O número de mortes em acidentes na BR-040 – rodovia onde morreram os filhos do diretor do tradicional Colégio Bernoulli, nesta quarta-feira (17) – aumentou em 39% em apenas um ano. O levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT) apontou que 145 pessoas vieram a óbito por causa de acidentes na rodovia. O número é superior aos 104 casos registrados em 2020.
Para a especialista em trânsito Roberta Reis, os dados apontam que, não só a BR-040, mas as demais rodovias que passam pelo Estado de Minas Gerais, continuam a ser palco de tragédias. Segundo a especialista, este aumento pode estar associado ao comportamento dos condutores, que diante de vias vazias e do afrouxamento das normas de trânsito, se arriscam mais. “As pessoas aumentam mais a velocidade e isso tem como consequência uma maior letalidade”, aponta a especialista. Roberta indica ainda que as condições das rodovias também são fatores que colaboram e merecem preocupação. “A cada ano que passa, a tecnologia nos oferece mais elementos de segurança. Então, investir em infraestrutura é uma obrigação, um direito previsto no Código de Trânsito Brasileiro”, indica.
Os números preocupam Roberta, uma vez que o aumento de mortes em acidentes ocorreu durante o período de pandemia da Covid-19, quando medidas como o isolamento social e o home office foram adotadas, o que impactou na diminuição do número de veículos em circulação nas rodovias. “Isso pode ter causado uma falsa sensação de tranquilidade nas pessoas”, relata. A especialista também pontua que fatores como doenças psicológicas e o uso de bebidas alcóolicas podem ter afetado a saúde dos motoristas e colaborado para os números. “O que a gente viu foi um número crescente de pessoas usando antidepressivos e isso pode, sim, ter impactado”, justifica.
Milena e Stefano Ragazzi, que também eram ex-alunos da tradicional instituição de ensino de Belo Horizonte, passaram a fazer parte das estatísticas. Eles morreram na rodovia enquanto voltavam do entrerro da avó. O carro em que estavam bateu de frente com uma carreta, próximo ao posto da Polícia Rodoviária Federal, em Três Marias. O veículo ficou completamente destruído pela força do impacto. Os corpos estão sendo velados nesta quinta-feira em um cemitério de Belo Horizonte. A cerimônia foi reservada aos familiares e amigos. “Ninguém deveria morrer em acidentes de trânsito, isso porque eles são evitáveis. Quando a gente analisa uma morte no trânsito, a gente percebe que várias coisas falharam”, completa a especialista.
O estudo, realizado pela CNT, apontou também um aumento no número de acidentes com vítimas na mesma rodovia. Foram 1.517 registrados no ano passado. A média é de quatro acidentes por dia. Os dados revelam ainda um aumento de 6% em relação aos 1.424 de 2020. Para quem usa as rodovias do estado, seja para se deslocar ou a trabalho, as más condições do asfalto coloboram para os acidentes. “No trecho onde o acidente ocorreu tem muita trepidação, que passa pouco perceptível para quem está em carros de passeio devido o sistema de amortecimento”, relata o caminhoneiro Kilder Fonseca Campos, que a cerca de doze anos trabalha com o transporte de alimentos e de produtos de limpeza pelas rodovias do Estado.
Para o caminhoneiro, a situação da rodovia BR-040 é ruim, considerando se tratar de uma via pedagiada. Kilder relata, segundo a sua experiência, que a situação só não é pior que as das rodovias BR-262 e BR-381. “Ninguém sai de casa com a intenção de matar ou de morrer, mas as condições das rodovias colocam todo mundo diante do risco”, desabafa. Além da precariedade e da falta de manutenção, ele acredita que também faltam cuidados em relação a direção defensiva dos motoristas e das condições dos veículos que passam pelas rodovia. “É um trecho muito cansativo, que dá muita fadiga. As vezes tem muitos motoristas com sono, o carro não está adequado”, alerta.
A especialista em trânsito Roberta Reis, acredita que uma rodovia mais segura não está associada somente as condições de infraestrutura, mas também ao comportamento dos condutores. “Não adianta ter um bom asfalto, barreiras de contenção, se o motorista não é cauteloso na direção e o veículo não está em condições adequadas”, alerta. Roberta lembra que a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) é um documento concedido e não um direito. “Os cuidados que nós condutores devemos tomar são os básicos, são obrigações. Ainda que eu não concorde ou ache exagerado, se está estabelecido, eu tenho que cumprir”, afirma.
A motorista Helian Fernandes, de 40 anos, que utiliza principalmente as rodovias BR-381 e BR-040, aponta que a imprudência dos demais condutores é perceptível durante as viagens. Ela alerta que mesmo diante de todas as adversidades que as rodovias possuem, como asfalto ruim e falta de sinalização, é comum presenciar motoristas arriscando. “É ultrapassagem em local proibido, é veículo em condições ruins”, relata.
O que dizem os responsáveis
A Via 040, que é responsável pelo trecho entre os km 0, em Paracatu, e o km 771, em Juiz de Fora, afirma que tem realizado diversas melhorias no pavimento, na sinalização, nos sistemas de drenagem e nos dispositivos de segurança para oferecer melhores condições aos usuários. As obras tiveram início em 2014, quando a rodovia foi concedida.
Além disso, a Conessionária aponta que desenvolve diversas ações voltadas à prevenção de acidentes e a conscientização dos motoristas. As campanhas são feitas junto a Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Militar Rodoviária (PMRV), SEST SENAT, Agência Nacional de Transporte Terreste (ANTT), BHTrans e prefeituras ao longo trecho.
“O NIA, Núcleo de Investigação de Acidentes, promovido pela empresa, investiga a causa raiz de cada acidente fatal e, com a participação de autoridades de trânsito como PRF e PMRV, propõe ações específicas para mitigar novas ocorrência”, disse em nota. A Via 040 diz que o número de acidentes reduziu em cerca de 67% no período em que assumiu a administração da rodovia. A queda em acidentes fatais foi de 34%.
A Polícia Rodoviária Federal, que é responsável pelas atividades de trânsito nas rodovias do país, informou que não irá se pronunciar durante o período eleitoral.
Fonte: O Tempo.















