Com a chegada de dezembro, além dos preparativos para festas e viagens, cresce também a preocupação de abrigos e clínicas veterinárias: é nesta época que o abandono de cães e gatos costuma disparar. A campanha Dezembro Verde volta a lembrar a população sobre a responsabilidade de tutores e a necessidade de combater maus-tratos e descartes impulsivos.
Um caso recente reacendeu o debate: Gwen, gata de 18 anos, foi levada ao Abrigo MeiMei depois que a dona alegou alergia do bebê da casa. O abandono de um animal idoso, em situação precária, expôs o que especialistas e protetores chamam de justificativas frágeis usadas por quem opta por se desfazer de um pet.
Segundo Lorena Tuxen, responsável pelo abrigo, alegações como “alergia da criança” são frequentes, mas raramente acompanhadas de diagnóstico médico. “Nunca recebemos um laudo que comprove isso. Muitas vezes é apenas a solução mais prática para alguém que trata o pet como objeto”, afirma. A pediatra e alergista Dra. Júlia Damásio Coutinho reforça: a maioria dos supostos casos de alergia não se confirma e, quando confirmados, há alternativas — como medicação, imunoterapia e controle ambiental — que evitam a retirada do animal do lar.
A veterinária e diretor do Hospital Veterinário Uniarnaldo, Dr. Bruno Divino Rocha, observa que o principal gatilho para o aumento dos abandonos no fim do ano são as viagens de férias e a falta de opções de hospedagem para os pets. Medo de fogos, dificuldade de cuidar de animais idosos ou doentes e mudanças na rotina também aparecem entre os motivos citados por quem abandona.
Além do sofrimento emocional, o abandono representa risco à saúde do animal. “Ao chegar ao abrigo, muitos pets adoecem por estresse; alguns entram em depressão e podem até recusar alimentação”, relata Lorena. O estresse eleva o cortisol, reduz a imunidade e agrava problemas clínicos e comportamentais, explica o Dr. Bruno.
O Dezembro Verde reforça a importância da adoção responsável e alerta para os riscos de dar um animal de presente sem pensar nas consequências a longo prazo. “Adotar é um compromisso para a vida inteira. Se você não assume isso, não deve trazer um ser vivo para sua casa”, resume Lorena.
Foto: Ana Karina Bueno/Arquivo pessoal.
Texto: Maria Clara Lacerda / O TEMPO.
