Recentemente, ao passar pelo procedimento Papanicolau, popularmente conhecido como prevenção, realizado anualmente por mulheres com vida sexual ativa. Confesso que não estava em dia com o meu, pois, por inúmeras vezes evitei passar pelo exame em decorrência do incômodo e constrangimento. No entanto fui, então, impelida pelo compromisso com meu corpo e responsabilidade com a minha saúde.
Em horário e datas agendados na UBS do meu bairro, fui realizar o exame e fui surpreendida com o cuidado e a forma como a enfermeira Leandra, responsável pela realização do exame procedeu.
Além do extensivo cuidado em me deixar à vontade, transcendeu às expectativas ao, apesar da minha idade e histórico não requererem, solicitar que também avaliássemos as mamas, o que necessitava que eu me despisse completamente. Contudo, não me senti envergonhada, avaliada ou julgada por ela, que teve uma postura completamente profissional, mas sem ser gélida, o que também proporcionaria desconforto.
E você pode estar se questionando qual a relevância desse fato, então vou esclarecer.
Eu sou psicóloga, pós-graduanda em sexualidade humana e, coincidentemente, às vésperas do exame, durante os estudos, fui apresentada à IATROGENIA, que se refere às alterações, doenças, efeitos adversos ou complicações causadas por ou resultantes do tratamento médico que, infelizmente, é um causador e agravante de disfunções e/ou doenças relacionadas à vida sexual.
Ao se realizar exames físicos e a anamnese, caso o profissional não tenha posicionamento ético e atento, poderá afetar negativamente a saúde sexual e psicológica do paciente através de expressões faciais, comunicação não verbal, comentários, olhares, dentre outros.
Exemplo disso é o relato que recebi após publicar sobre a minha experiência nas redes sociais. Uma colega contou que ficou por 03 anos sem realizar o Papanicolau após suportar extensas ofensas da médica de seu plano de saúde. Isso, por sua vez, pôs a sua saúde em risco.
Segundo o relato, além de realizar o exame de forma agressiva e lhe causando dor, a médica lhe fez diversas investidas sobre o seu corpo e seus aspectos físicos, adicionando comentários acerca de suas atividades sexuais, minando sua autoestima.
Tudo isso é gravíssimo e atormenta aspectos fundamentais do psicológico de qualquer mulher, devendo ser denunciado aos órgãos, secretarias e instituições responsáveis.
Entretanto, queria deixar outra reflexão.
Qual treinamento ou capacitação referente à sexualidade é direcionado a esses profissionais, tendo em vista que apenas o conhecimento técnico não é, por si só, capaz de garantir excelência no atendimento?
Vale a pena destacar que ter a dignidade assegurada, seja ela física, ética ou moral é um direito básico de qualquer cidadã.
Eu, como mulher e profissional, desejo que relatos assim sejam cada vez mais raros, quiçá, extintos. E para que isso seja possível é preciso que vítimas de profissionais dessa estirpe relatem e denunciem todas as violências que suportarem.
E quando possível for, elogiem. Mensagens boas também merecem ser destacadas.
Bruna Lima
Sexóloga e Psicóloga