Socorristas do Corpo de Bombeiros resgataram um homem na região Nordeste de Belo Horizonte, nesta sexta-feira (21), após o quarto em que ele estava pegou fogo. A vítima sofreu queimaduras de 1º e 2º grau e foi levada estável pelo Samu a um hospital.
Segundo o registro da ocorrência, o homem acordou com o colchão em que dormia em chamas. A suspeita é de que possa ter ocorrido uma tentativa de autoextermínio no local, já que frases em tom de despedida foram encontradas em uma das paredes.
Ainda não foi possível confirmar com a vítima o que realmente ocorreu. No entanto, especialistas recomendam escuta ativa e atenta para evitar que pessoas tirem as próprias vidas.
Segundo o psiquiatra Humberto Müller, 16 milhões de tentativas de suicídio ocorrem por ano em todo o mundo. “No Brasil, acontece uma morte por suicídio a cada 45 minutos, mas para cada morte temos outras 20 tentativas. Os números são altos e preocupantes”, explica o especialista de Rondônia.
Humberto apresentou dados sobre o suicídio a nível global ontem (20) durante a primeira audiência do grupo de trabalho da Câmara dos Deputados destinado ao assunto. Os especialistas discutirão nos encontros o aumento de suicídios, automutilação e problemas psicológicos entre jovens brasileiros.
‘Falar sobre morte é falar sobre possibilidades de vida’
A depressão é uma das doenças que pode levar alguém a cometer autoextermínio. No entanto, não é a única.
Ao BHAZ, a especialista em saúde mental Thaís Alves explica que outros transtornos mentais e processos dolorosos, além da dependência química, também podem levar a tendências suicidas. Ela relata que tirar a própria vida está entre as cinco causas de morte com maior ocorrência no mundo. E crava: é preciso discutir o assunto, de forma responsável, cada vez mais. “Falar sobre morte é também falar sobre possibilidades de vida”, diz.
“O suicídio é algo que acompanha e atravessa a existência humana desde seus primórdios. Diversas ciências se propõem a pensar a existência e há bastante material sobre o assunto. Ainda assim, até hoje é muito difícil falar sobre esse problema e enfrentá-lo”, pondera a psicóloga.
“O suicídio ocorre quando o individuo tem dificuldade em lidar com problemas do campo da perda de possibilidades, dos laços. A morte é vista como uma forma de atenuar o sofrimento. Não trata-se de um interesse pela morte em si, mas de encará-la como um meio para uma finalidade”, conta Thais.
A especialista aponta o fato de o autoextermínio ser considerado um tabu, por diferentes motivos, como uma das dificuldades de se discuti-lo de forma mais abrangente. “Muitas pessoas não querem falar sobre, existe um estigma relacionado às pessoas que se matam e que têm tendências suicidas. Mas é urgente tratar desse assunto, os números nos alertam”, afirma.
A Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados aprovou, nesta sexta-feira (21), projeto de lei que institui legalmente a campanha Setembro Amarelo, de prevenção à automutilação e ao suicídio, a ser realizada em setembro de cada ano em todo o País.
O projeto também estabelece o dia 10 de setembro como o “Dia Nacional de Prevenção do Suicídio” e a data de 17 de setembro como o “Dia Nacional de Prevenção da Automutilação”.
Como ajudar quem precisa?
Segundo o psicanalista e psicólogo Eduardo Lucas Andrade, o julgamento é uma forma de abandono para pessoas vulneráveis. “É necessário acolher e ter escuta atenta a essas pessoas para que haja possibilidade de tratamento. Não é só falar, é realmente estar junto e procurar tratamento”, explica.
“Muitas pessoas não buscam por receio, por medo, muitas não conseguem falar sobre e outras evitam justamente para não lidar com o olhar preconceituoso do outro. Não tem isso de ‘doença de rico’, de estar com o ‘diabo no corpo’. Essa postura só ataca o indivíduo e não ajuda em nada”, pondera.
“A pessoa pode não falar abertamente sobre a doença, mas ela ‘diz’ de outras formas. Um exemplo são frases de alerta e autodestrutivas”, conta. Leia a entrevista completa.
Neste link, o BHAZ listou locais e iniciativas em Belo Horizonte em que as pessoas podem conseguir atendimento psicológico acessível. Veja abaixo outros serviços:
NASF-AB (Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica): O núcleo é formado por multiprofissionais que trabalham nas equipes de Saúde da Família e nos Centros de Saúde da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte). Os profissionais realizam terapia ocupacional e atendimento psicológico mediante agendamento no Centro de Saúde. O usuário deve solicitar o atendimento da ESF (Equipe de Saúde da Família).
CERSAM (Centro de Referência em Saúde Mental): Com funcionamento de 7h às 19h, o centro de referência abre todos os dias da semana, inclusive feriados. O serviço está disponível em diferentes regiões de Belo Horizonte. Oferece atendimentos próprios para cada caso, com presença de equipe multiprofissional, junto a oficinas e atividades culturais e de lazer.
Atendimento psicológico UniBH: A universidade oferece atendimento psicológico gratuito, feito pelos estagiários da Clínica Escola de Psicologia do UniBH, com supervisão dos professores. Qualquer pessoa interessada pode usufruir dos atendimentos individuais, para casais ou grupos, do plantão psicológico, e da avaliação psicológica. Os interessados devem preencher o formulário de inscrição para ter acesso às consultas presenciais ou remotas.
NAASP (Núcleo de Acolhida e Articulação da Solidariedade Paroquial): O núcleo surgiu por meio do projeto “Rede: Articulação da Sociedade”, da arquidiocese de Belo Horizonte. Na Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, o NAASP oferece atendimento psicológico para pessoas em situação de vulnerabilidade social, transeuntes, população de rua e paroquianos. O acolhimento é realizado mediante agendamento no telefone 31 3224-2270.
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