Os óbitos por doenças cardiovasculares, como infarto e AVC, dispararam na pandemia: só entre janeiro e agosto deste ano, cerca de 85 pessoas morreram por dia devido a problemas cardiovasculares em Minas Gerais. A tendência, que já era observada em 2020, acentuou-se ainda mais em 2021: as mortes aumentaram 25,7% em relação ao mesmo período de 2019, segundo registros de cartórios do Portal da Transparência, em parceria com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Por trás do aumento, escondem-se a baixa na procura por atendimento médico durante o isolamento social e possíveis sequelas da Covid-19, segundo especialistas. O alerta é dado na data em que se comemora o Dia Mundial do Coração.
“As doenças do coração não estão estáveis, mas em ascensão. Elas são a principal causa de morte no mundo, matam mais que o dobro que todos os tipos de câncer juntos. Como são doenças de que costumamos ver as pessoas morrerem dentro de casa, internalizou-se que isso é normal, mas não podemos considerar comum uma pessoa de 50, 60, 70 anos morrendo de AVC ou infarto. São doenças em que podemos evitar a mortalidade, controlando os fatores de risco”, pontua o diretor da Sociedade Mineira de Cardiologia, Kleisson Maia.
Neste ano, as mortes por doenças cardiovasculares ocorridas dentro de casa, e não em hospitais, subiram 62% e representam um quarto de todos os óbitos por essas doenças no Estado. Na perspectiva de especialistas, a alta é um reflexo do abandono do controle de fatores de riscos, como hipertensão, diabetes e obesidade durante a pandemia.
Em 2020, o número de procedimentos de cardiologia teve queda de 38% no país, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM). O cardiologista Bruno Nascimento, membro da SBC e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirma que já passou da hora de retomar o acompanhamento médico.
“O efeito da pandemia não é só durante ela. As pessoas estão deixando de fazer o acompanhamento, e as consequências serão observadas lá na frente. Em 2022, já teremos um cenário diferente, porque esperamos que não ocorra mais sobrecarga de hospitais com Covid-19, mas os efeitos para quem não fez controle adequado vão continuar por um tempo”, pondera.
A coordenadora da Associação Mineira do AVC (AMAVC), Sandra Issida, diz que a busca de tratamento por quem já sofreu Acidente Vascular Cerebral diminuiu durante a pandemia. “Antes da pandemia, 85% das pessoas que haviam sofrido AVC estavam em algum tratamento como contra hipertensão e diabetes. No entanto, com o isolamento, o número caiu para 47%. Sandra explica que a prevenção é importante, porque as vítimas de AVC têm poucas horas entre identificar os sintomas e levar a pessoa ao atendimento e, em casos de AVC isquêmico, que ocorre pela obstrução de vasos cerebrais, a chance de haver sequelas diminui se o paciente for atendido até quatro horas e meia após os primeiros sintomas.
O cardiologista cooperado da Unimed-BH José Pedro Filho tem esperança de uma retomada de atendimentos. “A redução na procura inicial por atendimento médico cardiológico está normalizada ou até superdimensionada. As agendas estão lotadas de gente que deixou de ir antes e querem retomar e também daqueles que apareceram com problemas cardíacos agora”, afirma.