Em Minas Gerais, donas de casa representam quase 6% das mortes por suicídio desde 2022. Foram 383 casos de autoextermínio em menos de quatro anos, segundo levantamento do Estado, ocupando a segunda posição entre as categorias mais afetadas.
Lorena*, 39, exemplifica o impacto dessa sobrecarga. Durante uma separação litigiosa em 2024, percebeu que havia deixado sua carreira de lado para cuidar da família. Ao assumir também um emprego externo, somando aos afazeres domésticos, acabou diagnosticada com depressão e burnout. “Cheguei ao ponto de planejar como me mataria. Olhava para minha vida, para as dívidas, e pensava que não tinha solução”, relatou.
Solange Medeiros, coordenadora do Movimento de Donas de Casa e Consumidores de MG, descreve a rotina da categoria como exaustiva: “Trabalhamos 24 horas por dia. Durante a maternidade, muitas mulheres dormem em intervalos de meia hora e, mesmo assim, continuam com os afazeres domésticos.”
Dados do IBGE confirmam essa sobrecarga: em 2022, mulheres dedicavam 9,6 horas a mais do que os homens aos cuidados domésticos e pessoais. Cerca de 92,1% das mulheres com 14 anos ou mais realizavam essas atividades, contra 80,8% dos homens. Pesquisas da FGV Ibre e do Instituto Locomotiva apontam que, se remunerado, o trabalho doméstico elevaria o PIB brasileiro em 8,5% e poderia gerar cerca de R$ 834 a mais por mês às mulheres.
A psicóloga Elisa de Santa Cecília Massa, da UFMG, reforça que a sobrecarga das donas de casa reflete o machismo estrutural. Ela destaca a importância de políticas públicas, como creches, escolas e opções de lazer, além da conscientização de gênero desde a infância.
Lorena enfatiza que buscar ajuda foi essencial para sua recuperação. “Não precisava fazer tudo sozinha. Aprendi a pedir ajuda no dia a dia e isso mudou minha vida.”
*Nomes fictícios
Foto: Fred Magno/O TEMPO
Fonte: O TEMPO