Uma geração que sente mais ou que aprendeu a falar sobre o que sente? Com o celular quase sempre à mão e a mente em ritmo acelerado, crianças e adolescentes têm procurado ajuda psicológica como nunca. No Brasil, os atendimentos em saúde mental voltados ao público infantojuvenil vêm crescendo de forma expressiva. Só em 2023, segundo o Ministério da Saúde, mais de 500 mil jovens com até 19 anos receberam atendimento psicológico ou psiquiátrico pelo SUS — um aumento de quase 40% em comparação com o ano anterior.
Entre os casos mais recorrentes estão sintomas de ansiedade, depressão e comportamentos de automutilação. Especialistas apontam que os sinais de sofrimento emocional são cada vez mais percebidos por familiares, escolas e pelos próprios jovens, que agora têm mais liberdade para expressar suas angústias.
O caso de Thiago (nome fictício), policial militar da reserva e pai de um adolescente de 16 anos, exemplifica essa realidade. O jovem, isolado devido à doença do pai, desenvolveu depressão agravada pelo bullying escolar e pelo vício em videogames — que se tornaram uma forma de escapar da realidade. “Notei algo errado quando ele quase não saía do quarto. Depois, vieram os comentários sobre desistir da vida”, contou o pai, que agora acompanha o tratamento psiquiátrico do filho.
O impacto das telas
De acordo com a psicóloga Thaís Plácido, o uso excessivo de telas é um dos principais fatores ligados ao aumento da ansiedade em crianças e adolescentes. “A tecnologia reduz o contato com o mundo real e intensifica estímulos isolados de interações humanas. Isso afeta diretamente o sono, a atenção e o comportamento”, explica.
Mesmo diante de um cenário preocupante, especialistas enxergam um lado positivo: o tema saúde mental tem ganhado mais visibilidade, o que encoraja jovens a buscarem ajuda e reduz o estigma que antes cercava os transtornos emocionais. “Hoje falamos mais sobre isso. A busca por diagnóstico e tratamento é, em si, um sinal de avanço”, completa Thaís.
Ela alerta ainda que o sofrimento emocional nem sempre é verbalizado: sinais como irritação frequente, isolamento, queda no desempenho escolar e tristeza prolongada devem ser levados a sério. Em casos mais graves, surgem falas sobre não querer mais viver.
Transtornos em alta
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 10% e 20% dos adolescentes no mundo enfrentam algum tipo de transtorno mental. A ansiedade já figura como a 8ª principal causa de incapacidade entre jovens, enquanto a depressão aparece em 9º lugar. No Brasil, a ansiedade é uma das condições mais diagnosticadas na juventude.
O psiquiatra Thiago Blanco explica que nos adolescentes o transtorno de ansiedade costuma se manifestar por medos exagerados e preocupações que afetam o desempenho escolar, os relacionamentos e o bem-estar. “O tratamento exige um cuidado contínuo, com apoio familiar, equipe especializada e, em alguns casos, o uso de medicamentos”, reforça.
Rede de cuidado
O Sistema Único de Saúde (SUS) tem ampliado sua rede de acolhimento à saúde mental. Além das mais de 1.700 Unidades Básicas de Saúde com atendimento psicossocial no país, há cerca de 250 Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenis (Capsi) espalhados pelos estados, que atendem gratuitamente crianças e adolescentes.
Os Capsi oferecem escuta individual e em grupo, além de suporte às famílias. Em casos mais complexos, o acesso pode ser complementado com serviços como o Centro de Atenção Psicossocial geral, o atendimento em hospitais-dia e práticas integrativas como meditação, musicoterapia e ioga, que também já fazem parte do SUS.
📸 Arte: Metrópoles
📰 Fonte: Ministério da Saúde, Organização Mundial da Saúde, Metrópoles
#SaúdeMental #Ansiedade #Depressão #Infância #Adolescência #Capsi #SaúdePública #Tecnologia #TranstornosMentais #Brasil