É de Fortaleza que o professor de trânsito José Maria Nascimento administra a Associação dos Homens Mal-Amados do Estado Ceará, também conhecida como Associação dos Cornos do Ceará. Mas a abrangência da entidade, fundada há 30 anos, não se restringe ao Estado nordestino. “Converso com gente de todo o país”, revela José Maria, que preside a associação desde 2015 e, por meio dela, coordena um trabalho que vai além de reunir e ajudar pessoas que foram traídas a lidar com a dor pela infidelidade. “Lutamos contra o feminicídio”, afirma ele, com orgulho.
A Associação dos Cornos do Ceará é um exemplo de mobilização fora do poder público que soma forças na luta contra a violência contra a mulher no Brasil. “Quando o José Adauto (que morreu em 2017) fundou a associação, a intenção dele era uma brincadeira, mas as coisas foram mudando. Qual é o ponto da nossa luta contra o feminicídio? É o machismo. A nossa sociedade é muito machista, não aceita a traição e acha que tem que ser vingada, que tem que bater, tem que matar. E nós, na associação, não vemos as coisas dessa maneira”, explica José Maria.
Ele afirma que busca alternativas para ajudar quem procura a Associação dos Cornos e que a conversa – que pode ser presencial, por meio de ligação e até por mensagens no WhatsApp – tem sido a principal ferramenta nesse processo. “Converso com gente de todo o país e até de fora. Hoje (quarta-feira, dia 19) entrou em contato comigo uma pessoa que mora em Portugal”, revela José Maria. “Eu não sou psicólogo, sou professor. Mas eu os escuto, converso. E, quando eu vejo que não está ao meu alcance, eu encaminho para um psicólogo”, conta.
“A associação dá apoio moral, dá dicas para a pessoa não fazer besteira e não destruir a própria vida, nem a da mulher, nem a dos filhos. Só que eu não posso procurar o associado, ele que tem que me procurar para que não se sinta constrangido. Vindo até mim, ele tem psicólogo e desconto no comércio (no Ceará)”, pontua o presidente da entidade. “Eu mostro para ele que ser corno não é bom, mas tem vantagem”, brinca.
Segundo José Maria, a Associação dos Homens Mal-Amados do Estado Ceará tem, atualmente, cerca de 35 mil associados, com a carteirinha de corno, pelo país, e se orgulha por ter ajudado muitos deles. “Eu sinto que faço um trabalho importante e que não quero desistir dele. Eu vejo que a associação não é só uma brincadeira, não é só humor. Aparentemente é só uma brincadeira, mas eu considero que estou fazendo um bom trabalho. Eu espero que no futuro alguém prossiga com ele. Porque é um trabalho de formiguinha, lento”, afirma.
CDL-BH adere à campanha Sinal Vermelho
Lançada em junho de 2020 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a campanha Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica ganhou um parceiro de peso na capital mineira neste mês. A Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) assinou um termo de cooperação com a Polícia Civil de Minas Gerais para divulgar e apoiar a iniciativa.
“A CDL foi procurada pela Polícia Civil, que está preocupada com o aumento dos números da violência contra a mulher na pandemia. Apresentaram o projeto para nós, e nos propusemos a ser um multiplicador, não só na divulgação da campanha, mas também o comércio e as empresas de serviços serem um instrumento para que a mulher tenha locais onde possa fazer essa denúncia, de maneira discreta, mas que possa pedir ajuda”, explica o presidente da entidade, Marcelo de Souza e Silva.
A ideia central da campanha Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica é que as mulheres possam pedir ajuda de forma silenciosa, desenhando um “x” na cor vermelha na palma da mão e mostrando o desenho em estabelecimentos comerciais. A partir do sinal, o funcionário solicita os dados da vítima e os repassa para as autoridades policiais. “Essa mobilização é importante para um problema que aflige a nossa sociedade”, afirma Souza e Silva. Quem ajudar, ele ressalta, não se torna testemunha no caso.
Segundo o presidente da CDL-BH, a entidade está divulgando a campanha e orientando seus mais de 13 mil associados. “Há, também, uma proposta de levar a campanha Sinal Vermelho para as mais de 200 cidades mineiras onde temos outras CDLs”, pontua. A ideia, ele enfatiza, é criar uma grande rede na sociedade, que envolva entidades de outros setores também.
“Estamos conversando com outras entidades para que também façam a adesão à campanha Sinal Vermelho e levem até os seus associados para que eles façam isso nas empresas, com os seus clientes. Precisamos criar uma rede colaborativa para buscar uma efetividade na redução de violência e até mesmo acabar com ela”, afirma Souza e Silva.
Saiba mais
- Em 2021, comemoram-se os 15 anos da Lei Maria da Penha e os seis anos da Lei do Feminicídio, dois marcos importantes no combate à violência contra a mulher no país.
- Segundo dados da Polícia Civil de Minas Gerais, de janeiro até agosto deste ano, foram registrados 93.279 casos de violência doméstica no Estado. No mesmo período, a corporação contabilizou 217 casos de feminicídio.
- As denúncias de agressão podem ser feitas pelo 190 (Polícia Militar) e também nas Delegacias Especializadas em Atendimento à Mulher ou mesmo pelo site delegaciavirtual.sids.mg.gov.br.