei com mais vontade de aprender e percebi que é mais fácil entender a matemática quando um ajuda o outro”, revela Riquelme Rezende, aluno do 9º ano do Ensino Fundamental.
MM em Vespasiano
A cidade de Vespasiano (MG) foi a primeira a adotar a abordagem de forma sistêmica no ensino da matemática. Em dois anos e meio, mais de 250 professores participaram de atividades de formação continuada e mais de 11.800 alunos foram beneficiados pela aplicação da abordagem nas salas de aula.
“A abordagem Mentalidades Matemáticas vem crescendo consistentemente e continuamente em Vespasiano. Quando começamos a formação, não imaginávamos o quanto essa comunidade educativa se apropriaria dos conceitos para se tornarem os principais protagonistas da mudança de prática em sala de aula. É nítido ver o quanto os educadores que passaram pelo processo se sentem hoje mais fortalecidos, não apenas em matemática, mas também capazes de enfrentar novos desafios”, afirma Ya Jen Chang, presidente do Instituto Sidarta.
“Estudos nacionais e internacionais que avaliam o desempenho do estudante brasileiro mostram uma grande defasagem na aprendizagem em matemática, indicando o quanto o ensino da disciplina é um desafio histórico, especialmente para mulheres e negros. É importante destacar que carreiras ligadas à matemática são as mais rentáveis no Brasil, porém elas são formadas majoritariamente por homens brancos, conforme mostra a pesquisa recente realizada pela Fundação Itaú. Tornar a aprendizagem atrativa aos estudantes de todas as classes sociais, gênero e etnias é fundamental no contexto escolar, além de refletir na escolha das profissões no futuro”, diz a gerente de Desenvolvimento e Soluções do Itaú Social, Sonia Dias.
“O balanço que faço de toda essa experiência é perceber que é possível fazer uma educação que reconheça professores, estudantes e gestores como protagonistas do processo. Ver que a solução acontece com os estudantes reais, professoras e professores reais. A única solução possível é quando vamos todas e todos juntos”, relata Marina França.