Uma em cada 10 pessoas no mundo corre o risco de adquirir problemas renais. É o que aponta um levantamento da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN). A doença renal crônica (DRC) é uma das principais enfermidades nefrológicas e consiste na perda da capacidade de desempenhar suas funções crônicas lentamente e pode, em casos extremos, levar os pacientes ao transplante renal e à hemodiálise. Nos últimos três anos, a BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, um dos principais hubs de saúde de excelência do país, registrou mais de 7 mil diagnósticos relacionados à problemas renais nos últimos três anos, uma média de quase 2.500 ao ano.
O tema é tão importante que no próximo dia 10 de março é comemorado o Dia Mundial do Rim, criado em 2006 pelo International Society of Nephrology (ISN), e que terá como tema esse ano “Saúde dos rins para todos: educando sobre a saúde renal”. No Brasil, a campanha é organizada pela SBN e tem o objetivo alertar a população sobre os riscos da doença, a importância da prevenção, a adoção de um estilo de vida mais saudável, além de estimular os profissionais da saúde que atuam na atenção primária para aprimorar o conhecimento e as práticas de prevenção da doença.
Por se tratar de uma doença “silenciosa”, ou seja, não costuma se manifestar nos estágios iniciais, os indivíduos que possuem hipertensão, diabetes, pressão alta e obesidade, que são considerados fatores de risco, precisam ficar atentos e realizar exames periódicos, como de urina e creatinina sérica, por exemplo. “Os sintomas costumam se manifestar quando o órgão atinge cerca de 85% a 90% de comprometimento”, explica a médica Tereza Bellincanta Fakhouri, nefrologista da BP.
Segundo a SBN, o Brasil possui aproximadamente 140 mil pacientes que sofrem com os casos mais graves da doença e precisam realizar diálise. A estimativa é que em 2040 a DRC figure entre as cinco maiores causas de morte no mundo. Entram na lista de doenças renais mais comuns a glomerulopatia, nefrite, doença renal policística e o cálculo renal, mais conhecido como pedra nos rins. “A partir dos 40 anos, o órgão começa a perder sua capacidade renal, portanto, esse acompanhamento se faz necessário para fins de monitoramento e, se for o caso, dar início ao tratamento precoce”, afirma a especialista.
Para ganhar tempo no diagnóstico, além dos exames recomendados para identificar o problema, é possível perceber alterações no corpo que podem ligar o sinal de alerta, como dores lombares, dor ao urinar, pressão alta, inchaços pelo corpo, cor amarelada ou a presença de sangue na urina. Todos são fatores que precisam ser investigados por um nefrologista.
Para os casos que estão em estágios iniciais da doença, o paciente é submetido ao acompanhamento clínico com o especialista para estancar ou retardar ao máximo a disfunção final do rim, ou seja, que ele pare por completo. Os cuidados se dão, sobretudo, com a alimentação. “Orientamos o paciente a restringir o consumo de proteínas, sal e alimentos ricos em potássio”, afirma a nefrologista.
A BP possui três tipos de terapia renal substitutiva para os casos de falha total do órgão. A primeira delas é a diálise peritoneal, que remove as impurezas e o excesso de líquido do sangue; a segunda é a hemodiálise, procedimento que utiliza uma máquina para cumprir o papel do rim que é a filtragem do sangue; e a terceira é o transplante renal para os pacientes em fase mais avançada/terminal.
Relação entre doenças renais e a Covid-19
Mesmo dois anos após o início da pandemia, cientistas de todas as partes do mundo têm trabalhado para identificar as consequências da Covid-19 no organismo. Dados apontam que o rim é o segundo órgão mais afetado no corpo humano, perdendo apenas para os pulmões. “Não há ainda relação comprovada em estudos entre DRC e o coronavírus, mas apenas com a versão aguda da doença”, explica. Para tentar encontrar mais respostas, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) produziram um artigo que discute de forma abrangente as lesões nos rins em indivíduos contaminados com Covid-19.
O texto, publicado na revista científica suíça Frontiers in Physiology, aponta que os casos de lesão renal aguda atingem entre 20% e 40% dos pacientes contaminadas pelo coronavírus. Uma das teorias apontadas no trabalho é a possível interação do vírus com uma enzima denominada conversora de angiotensina, conhecida na literatura médica como ACE2 (na sigla em inglês). Segundo a pesquisa, ela possibilita que o vírus invada as células humanas e comece o processo chamado de replicação. A partir daí, o processo de infecção é iniciado, prejudicando o controle da pressão sanguínea e a proliferação celular.