Um pequeno estudo de pacientes que sofrem de sintomas persistentes muito tempo após um surto de Covid-19 descobriu que quase 60% deles tiveram danos nos nervos possivelmente causados por uma resposta imune defeituosa. A descoberta feita por pesquisadores americanos pode apontar para novos tratamentos.
O estudo envolveu exames aprofundados de 17 pessoas com a chamada Covid longa, uma condição que surge dentro de três meses após uma infecção por Covid-19 e dura pelo menos dois meses.
— Acho que o que está acontecendo aqui é que os nervos que controlam coisas como nossa respiração, vasos sanguíneos e nossa digestão, em alguns casos, estão danificados nesses pacientes com Covid longa — disse a médica Anne Louise Oaklander, principal autora do estudo e neurologista do Hospital Geral de Massachusetts.
Acredita-se que até 30% das pessoas que têm Covid-19 desenvolvem Covid longa, uma condição com sintomas que variam de fadiga, batimentos cardíacos acelerados, falta de ar, dificuldades cognitivas, dor crônica, anormalidades sensoriais e fraqueza muscular.
Oaklander e colegas se concentraram em pacientes com sintomas consistentes com um tipo de dano nervoso conhecido como neuropatia periférica. Todos, exceto um, tiveram casos leves de COVID-19 e nenhum teve danos nos nervos antes de suas infecções.
Depois de descartar outras possíveis explicações para as queixas dos pacientes, os pesquisadores realizaram uma série de testes para identificar se os nervos estavam envolvidos.
— Nós analisamos todos os principais testes diagnósticos objetivos — disse Oaklander.
A grande maioria tinha neuropatia de pequenas fibras — danos às pequenas fibras nervosas que detectam sensações e regulam funções corporais involuntárias, como o sistema cardiovascular e a respiração.
As descobertas são consistentes com um estudo de julho do Dr. Rayaz Malik, da Weill Cornell Medicine Qatar, que encontrou uma associação entre danos nas fibras nervosas da córnea e um diagnóstico de Covid longa.
No estudo atual, 11 dos 17 pacientes foram tratados com esteróides ou imunoglobulina intravenosa (IVIG), um tratamento padrão para pacientes com pequenos danos nas fibras nervosas causados por uma resposta imune. Alguns melhoraram, mas nenhum foi curado.
Embora os resultados se apliquem apenas a pacientes de Covid longa com esse tipo de dano nervoso, é possível que a imunoterapia possa ser útil, disse Avindra Nath, coautor do estudo e especialista em neuroimunologia do Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrame.
— Para mim, isso sugere que precisamos fazer um estudo prospectivo adequado desses tipos de pacientes testando as drogas em um estudo randomizado — disse Nath.