Em situação de emergência por causa de 410 prováveis casos de dengue e 18 confirmados de chikungunya, a cidade de Pedro Leopoldo, na região metropolitana de Belo Horizonte, enfrenta dificuldade para a compra do inseticida de Ultra Baixo Volume (UBV), mais conhecido como fumacê. A aplicação do produto se faz necessária em cidades com alto índice de transmissão das doenças, uma vez que elimina o Aedes aegypti em fase adulta.
“Encontramos um mercado em desabastecimento. Fizemos alguns orçamentos e ainda não encontramos”, relata a secretária municipal de saúde Michelli de Matos Moreno. Conforme a titular da pasta, essa é uma dificuldade enfrentada desde o ano passado. “Normalmente, é o Ministério da Saúde quem disponibiliza o inseticida. Só que desde o último ano eles encontraram dificuldade, e, agora, com os municípios em situação de emergência, eles fizeram a recomendação para que pudéssemos fazer a compra. Além disso, o carro, que é repassado pelo Governo Estadual, também não foi enviado”, detalha a secretária.
No dia 8 de maio, diante do alto índice de transmissão e após a morte de uma pessoa diagnosticada com dengue, a prefeitura decretou situação de emergência, válida por 120 dias. De acordo com a nota publicada pelo executivo municipal, a medida foi adotada com o objetivo de que processos referentes à questão ocorram em regime de urgência e prioridade em todos os órgãos e entidades municipais e, ainda, trazer flexibilidade administrativa para as ações necessárias ao combate”.
Para a secretária municipal de saúde, o município não tem enfrentado dificuldade com o financiamento das ações de enfrentamento a arboviroses. “Nós temos recebido recursos do Ministério da Saúde todos os meses, e também do Estado. Só que nos últimos anos parte desse recurso foi destinado para a pandemia da Covid, o que reduziu um pouco os investimentos para combate às arboviroses, mas isso não tem comprometido. Temos tido um diálogo constante”, afirma a secretária.
Além da compra do fumacê, a cidade tem realizado ações constantes para combater as doenças, como mutirões, fiscalizações de possíveis focos, inspeções de agentes em residências, campanhas de conscientização, recolhimento de entulho e limpezas diárias das ruas do município. Conforme a prefeitura , mais de 100 toneladas de entulho são recolhidas todos os dias, somando 2.376 por mês.
Estado em crise
Em apenas uma semana, entre os dias 8 e 15 de maio, 12.852 novos casos de dengue foram confirmados em Minas Gerais, conforme o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde. Em média, é como se o estado registrasse 76,5 casos de dengue por hora durante sete dias. Atualmente, são 146.056 casos confirmados para a doença, além de outros 312 mil prováveis. O número de mortes também aumentou, passando de 74 para 79. Minas ainda investiga outros 118 óbitos supostamente relacionados à dengue.
Em relação à febre chikungunya, foram registrados, na última semana, 58.076 casos prováveis da doença, dos quais 25.963 foram confirmados. Nesta semana, são 62.343 prováveis e 29.343 confirmados. Até o momento, foram confirmados 18 óbitos por chikungunya em Minas Gerais e 17 estão em investigação. Os números de zika permanecem estáveis. São 246 casos prováveis e nenhum óbito no estado.
Montes Claros, no Norte de Minas, segue como o município com mais casos de dengue, chikungunya e zika vírus. Foi lá, também onde o estado registrou mais óbitos por chikungunya, com quatro vítimas. Já Uberlândia foi o município com mais mortes por dengue, com oito vítimas. Minas está em epidemia de arboviroses desde o final de março.
Crise que se agrava
A reportagem demandou a Secretaria de Estadual Saúde no dia 27 de abril deste ano sobre os investimentos no enfrentamento às arboviroses nos anos de 2010, 2020, 2021, 2022 e 2023. O questionamento foi motivado após o relato de municípios sobre a redução no repasse para ações contra a dengue, zika e chikungunya por parte do Governo de Minas. Uma das cidades foi Montes Claros, na região Norte de Minas. O município, inclusive, é o que possui o maior número de casos notificados.
Apesar do questionamento e da obrigatoriedade da pasta em divulgar os dados, uma vez que são públicos, a Secretaria não disponibilizou as informações. Um dia após a demanda, no dia 28 de abril, a pasta disse que os dados estavam sendo finalizados e que, em breve, estariam disponíveis. Passados 23 dias, a Secretaria ainda não informou quais foram os investimentos para o enfrentamento às arboviroses no estado.
“É um indicativo da crise que estamos vivendo. A Secretaria Estadual de Saúde deveria ter essa informação, até para facilitar o controle e permitir que a população possa exigir mais cuidados, cobrar. Isso ajuda a aprimorar a política pública”, destaca o professor de direito administrativo do IBMEC, Leonardo Spencer. Para o especialista, embora não se possa comprovar a queda de investimentos, devido a omissão dos dados, a justificativa de que essa redução seria uma consequência da pandemia da Covid-19 não é procedente. “Uma coisa não exclui a outra. Investimento em ações de enfrentamento a arboviroses é algo que precisa ser permanente, e é antigo. A pandemia jamais poderia justificar a diminuição do investimento, deveria ser cortado em outra área”, reforça.
Fonte: O Tempo.