Após a tramitação do projeto de lei apresentado pelo deputado Franco Cartafina Gomes, do Estado de Minas Gerais, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a Lei nº 14.201, que inscreve o nome de Francisco Cândido Xavier no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria – O Livro de Aço – depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, concebido por Oscar Niemeyer e inaugurado em 1986 na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Francisco Cândido Xavier – o Chico Xavier – foi assim reconhecido como uma personagem fundamental na construção histórica brasileira. Uma honra em favor do espírita e filantropo brasileiro que dedicou toda a sua existência no planeta Terra para trazer a mensagem de Jesus e o conforto àqueles em provação ao longo da jornada.
Nascido em Pedro Leopoldo – região metropolitana de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais – em 02 de Abril de 1910, desde criança Chico Xavier já apresentava sinais da profunda mediunidade de serviço que faria de toda a sua vida uma jornada pela divulgação e estudo da Doutrina codificada por Allan Kardec (1804-1869), ainda que só viesse a melhor conhecê-la em meados de 1927.
Tendo os primeiros contatos mediúnicos com o espírito de sua mãe, falecida quando o médium ainda era criança, sua mediunidade de missão começa a ser orientada em 1931 pelo espírito de Emmanuel, seu guia, quando então, sob o lema “disciplina, disciplina e mais disciplina”, inicia-se um trabalho de psicografia que culmina com livros de profundo conteúdo doutrinário espírita, revelador da imortalidade da alma e da inadiável jornada do bem que a humanidade deve trilhar em favor de si mesma.
Outrossim, já em 1932, pela pena de sua mediunidade, sobrevêm a primeira edição da obra “Parnaso de Além Túmulo”, coletânea de poemas de autores brasileiros e portugueses, sucesso editorial como tantos outros títulos que traria, contribuindo no trabalho desvelador do ínterim de aprendizado e progresso infinito da humanidade em diferentes planos de existência. Ainda na década de 1930, sua mediunidade traz o clássico “Brasil, Coração do Mundo e Pátria do Evangelho”, de autoria espiritual do escritor e erudito brasileiro Humberto de Campos (1883-1934). Contudo, a viúva de Humberto ajuizou em face de Xavier e da Federação Espírita Brasileira (que editou a obra) ação declaratória indagando acerca de possíveis direitos de autor da obra psicografada, que, se julgada improcedente, trouxe repercussão ao tema da espiritualidade, fazendo com que o autor espiritual passasse a assinar em futuros escritos o pseudônimo “Irmão X”.
No início de 1959, para melhor estruturar seu trabalho espírita, Chico Xavier se transfere para Uberaba, no Triângulo Mineiro, onde viveu até o seu desencarne em 30 de Junho de 2002.
Após uma infância marcada por provações e desde cedo submetendo-se ao trabalho duro, Chico Xavier jamais abandonou seus deveres terrenos, despendendo diligente esforço para concretizar a missão de mediunidade e caridade apta a ensinar e afagar corações em sofrimento.
Se cidadão exemplar, em provação Chico Xavier não esteve livre da incompreensão de muitos, sendo alvo de atos não compatíveis em relação à sua obra, muitos dos quais revelando desconhecimento da natureza básica do espírito enquanto criação inefável da bondade do Criador.
Diante das adversidades – que foram muitas –, Chico sempre manteve-se altivo e respeitoso, nos ofertando o excelente exemplo de contrapor aos críticos a conduta de cidadão prestante – consta nunca ter faltado ao serviço – e mesmo nos momentos mais difíceis, não se indispôs, praticando o ensino do Mestre Jesus da não crítica, do não julgamento e da recompensa a cada um segundo as suas obras, alicerçando ainda mais seu trabalho com inúmeras obras de filantropia, corroborando o excerto do Evangelho de Tiago (2:14-26), no qual “fé sem obras é morta”, e o próprio axioma fundamental kardequiano, a nos ensinar que “fora da caridade não há salvação”.
Seja na produção dos mais de quatrocentos livros que sua mediunidade psicográfica de diferentes espíritos trouxe – acredita-se que com nova organização possa superar os quinhentos títulos –, seja apenas no consolo àqueles a quem fraternalmente recebia, abraçava e dedicava todo o seu tempo terreno, ao lado de problemas sérios em sua visão, Chico Xavier desvelava a bondade de seu trabalho em todos os gestos, nunca reivindicando para si os produtos de sua obra mediúnica e literária, cuja totalidade dos direitos sempre foi revertida em favor de obras de caridade e de divulgação da filosofia da Doutrina Espírita de Jesus.
Como visto nas históricas entrevistas que concedeu no programa “Pinga Fogo”, da extinta Tevê Tupi de São Paulo no ano de 1971 – recorde de audiência na televisão –, em que manteve-se sempre de forma digna e respeitosa com a sociedade brasileira, Chico Xavier, mesmo recebendo críticas, nunca fora mal educado, outrossim aceitando inúmeros títulos de cidadania oferecidos por diferentes casas parlamentares, fazendo-o com humildade e acolhendo as láureas como destinadas fossem à Doutrina Espírita, da qual se declarava humílimo servidor.
Ademais, sua belíssima mediunidade de missão não se expressou apenas em livros, mas em inúmeras histórias e depoimentos de pessoas que nele encontravam o abraço amigo, a consolação e a doce disposição de amor de um servo de Jesus que tinha o compromisso de não se indispor com quem quer que seja, deixando que seu trabalho falasse por si mesmo e que a trajetória do conhecimento alcançasse a cada um de acordo com as disposições pessoais e convicções alicerçadas no livre arbítrio concedido pelo Criador.
Em 1981, referendado por duas milhões de assinaturas, Chico Xavier foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz. No ano 2000, por votação popular, foi eleito o maior cidadão do Estado de Minas Gerais, “o maior mineiro” de todos os tempos. Quando em 2006 já tinha sido eleito o maior brasileiro de todos os tempos pela revista Época, novamente, pela escolha dos votantes, em eleição concluída em 03 de Outubro de 2012 pelo Sistema Brasileiro de Televisão, recebeu novamente o mesmo título. E, em exemplo de inúmeras outras homenagens recebidas em todo o país, defronte à Avenida Faria Lima – na altura do túnel Joá Penteado e Hospital Municipal Dr. Mário Gatti –, em 02 de Abril de 2010, ele emprestou seu nome à uma praça do município de Campinas, no Estado de São Paulo, tendo em seu interior o plantio de um abacateiro simbolizador do desprendimento e fé em Deus desse singelo brasileiro.
Chico Xavier retornou para a Pátria Espiritual no domingo em que o Brasil acordava cedo para acompanhar em Yokohama um dos maiores triunfos da Seleção Brasileira de Futebol, que na Copa do Mundo de Coreia do Sul e Japão, conquistava seu quinto título, vencendo a Alemanha por 2 x 0. Coroando de êxito sua jornada, Chico se despediu de forma humilde no dia em que todos estavam felizes e quase nada de diferente notaram.
Ascendendo naturalmente como um dos maiores expoentes da cultura brasileira, Chico Xavier divulgou o Espiritismo e o Brasil mundialmente, tendo seu trabalho livremente sido examinado por diferentes cientistas e pesquisadores de todo o planeta, e, repita-se, sem vaidade ou propósitos materiais, defendendo a Doutrina do bem e de Jesus como alicerce para a humanidade, inexoravelmente alocando-se no rol dos heróis e heroínas da Pátria Brasileira.