Custos altos, política de preços e impostos levam gasolina a R$ 6 em BH e região

Por Dentro De Tudo:

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Os impostos, o valor praticado nas refinarias e a alta do etanol são apontados como os vilões do peço da gasolina e do gás de cozinha no Brasil. O litro da gasolina subiu, em média, 26,54% (R$ 1,234) entre janeiro e julho deste ano na região metropolitana de Belo Horizonte, sendo vendido, em média, a R$ 5,88, segundo o site Mercado Mineiro. Mas, rodando pela região, é possível ver postos cobrando acima de R$ 6, que é a atual média nacional do preço do litro do derivado do petróleo, conforme cálculos da Ticket Log. 

No caso da gasolina, o valor final é composto pela soma do preço praticado pelas refinarias, pelo custo do etanol (que é misturado na proporção de 27% no derivado do petróleo e cujo preço é definido livremente pelos seus produtores) e pelos custos e margens de comercialização das distribuidoras e dos postos, além de impostos estaduais e federais. O gás de cozinha tem precificação parecida, com exceção dos tributos federais, que não incidem sobre o produto, e do etanol, que não entra na composição final. 

O motoboy e motorista autônomo Maurício Prata, 41, diz que seu gasto com combustível aumentou cerca de cinco vezes no último ano. “Antes a gente falava do famoso ‘dezão’ (R$ 10)’. ‘Vou colocar o ‘dezão’ para rodar o dia inteiro’. Hoje, com o tal ‘dezão’, não dá mais para rodar o dia inteiro. Teve dia que tive que colocar R$ 50 de gasolina, porque minha moto não é flex”, conta. 

Prata cuida da mãe, que tem doença de Alzheimer, e os dois moram em uma casa no bairro Luxemburgo, na região Centro-Sul da capital. Ele passou a trabalhar com transporte depois de perder o emprego de porteiro. Enquanto transporta passageiros e mercadorias pelas ruas da cidade, se pergunta sobre o porquê do preço dos combustíveis.

“O valor até chegar às bombas é abusivo. Eu passei em frente à refinaria da Petrobras, em Betim, e o caminhão só tem que atravessar a rua, e já temos que pagar um absurdo de gasolina”, critica ele.

Distribuidores. Os donos de postos alegam que são responsáveis por cerca de 5% do preço final dos combustíveis e defendem que uma redução da carga tributária seria uma das saídas para a redução dos custos em toda a cadeia produtiva. “De cada R$ 100 que você abastece, entre R$ 4 e R$ 5 é a margem de lucro do posto, e com isso tem que pagar o frentista, a energia, o contador, funcionários, uniforme etc. O principal componente que mais pesa na gasolina é o ICMS, que em Minas Gerais é o segundo mais caro do Brasil, que corresponde a R$ 1,91 por litro vendido”, diz o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro), Carlos Eduardo Guimarães. A alíquota de ICMS sobre a gasolina é de 27,4% no Estado.

Segundo Guimarães, os empresários também sofrem com a alta. “Cada vez que sobe a gasolina, o posto precisa de mais dinheiro para colocar no estoque. A venda no cartão de crédito só é recebida em 30 dias, e o dono paga o combustível em um dia. E, quanto mais aumenta o preço, menos o posto vende”, afirma.

Além da carga tributária, o transporte de insumos é um dos fatores que encarecem os combustíveis, diz o especialista em finanças Caio Mastrodomênico, da Vallus Capital. “Esse etanol produzido, por exemplo, numa usina em Mato Grosso é transportado para uma distribuidora da Petrobras para fazer a mistura, e, depois, o combustível retorna para o posto. E todo esse trajeto é feito por via rodoviária”, explica. 

Caro na bomba e lucrativo na Petrobras

Levantamento do Índice de Preços Ticket Log (IPTL) aponta que o valor médio da gasolina avançou 2,28% em julho, no Brasil, na comparação com o mês anterior. O novo aumento fez o valor médio por litro ultrapassar R$ 6. Na primeira quinzena de fevereiro, o valor de R$ 5 tinha sido alcançado no país pela primeira vez. Cinco meses depois, o combustível já é vendido a R$ 6,006, 24,7% acima do registrado no fechamento de janeiro. Uma alta de R$ 1. 

E tudo indica que o preço não vai cair. Na quinta-feira, ao comentar o lucro de R$ 42,8 bilhões da Petrobras, só no segundo trimestre de 2021, o diretor de Refino da estatal, Cláudio Mastella, frisou que, a exemplo de commodities como os produtos agrícolas, o petróleo é negociado com preços internacionais, “e o respeito à lógica econômica estimula investimentos”. Assim, atrelar o valor do petróleo nacional ao mercado internacional, com seus preços altos e em dólar, continuará a ser praticado pela Petrobras. A empresa vai pagar R$ 31,6 bilhões em dividendos como remuneração aos seus acionistas. 

No segundo trimestre, a Petrobras vendeu sua cesta de derivados a R$ 401,19 por barril, alta de 14,6% em relação ao trimestre anterior e o dobro do verificado no mesmo período de 2020. (Da redação)

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