Cada vez mais empresas estão adotando inteligência artificial (IA) em seus processos seletivos, especialmente nas etapas iniciais, para lidar com o alto volume de candidaturas. A prática promete agilidade e padronização, mas também gera preocupações sobre falta de humanização e possíveis vieses algorítmicos.
Um exemplo é o de um economista que, ao ser convocado para a segunda fase de um processo seletivo, descobriu que seria entrevistado por uma IA via WhatsApp. O sistema fazia perguntas com base nas respostas e dava retorno imediato — ele foi aprovado na etapa, mas não teve retorno posterior. Segundo ele, a experiência “otimizou o tempo, mas foi fria e desumana”.
Por que as empresas estão adotando IA
De acordo com especialistas, a popularização de modelos como o ChatGPT impulsionou o uso da tecnologia em recursos humanos. A professora Humberta Silva, da FEA-USP, explica que a pandemia acelerou a digitalização dos processos e que a IA se tornou uma forma de lidar com milhares de currículos.
Empresários como Patrick Gouy, da Recrut.AI, afirmam que o sistema permite respostas rápidas, redução de custos e escalabilidade. Já outros especialistas ressaltam que a tecnologia deve complementar, e não substituir, a entrevista presencial.
Desafios e riscos
Pesquisas apontam que, embora a IA traga eficiência, ela também pode restringir oportunidades. Segundo a tese de doutorado de Humberta Silva, há risco de exclusão de candidatos por fatores como falta de acesso digital, ausência de palavras-chave específicas no currículo e pouca transparência sobre o uso de IA.
A professora Vanessa Cepellos, da FGV, reforça que “os algoritmos aprendem com dados humanos — se esses dados forem discriminatórios, o sistema reproduz esse comportamento”.
Questões legais
Especialistas em direito trabalhista alertam que o uso de IA em processos seletivos deve seguir critérios éticos e de transparência. O advogado Rafael Bispo de Filippis destaca que o algoritmo não pode discriminar candidatos e que, em casos suspeitos, pode haver ação judicial com base na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Um projeto de lei aprovado no Senado em 2024 busca regulamentar o uso da IA no Brasil, exigindo que candidatos sejam informados quando estiverem interagindo com sistemas automatizados e garantindo direitos de acesso e correção de dados.
Futuro do recrutamento
Empresas que oferecem esse tipo de ferramenta afirmam que a tecnologia não veio para eliminar o contato humano, mas para agilizar etapas iniciais. Entretanto, especialistas ressaltam a necessidade de equilíbrio entre eficiência e empatia para que o processo seletivo continue sendo justo, transparente e verdadeiramente humano.
📸 Crédito: BBC / Starmind / Reprodução
📲 Fonte: BBC News Brasil

















