Pela primeira vez, atos infracionais análogos a crimes cibernéticos foram incluídos no Relatório Estatístico da Vara Infracional da Infância e da Juventude de Belo Horizonte e Região Metropolitana. Os dados mostram que adolescentes têm cometido principalmente ameaças, injúrias e manifestações de preconceito de raça ou cor por meio da internet. Esses tipos de atos somam 1,72% do total registrado em 2024.
Segundo a juíza coordenadora do CIA-BH, a facilidade de acesso às redes sociais e o ambiente escolar são fatores que contribuem para esse cenário, que ela classifica como preocupante.
O levantamento revela ainda que o tráfico de drogas continua sendo o principal ato infracional entre adolescentes (32,9%), seguido por furto (9,58%), ameaça (9,38%) e lesão corporal (7,86%). A maioria dos autores é do sexo masculino, com idade entre 15 e 17 anos, moradores das regiões Leste, Nordeste e Centro-Sul da capital mineira. Em 2024, foram registrados três homicídios cometidos por adolescentes (0,12% do total).
A reincidência no tráfico é apontada como um dos principais desafios. Segundo o Ministério Público, adolescentes são pressionados a continuar no crime para saldar dívidas com traficantes, mesmo após intervenções policiais.
O relatório mostra ainda que 5,29% dos adolescentes infratores têm filhos, e 24,06% estudaram até o 1º ano do Ensino Médio. A maioria vive com até dois salários mínimos por mês e reside em casa própria. O uso de drogas também é recorrente: 49,91% relataram uso de maconha, 25,9% de álcool e 13,61% de cigarro.
Em relação aos atos cometidos em escolas, foram registrados 324 atendimentos em 2024. As infrações mais comuns nesse ambiente foram ameaça (24,01%), lesão corporal (21,86%) e vias de fato (16,13%). A maioria das vítimas são alunos (63,83%), mas professores e funcionários também foram afetados.
O relatório ainda aponta que, apesar da redução no número total de homicídios de adolescentes entre 2020 e 2023, a proporção de jovens negros entre as vítimas aumentou. Em 2023, 81% dos adolescentes assassinados em Belo Horizonte e municípios vizinhos eram negros.
A desembargadora Alice de Souza Birchal, do TJMG, ressaltou a importância dos dados para subsidiar políticas públicas de prevenção e proteção aos direitos de crianças e adolescentes.
📸 Foto: Pixabay / Divulgação
📎 Fonte: O Tempo — Reportagem de Juliana Siqueira
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