Os preços sobem, a renda cai, e o número de sacolas diminui. Essa equação é a realidade que se intensificou na vida do brasileiro entre o início do ano passado e o meio deste ano a cada ida ao supermercado. Itens básicos nas gôndolas dos supermercados, como arroz, feijão e até produtos de limpeza, tiveram reajustes entre 62% e 70% nesse período na região metropolitana de Belo Horizonte, segundo pesquisa dos sites Mercado Mineiro e ComOferta.com. A culpa está em uma equação que soma pandemia, instabilidade política e preço dos combustíveis, aponta especialista ouvido pela reportagem.
Segundo o levantamento, o pacote de 5 kg de arroz branco, que custava em média R$ 16,39 passou para R$ 27,06, um aumento de 65% entre janeiro de 2020 e junho de 2021. O desinfetante aumentou 62%, passando de R$ 2,58 para R$ 4,18 no período. Já a peça de 1 kg do queijo muçarela atingiu 70% de alta, subindo de R$ 16 para R$ 28.
Professor de economia do Ibmec-BH, Paulo Casaca explica que a alta dos preços está atrelada também ao aumento do preço da energia elétrica e dos combustíveis. “Os principais fatores são o aumento do combustível e da energia elétrica, que são itens fundamentais na construção da economia brasileira. Quando se fala no aumento da energia, a gente está falando do aumento do custo de produção dos bens no Brasil por conta do uso da energia elétrica para produção. E o combustível é usado em alguns sistemas produtivos, mas também no transporte”, analisa.
Mas a raiz do problema, na avaliação do especialista, é o tumultuado cenário político, que provoca a desvalorização da moeda nacional. “A instabilidade política e institucional gerada pelo governo federal tem contribuído muito para que o real continue desvalorizado. Como o petróleo é cotado em dólar, quando a gente converte o preço do barril para o real, o petróleo fica mais caro, o que faz com que os preços dos combustíveis não reduza”.
“Três sacolinhas, R$ 120”, reclama a aposentada Vânia de Oliveira, 70, ao sair de um supermercado no bairro Nova Suíça, na região Oeste da capital. “Está muito difícil, e o salário está daquele tamanhinho”, reclama. Paulo Casaca dá dicas para consumidores como Vânia tentarem amenizar o impacto da inflação no orçamento. “Quando possível, recomendaria privilegiar os produtores locais, que não têm gasto elevado com transporte. Outra medida seria eventualmente continuar economizando energia e combustível”, diz o economista.
O vendedor ambulante Eduardo Damasceno, 45, teve a renda fortemente impactada pela quarentena imposta pela pandemia. Desde então, tem sido cada vez mais difícil sair de carrinho cheio do mercado. “Não tem aquele item mais barato. Semana passada eu vim aqui. Os produtos de limpeza estão mais caros que nunca. E o leite está um absurdo. Falou que é carne, então, é artigo de luxo. Não sei como vamos chegar até o fim do ano”, diz.
A preocupação de Eduardo com o futuro se justifica, na avaliação do economista Paulo Casaca. “Como eu não vejo essa instabilidade política recuando nas próximas semanas e meses eu não vejo muita saída. Por outro lado, o preço do petróleo e, consequentemente dos combustíveis, deve se estabilizar, não vai ficar mais caro além do que estamos vendo”, detalha.
Com o carrinho praticamente vazio, a autônoma Ludmila Santos, 30, sai do supermercado sem tudo aquilo que precisa. “Um pouquinho de coisa de R$ 150. Tem que escolher o que a gente leva. A carne, a verdura e até desinfetante, cloro, subiram demais. Aí tem que dar prioridade para as crianças”. No horário do almoço, o motoboy Wallace Graciano, 25, foi ao supermercado atrás de mantimentos para complementar a dispensa e se assustou com os preços. “Os itens principais estão muito caros. De uns meses para cá aumentou demais. Você vem com um valor e leva cada dia menos coisa”, relata.