O Brasil vive uma transição epidemiológica que deve mudar a principal causa de morte nas próximas décadas. Atualmente, as doenças cardiovasculares lideram as estatísticas, mas o câncer já supera esses índices em 15% das cidades brasileiras. É o que mostra levantamento do GLOBO com base nos dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. Em 2024, 836 municípios já registraram mais mortes por câncer do que por doenças cardíacas. Em 606 deles, os óbitos oncológicos lideram.
A mudança, segundo especialistas, segue uma tendência observada em países de alta renda, como Canadá, Austrália, Dinamarca e Uruguai. No Brasil, o avanço ocorre principalmente nas regiões Sudeste e Sul, que concentram 72% das cidades onde o câncer já é a principal causa de morte. Ainda assim, em todo o país, o número absoluto de mortes por doenças cardíacas (365.772) ainda supera o de câncer (238.477), com dados ainda parciais de 2024.
O cenário é impulsionado pela queda da mortalidade cardiovascular, que caiu de 305 para 172 óbitos por 100 mil habitantes desde 1980, ao mesmo tempo em que a taxa de mortes por câncer subiu de 86 para 112. A melhora no tratamento das doenças do coração e a ampliação da Atenção Primária à Saúde explicam parte da redução. No entanto, o avanço do câncer é impulsionado por fatores como tabagismo, consumo de álcool, obesidade, dieta pobre e poluição, além do envelhecimento populacional.
Outra preocupação é o aumento de diagnósticos em jovens adultos, muitas vezes em estágios avançados da doença, o que compromete o tratamento. Especialistas destacam que, apesar de leis que garantem o início do tratamento em até 60 dias, a realidade em diversas regiões do país é de demora superior a 100 dias. A mortalidade por câncer também é agravada pela dificuldade no diagnóstico precoce e pela desigualdade regional no acesso à saúde.
Ainda assim, medidas de prevenção — como combate ao sedentarismo, alimentação saudável, redução do estresse e abandono do tabagismo — são eficazes para reduzir os riscos tanto de câncer quanto de doenças cardíacas.
Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Fonte: O Globo
#câncer #doençascardíacas #saúdepública #epidemiologia #prevenção #sudeste #oncológica #brasil2024 #mudançadeperfil #diagnóstico #mortalidade