Luciano Ferreira, de 50 anos, procurou atendimento médico motivado pela iminente perda de seu plano de saúde. Inicialmente, buscava resolver um problema estomacal, mas acabou saindo do consultório com a recomendação de realizar um exame de PSA, utilizado para rastrear o câncer de próstata. O resultado indicou uma leve alteração, e após um ultrassom que parecia normal, o urologista decidiu prosseguir com mais investigações, solicitando uma ressonância magnética. Ao abrir o exame em casa e se deparar com a palavra carcinoma, Luciano sentiu-se desolado. Ele recorda que chorou em segredo para não alarmar sua mãe e suas filhas. O tumor foi diagnosticado em 2022, em estágio inicial, e poucos meses depois Luciano se submeteu a uma prostatectomia radical, sem a necessidade de quimioterapia ou radioterapia. Atualmente, ele se considera sortudo por ter recebido um diagnóstico precoce e está há três anos em remissão, enfatizando a importância de exames de rotina como um cuidado essencial com a vida.
Dados do Ministério da Saúde revelam que o número de atendimentos por câncer de próstata em homens com até 49 anos aumentou em 32% entre 2020 e 2024, passando de 2,5 mil para 3,3 mil procedimentos registrados no Sistema Único de Saúde (SUS). A maioria desses casos envolveu quimioterapia, representando 84% dos atendimentos, seguidos por cirurgias (10% a 12%) e radioterapia (3% a 4%). O urologista Rafael Ambar, do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), destaca que esse crescimento é positivo, pois indica que mais homens estão buscando atendimento precocemente, o que aumenta as chances de cura. Embora o volume de atendimentos para homens acima dos 50 anos seja maior, totalizando 250 mil em 2024, o crescimento proporcional foi menor.
Em relação à mortalidade, a Sociedade Brasileira de Urologia reportou que o Brasil registrou 17.587 mortes por câncer de próstata em 2024, o que corresponde a 48 óbitos diários, representando um aumento de 21% em uma década. O urologista Luiz Otávio Torres, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), alerta que o câncer de próstata é uma doença silenciosa, frequentemente diagnosticada em estágios avançados. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que, em 2025, haverá 71,7 mil novos casos, tornando essa a forma mais comum de câncer entre homens, atrás apenas do câncer de pele.
Roberto Gil, diretor-geral do INCA, ressalta que o aumento no número de casos diagnosticados se deve principalmente ao envelhecimento da população e à ampliação do acesso a exames, como o PSA e a biópsia prostática, e não a um risco maior de adoecimento. Ele explica que esse crescimento reflete a maior capacidade do sistema de saúde em detectar e registrar casos que antes eram ignorados.
O câncer de próstata ocorre quando as células da glândula prostática se multiplicam desordenadamente, formando um tumor que pode invadir tecidos vizinhos ou se espalhar para outros órgãos. Nos estágios iniciais, a doença não apresenta sintomas, reforçando a importância do rastreamento. Quando os sintomas aparecem, geralmente indicam um estágio avançado e incluem dificuldades para urinar, jato fraco ou interrompido, sangue na urina ou no sêmen, e dor ao urinar ou nos ossos.
O diagnóstico é realizado através de exames como o PSA e o toque retal, e, se houver suspeita, o urologista pode solicitar uma ressonância magnética multiparamétrica e uma biópsia para confirmação. Exames de rotina são recomendados a partir dos 40 anos para homens com histórico familiar de câncer de próstata, mama ou colorretal.
O tratamento varia de acordo com o estágio da doença, idade e condições de saúde do paciente. As principais estratégias incluem vigilância ativa, cirurgia, radioterapia, hormonioterapia e quimioterapia, com altas taxas de cura em casos diagnosticados precocemente.
O oncologista e diretor da Clínica First, Raphael Brandão, observa que a nova geração de homens está mais informada e busca atendimento médico de forma preventiva, quebrando tabus. No entanto, ele destaca que ainda existem desigualdades no acesso ao diagnóstico e tratamento, com o Sul e Sudeste apresentando melhores índices devido à disponibilidade de especialistas.
O Ministério da Saúde anunciou ações para ampliar o acesso ao diagnóstico e tratamento, incluindo a criação de novos centros e investimentos significativos até 2026.
Fonte: g1. Crédito da foto: Arquivo Pessoal.



















