Mais de 108 mil mulheres com menos de 50 anos foram diagnosticadas com câncer de mama no Brasil entre 2018 e 2023, resultado que representa uma média de uma em três mulheres diagnosticadas com a doença, conforme dados do Painel Oncologia Brasil, analisados pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem. Em 2018, foram registrados 40.953 diagnósticos, número que aumentou para 65.283 em 2023, evidenciando um aumento de 59% em seis anos.
Esse crescimento no número de diagnósticos ressalta a necessidade de tratamentos acessíveis e eficazes, além de abrir um espaço para uma questão pouco compreendida: o apoio psicossocial às mulheres que enfrentam o câncer de mama. O acolhimento e a presença de uma rede de apoio impactam significativamente na qualidade de vida das mulheres durante o tratamento. Os desafios que elas enfrentam incluem a falta de suporte prático nas tarefas do dia a dia e o abandono emocional, além das dificuldades na carreira profissional, uma vez que a doença e o tratamento podem afetar a situação no trabalho. Dados da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama, em parceria com DataFolha e AstraZeneca, mostram que uma em cada dez mulheres diagnosticadas com câncer de mama é abandonada pelo parceiro após a confirmação da doença e que 40% enfrentam demissões durante o tratamento, que pode envolver cirurgia, quimioterapia e radioterapia.
Essa falta de apoio pode levar à desistência do tratamento, o que agrava o prognóstico. O diagnóstico gera medo constante, tornando o acolhimento um dos passos mais importantes para o bem-estar da mulher e para o sucesso do tratamento. A psicóloga Lilian Bertges destaca que o ser humano que se sente acolhido está mais preparado para enfrentar situações adversas, afirmando que “por sermos seres sociáveis, sentir que não estamos sós é, por si só, um presente. Pertencer a um grupo, seja familiar, de amigos ou online, muda completamente o percurso da mulher com câncer”.
O apoio psicossocial é essencial na vida das mulheres acometidas pelo câncer de mama, pois oferece escuta e conforto. A rede de apoio pode ser composta por amigos, familiares e pela equipe médica, que geralmente é formada por profissionais de diferentes áreas, incluindo psicólogos. A história de Otávia ilustra a importância desse suporte. Após perder a irmã para o câncer de mama, Otávia enfrentou dificuldades ao receber seu próprio diagnóstico, especialmente ao saber sobre a metástase. Ela buscou apoio em redes sociais, onde encontrou mulheres que conviviam com a doença há mais de 15 anos. O diálogo com essas mulheres a ajudou a acreditar que era possível viver bem mesmo com a doença.
Otávia relata como passou a ter menos medo e vergonha de falar sobre o câncer, e como a acolhida de sua médica e de seu círculo familiar foi crucial para enfrentar o tratamento. Ela enfatiza a relevância de um atendimento humanizado, ressaltando a confiança que desenvolveu com sua oncologista, que lhe ofereceu até mesmo seu contato pessoal para eventuais dúvidas.
Essa sensação de não estar sozinha contribui para aliviar as inseguranças relacionadas às consequências do tratamento e reforça a coragem necessária para lidar com os efeitos colaterais. Os tratamentos para câncer de mama costumam incluir quimioterapia, hormonioterapia, cirurgias e radioterapia, exigindo um esforço considerável da saúde física e mental da mulher. O apoio psicossocial, portanto, é vital para o controle emocional, aceitação da doença, adesão ao tratamento e recuperação da autoestima.
Otávia conclui com uma mensagem de esperança: “O medo vem forte, mas não estamos sós. A cura começa quando decidimos acreditar ainda antes de ver. Há muita vida após o diagnóstico. O câncer não pode nos definir; ele não é sentença.”
Crédito da foto: Dra. Tatyene Nehrer de Oliveira, CRM-MG 34.218
Fonte: G1