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COVID-19: baixa adesão à vacina bivalente preocupa especialistas

Por Dentro De Tudo:

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Quase dois meses após a vacinação bivalente contra a COVID-19 ser disponibilizada em Minas Gerais, a cobertura indica baixa adesão ao reforço. Apenas 17,38% dos mineiros elegíveis tomaram a dose da vacina. Na capital, o número também preocupa: somente 29,9% do público convocado foi aos postos receber o imunizante. Com melhor performance na defesa contra a doença, a bivalente é a principal aposta das autoridades de saúde para proteger os grupos expostos a maior risco. Sem a adesão da população, governo do estado e Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) se deparam com um novo desafio para manter o controle da pandemia.

 
O público estimado para receber a bivalente em BH é de 485.797 pessoas. A cobertura ainda abaixo dos 30% significa que mais de 340 mil moradores da capital poderiam ter completado o calendário vacinal mas ainda não o fizeram. Em Minas Gerais, já foram aplicadas 1.062.290 doses da vacina, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Mais de 5 milhões de pessoas ainda não tomaram a bivalente. Além dos idosos, a vacina também está liberada para o público imunocomprometido a partir de 12 anos, trabalhadores da saúde, gestantes e puérperas, indígenas e quilombolas. Na avaliação de especialistas ouvidos pelo Estado de Minas, a cobertura está muito aquém do esperado. “Ainda é um número muito pequeno para um público que tem urgência em se vacinar, e está longe de completar a meta vacinal. O futuro agora vai ser a bivalente”, avalia o médico infectologista Leandro Curi.
 

A vacina bivalente é a aposta do poder público para frear uma possível nova escalada de internações por COVID-19, especialmente entre os grupos de maior risco, já que ela oferece proteção contra mais de uma cepa do vírus. Por isso a urgência em intensificar a adesão à campanha, frisam especialistas. “Nas primeiras vacinas, usamos o vírus lá do começo da pandemia, que não é o que está circulando atualmente. Ele sofreu mutações, então, o sistema imunológico tem que se preparar para essas novas cepas, e o caminho para isso é tomando a vacina bivalente”, destaca o infectologista Estêvão Urbano, que integrou o extinto Comitê de Enfrentamento à COVID-19 da prefeitura.
 

Na avaliação de especialistas, apesar do atual cenário de tranquilidade em relação à pandemia, com redução nos números de mortes e internações, a população e o poder público devem se manter em constante estado de vigilância. “Não podemos subestimar o perigo do vírus. Quando as internações e óbitos caem drasticamente, a tendência da população é relaxar. Mas a pandemia, definitivamente, ainda não acabou, pessoas continuam se contaminando e transmitindo a doença”, reitera o infectologista Leandro Curi. Ele lembra que essa sensação de segurança só foi conquistada graças à vacinação. “Se os reforços forem abandonados, aumenta o risco de novas variantes e formas graves da doença”, completa.
 

Estêvão concorda com o colega e aponta, ainda, que a imunidade das primeiras doses apresentou uma queda significativa nos níveis de anticorpos. Para ele, ampliar a vacinação para todos os públicos ajuda a intensificar a proteção aos mais vulneráveis, especialmente devido ao descuido dos mais jovens. “Nós temos visto um alto nível de contaminação entre os jovens. As mortes reduziram, mas as contaminações continuam alarmantes”, disse. “No futuro, é mais provável que convivamos com o coronavírus de forma endêmica. É um vírus que veio para ficar, e deve se manifestar daqui para frente em casos mais leves”, aponta.
 

Para que haja um equilíbrio nesse panorama, as pessoas devem seguir sempre as recomendações futuras sobre a vacinação, nunca deixando de se imunizar conforme for determinado, ou se aparecer uma variante completamente diferente, mais agressiva e que fuja à ação das vacinas. “Ainda não sabemos que caminho o vírus vai tomar; se ele vai mitigar e sumir, ou se vamos viver sempre com essas flutuações da doença. O que a gente aprendeu nos últimos anos é que manter a vigilância e vacinar é fundamental”, complementa o infectologista Leandro Curi.

