Baianas Ozadas – JP Sofranz.
Protagonista e referência da folia na capital, o bloco que desfila na segunda-feira traz o tema de valorização das mulheres enquanto lança duas novas canções autorais, provando suas raízes na cultura baiana matriarcal e se afirmando como o maior representante do carnaval baiano fora da Bahia
O Baianas Ozadas confirma o seu desfile para a segunda-feira de carnaval, 03 de março. A concentração será às 08h, na Avenida Afonso Pena, em frente à Igreja São José, que receberá a tradicional lavagem das escadarias antes de a folia começar. Com o tema “Mulher, você gera o mundo: mais respeito, mais amor”, o bloco celebra a força feminina e em prol do respeito e igualdade contra o assédio e todas as formas de violências contra as mulheres. Além disso, de cima do trio elétrico, acompanhada pela bateria e ala de dança, a banda vai homenagear os 40 anos do Axé Music.
O bloco vai apresentar duas novas canções na avenida. A música tema “Mais respeito, mais amor” celebra as quatro décadas do Axé Music, enquanto “Yayá Marabô,” uma parceria entre Geo Ozado e os baianos Pablo Moraes e Priscila Magalhães, aparece como uma cantiga de amor em homenagem a Iemanjá; esta última mistura no arranjo o ijexá e o samba reggae, dois dos ritmos mais tradicionais da Bahia. Além disso, para o cortejo de 2025, o Baianas Ozadas promete desfilar na avenida com integrantes usando mamães-sacodes, adereços de mãos muito lembrados e utilizados nas folias baianas entre os anos 70 e 90.
O baiano Geo Ozado, fundador e vocalista, destaca a importância do Axé Music para o bloco. “Considero o Baianas Ozadas filho e fruto deste movimento, pois vive o auge dele no final dos anos 80 e meados de 90 nos carnavais da Bahia. O Baianas em BH é quem melhor reproduz com verdade na música, estética e ritos o que é a diversidade do carnaval baiano, com toda sua pluralidade e muita reverência a esta ancestralidade contemporânea. Vamos além Axé Music, pois acredito que o movimento nada seria sem os blocos afros, a invenção do trio elétrico de Dodô e Osmar e os eternos carnavais que completa 75 anos, o aparecimento de Moraes Moreira como primeiro cantor de trio até surgir Luiz Caldas e diversos outros artistas que são estrelas do carnaval de Salvador”, conta.
Nestes 13 anos de história, bloco já homenageou muitas destas figuras importantes da Axé Music em seus cortejos, como Luiz Caldas em 2013, os 40 carnavais de blocos afros em 2015, Moraes Moreira em 2017, Carlinhos Brown em 2018, Olodum em 2019, Daniela Mercury em 2023 e na última folia o Araketu. “Estas nossas homenagens são nossa forma de reverenciar e exaltar quem vem primeiro. O Baianas Ozadas é um bloco pautado no respeito à ancestralidade afro-baiana. Sem ela não existiria Axé Music, já que todo o ritmo e grande parte da literatura nascem dos terreiros, vielas e periferias de Salvador. Tanto que dentro deste sagrado na folia, realizamos com muito zelo e orgulho as Lavagens da Escadaria da Igreja de São José, em reverência às águas de Oxalá na Lavagem do Bonfim, que anunciam e abrem o período festivo para o carnaval”, defende Geo Ozado. “Pode-se dizer que somos a herança de uma diáspora desta cultura baiana do carnaval!”, complementa.
O Axé Music, gênero musical que surgiu na Bahia no início dos 1980, completa 40 anos em 2025. O termo, que surgiu de um deboche de certo jornalista da imprensa baiana de forma pejorativa, acabou caindo no gosto do público e deu nome ao movimento. Da mistura de ritmos como frevo, ijexá, galope junino, reggae até a criação do samba reggae pelo Olodum, o axé se tornou um fenômeno nacional, embalando gerações e se tornando sinônimo de alegria e energia. Artistas pioneiros como Luiz Caldas, Sarajane, Gerônimo, Margareth Menezes, Daniela Mercury, e bandas como Chiclete com Banana, Cheiro de Amor, Eva e Asa de Águia, além dos afros Olodum, Ilê Aiyê e Timbalada, são ícones imortalizados desta época de ouro do carnaval da Bahia e foram fundamentais para a consolidação e popularização do gênero.
