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Cresce número de trabalhadores 50+ no país, mas etarismo é admitido por empresas

Por Dentro De Tudo:

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O Brasil tem cerca de 8,7 milhões de trabalhadores acima dos 50 anos. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Previdência, com base na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), o número de profissionais 50+ dobrou no país nos últimos 15 anos, de 2006 a 2021. Empresas como a PepsiCo e a Assaí Atacadista criaram programas específicos para a admissão de funcionários desta faixa etária e já incrementaram o percentual de profissionais em seus quadros. 

Apesar do crescente aumento no número de contratações de pessoas mais velhas na última década, também impulsionado pelo envelhecimento da população, ainda é grande a barreira no mercado de trabalho para a entrada desses profissionais. Segundo um estudo de 2022 da Ernst & Young e a agência Maturi, especializada na empregabilidade de pessoas maduras, 78% das empresas consideram-se etaristas (que discriminam por idade). O levantamento mostrou que a maioria das companhias têm, apenas, de 6% a 10% de pessoas com mais de 50 anos em seu quadro funcional.

População x empregados

  • Pessoas com 50 a 59 anos: 11,4% da população
  • Pessoas com 60+: 15,1%
  • Média de funcionários 50+ nas empresas: 3% a 5% do quadro

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Maturi

Até 2040, estimativas apontam que seis em cada dez trabalhadores brasileiros terão mais de 45 anos. Segundo o IBGE, 17 milhões de famílias são sustentadas por pessoas com mais de 60.  Diante deste cenário, Mórris Litvak, de 40 anos, CEO e fundador Maturi, ressalta que é muito importante o debate e, especialmente, o combate ao etarismo no mercado de trabalho. “A gente está vivendo mais. Além da expectativa de vida aumentar, teremos cada vez menos jovens no mercado de trabalho. Tem um papel social muito importante, mas também estratégico para o futuro do país e das empresas”, considera. 

Ao longo de toda sua carreira, o engenheiro João Monteiro trabalhou em grandes obras para empresas como Vale, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez. Em 2014, ele se aposentou e foi dispensado pouco tempo depois, após quase 20 anos de casa, devido ao desaquecimento do mercado.

“Minha vida é trabalho”, justifica Monteiro, revelando que não conseguiu ficar parado e acabou logo arrumando um serviço. Em 2018, ele se juntou com um amigo e começou a fazer pequenas obras. Foram mais de 50, entre reformas de passeios e de banheiro, e instalação de piscina.  “Eu via um passeio esburacado, fazia um desenho no AutoCAD e outro com ele prontinho e deixava na porta do condomínio”, conta, lembrando que fechou muitos contratos com essa estratégia proativa. 

Foi também nessa época que ele conheceu o Instituto de Pesquisas e Projetos Empreendedores (IPPE) e resolveu fazer alguns cursos, chegando a 40 concluídos. “Me ajudaram bastante com informática e excel. Se não tiver hoje em dia, perde muita coisa”, diz. 

Empreender para não parar

O engenheiro mecânico de formação e empreendedor da área de eventos Helvio Matzner, de 68 anos, não se deu tão bem quanto João. Já foram mais de 100 currículos entregues, cadastro em diferentes plataformas e ele sempre recebe a resposta que “não está apto para a vaga”. “Eu sei que é por causa da idade, mas não falam”, lamenta.  

Carioca, Matzer trabalhou ao longo de sete anos criando efeitos a laser para programas de sucesso como o Planeta Xuxa, da TV Globo, e fazendo shows de nomes como Roberto Carlos e Chitãozinho e Xororó. 

Enquanto não encontra recolocação no mercado em Minas, para onde se mudou há alguns anos, Matzer estuda andragogia, área voltada a ensinar adultos, e se envolve em diferentes projetos voltados aos 60+. “Professores aposentados não querem voltar a ser professores. Querem aprender coisas novas. A pessoa idosa tem sonho, está viva e gostaria de realizar”, afirma. 

Para Litzak, há um preconceito com a idade que as corporações não chegam a admitir. “Faz parte da nossa cultura. Há um estereótipo de que os profissionais mais velhos são lentos para mexer com tecnologia, não são abertos à mudança e são mais caros porque são mais experiente”, detalha. 

Segundo um levantamento de 2022 da Ernst & Young e a agência Maturi, cerca de 80% das empresas não possuem políticas específicas e intencionais de combate à discriminação etária em seus processos seletivos. 

Selo certifica empresas que atuam contra etarismo

Em 2015, Mórris Litvak, de 40 anos, criou a então MaturiJobs, plataforma que reunia vagas para pessoas com mais de 50 anos. Cinco anos depois, a iniciativa se expandiu e virou a Maturi, plataforma que passou a oferecer também cursos, treinamentos, pesquisas e consultoria empresarial sobre diversidade etária. 

Recentemente, a marca trouxe para o Brasil o selo “age friendly employer”, chancela internacional que atesta boas práticas contra etarismo. Para recebê-lo, a empresa é avaliada em 12 categorias, que vão da contratação até à integração das equipes, remuneração e preparação do funcionário para a aposentadoria. “Quando a empresa se certifica, ela faz um compromisso. A cada dois anos ela é avaliada”, explica Litvak.

A farmacêutica Sanofi foi a primeira empresa no Brasil a conseguir o selo, sendo seguida pela Takeda. No dia 20, o Grupo Pereira, rede de supermercados no sul do país, também foi certificado. 

Segundo Aliesh Costa, da Carpediem RH, os profissionais da melhor idade têm a seu favor habilidades como empatia, colaboração, engajamento, organização, comunicação, lealdade, flexibilidade, senso de urgência e resiliência. “São as chamadas soft skills, bastante desejáveis pelas organizações e nem sempre encontradas nos mais novos”, completa a CEO.

Para Natália de Cássia Horta, de 41 anos, professora do departamento de medicina da Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC Minas), a troca intergeracional tem muitos benefícios numa organização. Há, segundo ela, um intercâmbio de habilidades tanto da dimensão técnica, quanto dos saberes da vida. “Esse engajamento das pessoas mais velhas têm grande contribuição para mudar estereótipos. Contribui para a melhoria da percepção da experiência de envelhecer. Nós temos uma cultura de país jovem. Tudo aqui é ‘antienvelhecimento’”, ressalva. 

Litvak, da Maturi, também destaca que a cultura latina é a da juventude, da beleza, da estética, diferentes de países como o Japão. “Estamos passando por um processo de envelhecimento muito rápido e ainda não assimilamos. Não faz parte da nossa educação”, ressalva. 

Para ele, além de toda a bagagem de experiência dos profissionais mais velhos, as empresas precisam ficar atentas ao consumidor 50+. “Times jovens não entendem das dores e necessidades dos consumidores mais velhos”, afirma. 

Na Maturi, são 200 mil vagas, que vão de atendimento ao cliente à gestão, em 750 empresas cadastradas. Desse total, cerca de 90% dos postos são preenchidos. Pela Maturi, cerca de 7 mil pessoas já conseguiram uma colocação no mercado. 

Fonte: O Tempo.

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