Aumento da população em situação de rua preocupa moradores e comerciantes de Matozinhos; Prefeitura responde sobre ações

Por Dentro De Tudo:

Compartilhe

O número crescente de pessoas em situação de rua em Matozinhos tem gerado preocupação entre moradores e comerciantes, especialmente nas regiões centrais da cidade. A migração desses indivíduos da Praça São Sebastião para a Praça Bom Jesus tornou o problema ainda mais visível e motivo de intensos debates na comunidade.

A convivência tem sido marcada por episódios de brigas, ameaças e situações que geram insegurança, inclusive em plena luz do dia. Pelas redes sociais, moradores e comerciantes compartilham relatos de violência verbal em locais públicos e comportamento agressivo. Vídeos que circulam nas plataformas digitais reforçam a sensação de medo. Muitos afirmam que já não se sentem à vontade para frequentar as praças da cidade.

“Vimos dois moradores em situação de rua se atracando de forma muito perigosa. A gente não sabe se estavam sob efeito de drogas ou álcool, e não dá para intervir. Já presenciamos um deles atravessando a rua de repente, como se o espaço fosse só deles — e o motorista que se vire. Está complicado, pois já ouvi relatos de pessoas com receio de frequentar o centro por medo”, contou um comerciante que preferiu não se identificar.

Um morador usou a internet para questionar o que pode ser feito de forma imediata. “Precisamos de alguma ação urgente. Essa população está crescendo. O que as autoridades podem fazer? A polícia tem uma base móvel no centro, justamente onde tudo acontece”, escreveu.

O que diz a Prefeitura de Matozinhos

Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Matozinhos, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, respondeu aos principais questionamentos sobre a situação:

• Quais ações estão sendo adotadas para acolher essa população?

“Temos realizado ações para conhecer melhor o perfil das pessoas em situação de rua na cidade, com o objetivo de oferecer benefícios socioassistenciais que realmente façam diferença. É importante destacar que essas pessoas têm o direito de estar nas ruas. Não podemos agir de forma arbitrária para retirá-las de lá. Por outro lado, elas também têm deveres como qualquer cidadão. A manutenção da ordem e da segurança pública é responsabilidade de todos. Por isso, em situações de desordem, é fundamental que a população acione os órgãos competentes. A Assistência Social não atua nesse campo, mas sim no suporte social”, informou a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Rita de Cássia.

• Há algum programa em andamento para atendimento psicossocial, tratamento de dependência química ou reintegração familiar?

“Sim. Um projeto será implementado a curto prazo e envolverá a assistência social, abordagens psicossociais, encaminhamento para tratamento de dependência química, cuidados com a saúde, reintegração familiar, social e no mercado de trabalho. A ação será realizada de forma intersetorial, com participação das áreas de Desenvolvimento Social, Saúde e Defesa Social.”

• Existe parceria com outras instituições, como a Polícia Militar, o Ministério Público ou ONGs?

“Sim. O trabalho em rede já acontece de forma natural, diante do impacto social envolvido. Cada instituição contribui dentro de suas competências.”

• Há um levantamento recente sobre o número de pessoas em situação de rua na cidade?

“Na última busca ativa, realizada em junho, foram identificadas nove pessoas. Porém, sabemos que o número real pode ser maior, por dois motivos:

  1. Muitas pessoas se escondem quando percebem a aproximação de equipes de assistência;
  2. Há casos de indivíduos que aparentam estar em situação de rua, mas retornam às suas casas diariamente.”

• O que está sendo feito neste momento?

“Estamos realizando abordagens e oferecendo os benefícios socioassistenciais já disponíveis. Também estamos trabalhando nas ações intersetoriais para viabilizar o programa que será referência no atendimento à população em situação de rua. É preciso lembrar que estamos diante de um problema estrutural e histórico, que envolve falta de moradia, educação, oportunidades e as desigualdades sociais geradas pelo sistema. Precisamos fortalecer diversas políticas públicas. Estamos caminhando.”

E a Polícia Militar?

A reportagem também procurou o comando da 11ª Companhia Independente da Polícia Militar, diante das menções feitas por moradores à presença da Base Comunitária na Praça Bom Jesus.

Segundo o tenente-coronel Bastos: “Os moradores de rua citados já foram abordados e encaminhados para a Delegacia. Porém, é preciso frisar que a PM só atua quando há crime. O simples fato de estarem na praça, falando alto, não é motivo para intervenção policial. Essa é uma questão social”.

Situação no Brasil

Em março de 2025, o Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) registrou 335.151 pessoas vivendo em situação de rua no Brasil, um aumento de 0,37% em relação a dezembro de 2024, quando eram 327.925  . Esse número representa um crescimento de cerca de 14,6 vezes em relação a dezembro de 2013, quando havia cerca de 22.900 pessoas nessa condição  .

A composição demográfica desse universo revela um perfil marcante: cerca de 88% têm entre 18 e 59 anos, 9% são idosos e 3% são crianças ou adolescentes  . A incidência masculina é majoritária — 84% do total.

Do ponto de vista econômico, a situação é alarmante: 81% da população em situação de rua sobrevive com até R$ 109 por mês, o equivalente a apenas 7,18% do salário mínimo de R$ 1.518  . Quanto à escolaridade, 52% não completaram o ensino fundamental, sendo a maioria pessoas negras, índice que mais do que dobra a média nacional de 24%  .

Geograficamente, a distribuição segue concentrada: cerca de 63% vivem na Região Sudeste (aproximadamente 208.791 pessoas), seguidos pelas demais regiões — Nordeste (14%), Sul (13%), Centro-Oeste (6%) e Norte (4%)  . Entre os estados, São Paulo lidera com aproximadamente 42,8% do total, seguido por Rio de Janeiro e Minas Gerais, com cerca de 30.300 pessoas em situação de rua.

#Matozinhos #PopulaçãoDeRua #PraçaBomJesus #Segurança #AssistênciaSocial #PolíticasPúblicas

Encontre uma reportagem