O Araketu, liderado inicialmente por Tatau, teve um papel crucial na evolução do axé, trazendo uma fusão inovadora de ritmos afro-baianos com pop e reggae, e sendo considerados os criadores de uma linguagem afro pop, em que a banda do Baianas Ozadas muito se inspira. “Este afro pop é a base de Yayá Marabô, que traz uma fusão de ritmos tradicionais como o ijexá que remonta aos primeiros afoxés e cortejos do carnaval da Bahia com o samba reggae de Neguinho do Samba, que dialogou com Michael Jackson, Paul Simon e ganhou o mundo. Somos o bloco no carnaval de Beagá que mais tocamos ijexá. Temos de dizer isso, porque representa a tradição que veio primeiro, muito presente nas nossas lavagens, no nosso rito de início do cortejo, por trazer a calmaria junto com a alegria e orientar a energia que queremos levar para o público na nossa festa”, diz Geo Ozado.
Segundo o criador e mentor do bloco, o Baianas Ozadas nasceu com a missão de trazer um pouco da Bahia para as ruas de Belo Horizonte, e ao longo dos anos nos tornamos uma ponte cultural entre essas duas regiões tão ricas do Brasil. “Vemos nossa responsabilidade em manter viva a tradição do axé, ao mesmo tempo em que nos integramos à identidade única do Carnaval mineiro. Somos mais que um bloco, somos um movimento que une ritmo, consciência social e alegria. Ver as ruas de BH pulsando ao som do nosso axé, com pessoas de todas as idades e origens unidas em celebração, é a realização do sonho que partilhamos com a cidade e para o qual nos preparamos grande parte do ano. E ter a ‘pipoca’ acompanhando o nosso trio, cantando e dançando ao som da banda e da bateria é de arrepiar. Para entender o Baianas Ozadas não basta ver, é preciso ver viver. Este ano, ao homenagear os 40 anos do axé e levantar a bandeira do respeito às mulheres, sentimos que estamos cumprindo nosso papel não apenas como agentes culturais, mas como catalisadores de mudanças positivas na sociedade e mergulhamos fundo nos conceitos e origens de uma Bahia matriarcal. Como disse Caetano numa de suas canções ‘Bahia Mãe Preta’”, acredita Geo Ozado.
Mais respeito, mais amor
Reconhecendo-se como um bloco de forte presença feminina, o Baianas Ozadas entende que a valorização e defesa dos direitos das mulheres é um “fundamento” que deve ser conscientemente trabalhado no Carnaval. O bloco, que historicamente celebra a força da mulher baiana, empregará sua tradicional música e dança para amplificar mensagens de respeito e equidade.
Com a música tema “Mais respeito, mais amor”, de autoria do fundador do bloco, Geo Ozado, e interpretada pelas talentosas Lizza Freitas e Mirela Saad, o Baianas Ozadas incorpora em sua performance uma crítica à cultura do machismo estrutural. O tema ganha espaço nas redes sociais do bloco com uma série de vídeos e conteúdos, elaborados sob a orientação da consultora Maíra Fernandes, especialista em equidade de gênero e interseccionalidades, que já esteve à frente da equipe do programa estadual “Fale Agora” e atualmente desenvolve trabalhos junto à ONU Brasil sobre a temática.
“Mulher, você gera o mundo: mais respeito, mais amor” não é apenas um tema, é um chamado à ação. O Carnaval deve ser um espaço de liberdade e alegria para todos, especialmente para as mulheres. Com nossa música ‘Mais respeito, mais amor’, queremos conscientizar e transformar comportamentos. O Baianas Ozadas sempre teve uma forte presença feminina, desde nossas dançarinas até nossas percussionistas, e entendemos nossa responsabilidade em promover um ambiente seguro e respeitoso. Este ano, mais do que nunca, estamos comprometidos em usar nossa voz para combater o machismo e celebrar a força das mulheres”, explica Geo Ozado.
Para Maíra Fernandes, o tema deste ano é de extrema relevância para ser discutido não só no carnaval, mas todos os dias do ano. “As mulheres sofrem violência todos os dias por serem mulheres. Ainda existe na nossa sociedade essa ideia machista de que o corpo da mulher está à disposição para ser tocado, para ser usado, e não é verdade. Infelizmente, muitos homens, não todos, mas ainda muitos homens, ficam insistindo em cantadas mesmo depois do não, tentam passar a mão, forçam um beijo ou outro contato íntimo, e isso fere a dignidade das mulheres. As mulheres deveriam se sentir seguras para poder sair, beber, curtir os cortejos com suas amigas e amigos, sem esse medo de serem violentadas. Então, quando Baianas Ozadas traz essa valorização do feminino, do respeito ao corpo das mulheres, está contribuindo para que a gente transforme essa sociedade, a torne mais segura e, de fato, mais igualitária”, finaliza.
Serviço
Desfile do Baianas Ozadas
• Data: segunda-feira de Carnaval, 03 de março de 2025
• Horário: concentração a partir das 8h, com início às 9h
• Local: Avenida Afonso Pena, Belo Horizonte, com concentração em frente à Igreja São José.