O IMUNIZANTE A bivalente funciona como se duas vacinas fossem aplicadas ao mesmo tempo, por conter uma mistura de cepas do coronavírus – a original e as subvariantes Ômicron BA.4 e BA.5. O imunizante está disponível nos 152 centros de saúde de BH, além de dois postos extras, localizados no Centro Universitário UNI-BH (Oeste) e na faculdade UNA (Centro-Sul), onde o aposentado Cláudio Luiz dos Santos, de 62 anos, tomou a vacina logo na primeira semana de abril.
 

Satisfeito por tomar a vacina, ele ressaltou o compromisso em manter o esquema vacinal em dia. “Sempre fui responsável, tomei todas as doses que foram disponibilizadas. A gente não pode descuidar”, declarou. Para receber o reforço bivalente, é preciso que a pessoa tenha concluído, pelo menos, o esquema primário da imunização contra a COVID-19, que inclui a vacinação com duas primeiras doses ou dose única, respeitando o intervalo mínimo de quatro meses de intervalo entre a última dose. “Acho importante que todos tomem. Vacinar é um cuidado não só com nós mesmos, mas com o próximo”, afirma Cláudio.

 
Após passar quase um mês internado por ter contraído o vírus da COVID-19, o aposentado Pedro Fonseca, de 85, também não perdeu tempo e foi logo tomar a bivalente. “Vou tomar quantas vacinas precisar, inclusive já estava esperando ansiosamente por essa. Cada um tem que fazer a sua parte”, afirma. Mesmo com a flexibilização das ações de prevenção, Pedro e a família mantiveram o uso de máscara ao sair na rua, além de evitar aglomerações. “Graças a Deus, quando fiquei internado deu tudo certo, mas foi uma experiência muito dolorosa”, disse. A irmã de Pedro, três anos mais nova que ele, também ficou internada na mesma época. “Quase morremos na pandemia, e não quero ter que passar por isso novamente. Espero que as pessoas tenham consciência da importância da vacina”, cobra.

CENÁRIO GERAL A estagnação da bivalente reflete um cenário geral de baixa adesão às campanhas de vacinação contra COVID-19. A quarta dose segue restrita a maiores de 40 anos há nove meses, e a cobertura está muito abaixo do esperado, estagnada em 41%. O público estimado para receber o reforço em BH é de 1.194.693. Desse número, menos de 490 mil pessoas já tomaram o reforço desde o início da imunização, em agosto do ano passado. Para o infectologista e professor da UFMG Unaí Tupinambás, é necessário uma política efetiva de promoção à vacinação. “As pessoas ainda têm um pouco de dúvida sobre a vacina. O grande culpado disso foi a desinformação gerada pela disseminação de campanhas contrárias à vacina no início da pandemia, e que seguem até hoje”, avalia.
 

O grupo de crianças entre 5 e 11 anos segue como o mais defasado em relação à cobertura vacinal em BH. Apenas 66,9% do público infantil recebeu a segunda dose da proteção contra a COVID-19. O ritmo da vacinação segue a passos lentos. Para se ter uma ideia, em agosto do ano passado, o índice era de 62%. Decorridos nove meses, a cobertura não aumentou nem cinco pontos percentuais. Na época, a Prefeitura iniciou a vacinação de crianças de 3 e 4 anos, que após nove meses de campanha não atingiu nem metade da meta de cobertura para as duas primeiras doses do imunizante. Até o momento, 38,8% dos moradores nessa faixa etária receberam a primeira dose da proteção contra a COVID-19, enquanto 22% tomaram a segunda dose. O público estimado para receber a imunização é de 51.203.

ONDE TOMAR A DOSE EM BH

A vacina pode ser tomada nos 152 centros de saúde, distribuídos em todas as nove regionais da capital mineira e nos pontos extras. Os endereços e horários de vacinação devem ser verificados no portal da prefeitura. É importante reforçar que não há contraindicação em tomar, no mesmo dia, a vacina bivalente e outros imunizantes, como a dose contra gripe.

» Pontos extras:

» Faculdade UNA (Centro-Sul) – Rua dos Aimorés, 1.451, Lourdes. Funcionamento das 8h às 16h

» Faculdade Universo (Nordeste) – Rua Paru, 762, Nova Floresta. Funcionamento: segunda a sexta-feira, das 8h às 12h; entretanto, nas próximas segunda, quarta e quinta o atendimento será das 13h às 17h

» Centro Universitário UNI-BH (Oeste) –  Rua Líbero Leone, 259, Buritis. Funcionamento das 9h às 16h

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