Com dificuldade para encontrar leitos públicos de atendimento para casos graves de Covid-19, famílias brasileiras têm se endividado ao recorrer à rede hospitalar particular para conseguir internar parentes em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Em alguns lugares, mesmo após a superação do colapso do sistema ainda há parentes que precisam arrumar maneiras de arrecadar dinheiro para pagar a conta, mesmo sem os entes queridos em casa. Na maioria das vezes, a arrecadação não chega a 10% dos recursos necessários.
Em Minas Gerais, parentes e amigos de pessoas que recorreram ao sistema privado agora buscam ajuda com vaquinhas virtuais para tentar sanar as dívidas. É o caso do motorista de aplicativo Lucas Marley da Silva Lacerda, 23, de Belo Horizonte, que ficou internado em um hospital da rede particular por 11 dias em março deste ano. As despesas médicas somaram mais de R$ 400 mil e, sem condições de arcar com o pagamento, a família criou uma vaquinha online que até então arrecadou apenas R$ 10,5 mil, ou seja, menos de 3% do valor total.
Assim como Lucas, é possível encontrar inúmeros casos de pessoas que buscam doações para tentar sanar as dívidas deixadas com o tratamento. Numa busca rápida pelo site de vaquinhas virtuais, aparecem mais de 30 casos de pessoas das mais variadas partes do país e do Estado, incluindo Ponte Nova e Betim.
No interior de São Paulo, a família do aposentado Luís Antônio Ribeiro, 64, vendeu 400 feijoadas no último fim de semana e criou uma vaquinha virtual para ajudar a pagar a dívida em um hospital privado de Matão, distante 139 km de Batatais, onde a família mora.
Colapso
A necessidade surgiu quando a cidade enfrentava um colapso na saúde, com ocupação de 100% dos leitos. Depois de passar quatro dias aguardando uma vaga, que não surgiu, a família contratou o leito em Matão.
Ribeiro foi internado em 15 de maio e, em 5 de junho, morreu devido a complicações da Covid-19. A internação custou pouco mais de R$ 115 mil, dos quais ainda restam R$ 60 mil a pagar.
Enquanto Ribeiro esteve internado, os filhos colocaram um terreno à venda, para custear os gastos, mas a morte de Ribeiro, seguida da morte de sua mulher, Angela Maria Ribeiro, 59, no último dia 20, também de Covid, fizeram os filhos desistirem, já que é preciso fazer os inventários.
Sem os pais, Ana Paula Ribeiro de Andrade, 39, e o irmão, Lucas, não conseguem vender nada para quitar a dívida. A arrecadação com a feijoada não chegou a 10% do necessário. A vaquinha virtual juntou outros R$ 4.700, mas os filhos decidiram interrompê-la com a morte do pai. “Vamos continuar tendo de fazer coisas. Meu pai jamais ia querer que ficássemos devendo”, disse Ana Paula. (Com agências)