Um novo estudo publicado neste domingo (1), na revista Proceedings of the National Academy of Science, mapeou a atividade cerebral de quatro pacientes enquanto eles morriam após sofrerem paradas cardíacas no centro médico Michigan Medicine, nos Estados Unidos.
Depois da remoção do suporte ventilatório, dois dos pacientes apresentaram aumento da frequência cardíaca, juntamente com um surto de atividade de onda gama — considerada associada à consciência e a atividade cerebral mais rápida.
O resultado pode explicar como o cérebro de uma pessoa pode reproduzir memórias conscientes mesmo depois do óbito. Tais episódios da “vida passando diante dos olhos” fazem parte de relatos com características comuns que sugerem uma consciência ainda presente após o coração parar de bater.
Os quatro indivíduos que fizeram parte do estudo estavam em coma e sem resposta. Eles estavam determinados a não receber ajuda médica e, com a permissão de suas famílias, foram removidos dos aparelhos de suporte de vida.
Os dois pacientes que tiveram aumento da atividade cerebral gama apresentaram isso na chamada zona quente de correlatos neurais da consciência, que reúne os lobos temporal, parietal e occipital. Esta área posterior do cérebro tem sido correlacionada com sonhos, alucinações visuais da epilepsia e estados alterados de consciência em outros estudos.
Além disso, a dupla de pacientes tinha relatos anteriores de convulsões, mas nenhuma convulsão ocorreu na hora anterior às mortes, segundo explica Nusha Mihaylova, professora clínica associada do Departamento de Neurologia da Universidade de Michigan.
Desde 2015, Mihaylova coleta dados de eletroencefalografia de pacientes falecidos sob cuidados na UTI, em colaboração com Jimo Borjigin, professor associado do Departamento de Fisiologia Molecular e Integrativa e do Departamento de Neurologia, que lidera a nova pesquisa.
O estudo é uma continuação de outras pesquisas em animais conduzidas há quase dez anos em conjunto com George Mashour, diretor fundador do Centro de Michigan Pela Ciência da Consciência.
“Como a experiência vívida pode emergir de um cérebro disfuncional durante o processo de morte é um paradoxo neurocientífico. O Dr. Borjigin liderou um estudo importante que ajuda a lançar luz sobre os mecanismos neurofisiológicos subjacentes”, disse Mashour, em comunicado.
Segundo o especialista, não é possível correlacionar as assinaturas neurais de consciência observadas com as experiências dos pacientes. No entanto, para ele, as descobertas “são definitivamente empolgantes e fornecem uma nova estrutura para nossa compreensão da consciência encoberta em humanos moribundos”.
Assinaturas semelhantes de ativação gama foram registradas nos cérebros moribundos de animais e humanos após perda de oxigênio seguida de parada cardíaca em outras pesquisas. Porém, os autores advertem contra fazer qualquer declaração global sobre seus resultados devido ao pequeno número de pacientes observados neste estudo.
Os cientistas também dizem ser impossível saber o que os indivíduos experimentaram pelo motivo óbvio de que eles não sobreviveram. Estudos multicêntricos maiores podem ajudar a determinar se as explosões na atividade do cérebro são ou não sinais de consciência perto da morte.
Fonte: Revista Galileu – Foto: MART PRODUCTION/Pexels