Câncer de colo do útero: vacina muda vida de jovens e reduz quase 60% dos casos mesmo com vacinação abaixo do ideal

Por Dentro De Tudo:

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O mês de outubro é amplamente reconhecido por celebrar a prevenção do câncer de mama, mas, nos últimos anos, também se tornou uma data importante para a conscientização sobre o câncer de colo do útero, uma doença que afeta milhões de mulheres em todo o mundo. Recentemente, um estudo de cientistas brasileiros destacou o impacto positivo da vacina contra o HPV na prevenção do câncer de colo do útero no Brasil, apresentando resultados promissores a um ano do 20º aniversário da vacina. Apesar dos avanços, a vacinação ainda é insuficiente, principalmente entre populações de baixa renda e em meio aos desafios impostos por movimentos antivacina.

O câncer de colo do útero é uma das doenças mais comuns entre mulheres e, por ser causado quase exclusivamente pelo vírus HPV (papilomavírus humano), a vacinação se torna uma estratégia crucial para a sua prevenção. A primeira vacina contra o HPV foi aprovada em 2006 e demonstrou uma significativa redução na incidência do câncer em países de alta renda, alcançando até 90% de diminuição. Contudo, o acesso à vacina permanece restrito em muitos países, com 95% das nações ricas implementando programas nacionais de vacinação, enquanto apenas 45% dos países em desenvolvimento, como o Brasil, fazem o mesmo.

No Brasil, a vacina está disponível gratuitamente desde março de 2014 e inicialmente obteve uma adesão quase total entre meninas. No entanto, campanhas de desinformação impactaram negativamente a confiança pública, resultando em uma queda na cobertura vacinal. Em 2022, apenas 75% das meninas e metade dos meninos foram vacinados contra o HPV. O Ministério da Saúde prioriza a vacinação de meninas e meninos de 9 a 14 anos, que receberão apenas uma dose a partir de 2024, considerada suficiente para a proteção. De modo excepcional, o acesso foi ampliado até dezembro de 2025 para adolescentes de 15 a 19 anos que não foram vacinados anteriormente.

O impacto da vacina em países de baixa renda tem sido um foco recente de pesquisa. Um estudo publicado na revista The Lancet Global Health analisou o efeito da vacinação após dez anos de implementação no Brasil, utilizando dados do Sistema Único de Saúde de mulheres com idades entre 20 e 24 anos. A pesquisa revelou que o grupo de mulheres elegíveis para vacinação apresentou uma redução de 58% nos casos de câncer de colo do útero e de 67% nas lesões precursoras, quando comparado a mulheres que não eram elegíveis para a vacina.

Entretanto, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos, como a resistência ao movimento antivacina, que se intensificou durante a pandemia, e a dificuldade em detectar precocemente o câncer de colo do útero. A falta de programas organizados de rastreamento resulta em uma subnotificação de lesões pré-cancerosas, especialmente entre mulheres jovens e de grupos socioeconômicos mais vulneráveis.

Os resultados da pesquisa confirmam a eficácia da vacina contra o HPV na redução do câncer de colo do útero, evidenciando seu impacto positivo no Brasil. Essa base científica fortalece as políticas de saúde pública, demonstrando os benefícios da imunização. A vacinação é um direito das crianças e uma medida essencial de proteção à saúde. Para garantir a eliminação do câncer de colo do útero, é fundamental unir ciência, informações de qualidade, políticas públicas robustas e um compromisso coletivo com a saúde.

Esta pesquisa faz parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde Digital (INCT DigiSaúde, apoiado pelo CNPq). Thiago Cerqueira-Silva recebe financiamento da Royal Society. Manoel Barral-Netto recebe financiamento da FAPESB, CNPq e da Rockefeller Foundation. Viviane Boaventura é bolsista do CNPq.

Fonte: g1
Crédito da foto: Adobe Stock

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