Antes restrita às Forças Armadas e à Polícia Federal, a pistola 9mm teve sua venda liberada para civis entre 2019 e 2022. Em apenas quatro anos, o armamento saltou de item raro para o mais comum nas mãos dos brasileiros: é hoje a arma legal mais registrada e também a mais apreendida com criminosos no país.
Segundo dados da Polícia Federal obtidos por meio do pesquisador Roberto Uchôa, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Brasil conta com 643 mil pistolas 9mm registradas: 379 mil com CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores) e 264 mil com civis para defesa pessoal. O número representa 28% do total de armas legais no Brasil, superando revólveres calibre 38 (272 mil) e pistolas 380 (492 mil).
O crescimento da 9mm foi impulsionado por dois fatores, segundo especialistas: o desejo por um armamento anteriormente restrito e a maior capacidade de munição. Gustavo Pazzini, CAC e dono de um estande de tiro em São Paulo, explica: “Entre 9mm, .40 e .45, a 9mm leva vantagem no número de balas por carregador”.
Além disso, a 9mm tem quase o dobro da potência da pistola 380, com 453,56 joules contra 245,32 joules. O projétil, de formato cônico, também oferece maior poder de penetração, podendo perfurar obstáculos como portas, portões e até latarias de veículos. Segundo o perito criminal Bruno Lazzari, isso representa um risco extra à segurança pública, pois pode atingir terceiros com facilidade.
Arma mais apreendida no Brasil
A popularização da 9mm entre civis coincidiu com seu avanço no mercado ilegal. Em 2018, apenas 11 pistolas 9mm haviam sido apreendidas pelas forças de segurança. Já em 2024, esse número saltou para 1.377 unidades, ultrapassando até mesmo o revólver 38.
Para Bruno Langeani, consultor sênior do Instituto Sou da Paz, a liberação do calibre gerou uma “modernização da arma do crime”. A facilidade de acesso durante o período de flexibilização aumentou tanto o número de registros legais quanto o de desvios para o crime organizado.
Delegado do Grupo de Operações Especiais da Polícia Civil de Pernambuco, Tenório Neto afirma que esse cenário eleva o risco em operações policiais: “O nível de alerta e estresse é maior. A possibilidade de confronto também aumenta.”
Controle das armas será da PF
Com quase 2,3 milhões de armas legais no Brasil, sendo 1 milhão com CACs e 1,3 milhão com civis, o controle desse arsenal passará por mudanças a partir de 1º de julho de 2025. A Polícia Federal assumirá a fiscalização dos CACs, função hoje exercida pelo Exército.
A mudança foi determinada pelo governo federal no Decreto das Armas, de julho de 2023. A expectativa é que a PF consiga otimizar a fiscalização, utilizando bases de dados e métodos mais modernos que o Exército, segundo Langeani.
📸 Foto: Luiz Gabriel Franco/g1
📷 Imagem da apreensão: Polícia Militar de Minas Gerais/Divulgação
📰 Fonte: g1 e GloboNews