Doença do silicone: sintomas podem ter relação com prótese?

Por Dentro De Tudo:

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Em 2008, a betinense Bárbara Mota, de 39 anos, se submeteu a uma cirurgia de redução da mama e implante de prótese de silicone. Ela conta que ficou feliz com o resultado, mas, há sete anos, começou a sentir diferença na simetria das mamas. Neste ano, passou também a sentir forte queimação no seio esquerdo e rigidez em uma das mamas e, depois de fazer um ultrassom, descobriu fissuras nas próteses e inflamação nas mamas.

“Busquei o cirurgião pra fazer a troca das próteses. Mas, após pesquisar a respeito na internet, descobri sobre a doença do silicone e os sintomas que muitas mulheres passaram a apresentar depois que colocaram as próteses. Hoje vejo que minha enxaqueca constante, meu cansaço, a queda de cabelo e as alergias que eu desenvolvia podem ter sido geradas pelas próteses. O problema é que a maioria dos profissionais não alerta os pacientes sobre esses efeitos colaterais. Só depois que tirei as próteses, grande parte desses sintomas sumiu”, relata Bárbara. 

Mesmo não sendo reconhecida como doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e apesar de não haver estudos científicos baseados em evidências que relacionem os implantes mamários de silicone com alguma doença, cada vez mais mulheres estão buscando o explante mamário alegando estarem sofrendo da doença do silicone (a BII, na sigla em inglês). Essas pacientes afirmam ter desenvolvido efeitos colaterais causados pelas próteses, com sintomas como fadiga, depressão, queda de cabelo, mal funcionamento intestinal, ansiedade, depressão, dores articulares, entre outros. 

Em 2020, pesquisas no site Google sobre a doença do silicone cresceram 350%. Relacionadas a elas, buscas sobre explante de silicone apresentaram aumento de 170% naquele mesmo ano. 

Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) – Regional Minas Gerais, o cirurgião plástico Vagner Carvalho Rocha confirma que, desde 2018, o número de explantes mamários tem aumentado no Brasil. No entanto, para o especialista, esse crescimento ocorre, na maioria das vezes, por situações adversas, como vontade da paciente de fazer a retirada, doenças da mama e busca por mamas menores.

“A nosso ver, não existe nenhum motivo com evidências sérias e concretas que indicam a retirada do implante. O silicone é seguro, porém, deve ser evitado se colocado em pacientes com doença autoimune, por exemplo”, disse o especialista. 

Mas, mesmo enquanto não há comprovação científica que ateste a correlação das próteses com algum tipo de doença, outra betinense que afirma ter sofrido da doença do silicone é Dyana Souza Dias Vieira, de 27 anos.

Segundo ela, meses após colocar as próteses, começou a desenvolver sintomas como dores no corpo, cansaço e até problemas emocionais, como ansiedade e crises de choro. 

A situação piorou depois que ela apresentou inchaço em um dos seios e começou a ter febre persistente. “Tomei antibióticos fortes e anti-inflamatórios, mas nada melhorava. Recebi diagnósticos de mastite, prótese deslocada e até de câncer de mama. Mas, só depois do explante, me senti outra mulher. Foi como se um peso tivesse saído das minhas costas. Desde então, nunca mais tive nenhum tipo de sintomas, dor, nada”, afirma Dyana. 

SÍNDROME PODE SER INDUZIDA POR SILICONE

A síndrome autoimuneinflamatória induzida por adjuvantes, conhecida como síndrome ASIA, é uma doença rara reconhecida na literatura, mas que, assim como a doença do silicone, não possui exames laboratoriais, de imagem ou critérios diagnósticos validados e aceitos mundialmente que a relacionem com as próteses. 

Descrita pela primeira vez em 2011 pelo médico israelense Yehuda Shoenfeld, ela geralmente recai em pacientes com implante de prótese mamária de silicone com queixas como dores articulares, musculares, fadiga, podendo ter algumas queixas neurológicas.

Entre os pacientes que apresentam maiores riscos de desenvolver a ASIA, acredita-se, estão aqueles com predisposição genética, deficiência da vitamina D, relato de reação autoimune a adjuvantes (silicone) e condições autoimunes já diagnosticadas, como artrite reumatoide, história de alergia e doenças atópicas, além de histórico familiar de doenças autoimunes.

“Embora a ocorrência da ASIA induzida por silicone seja rara, como a prótese mamária de silicone vem sendo realizada nas últimas décadas com maior frequência, vale o alerta de que ela pode desencadear resposta inflamatória ou autoimune em pessoas geneticamente predispostas”, diz a professora de reumatologia e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia, Emília Sato.

PESQUISA

A Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, propôs que os fabricantes de silicone incluíssem advertências nos implantes mamários para explicar aos pacientes sobre os riscos da cirurgia. Diversos pesquisadores da instituição já pesquisam há pelo menos uma década se existe relação entre certos tipos de cânceres e próteses de silicone, mas a entidade, que é o órgão responsável pela proteção e promoção da saúde pública no país, já reconheceu que existe, sim, uma doença relacionada aos implantes de silicone.

DADOS

O procedimento é o mais procurado pelas brasileiras, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Último levantamento da entidade, em 2018, mostra que as intervenções para o aumento dos seios representavam 18,8% das cirurgias feitas no Brasil, na frente, inclusive, da procura por lipoaspiração (16%) e abdominoplastia (15,9%).

Fonte: O Tempo.

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