Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) fizeram uma descoberta significativa ao identificar um “vírus gigante”, considerado o maior envelopado do mundo. Nomeado de Naiavirus, o organismo foi encontrado em uma amostra de água coletada no Pantanal, na região do rio Paraguai, em Mato Grosso do Sul. Entre os pesquisadores, destaca-se o estudante de Mestrado Matheus Rodrigues, que isolou o vírus em um dos laboratórios do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG.
A descoberta é considerada segura, pois o patógeno infecta exclusivamente amebas, sem riscos à saúde humana. O Naiavírus mede, em média, 1.350 nanômetros, podendo chegar a impressionantes 1.824 nm. Sua morfologia é igualmente notável: o vírus possui uma cauda flexível que se adapta ao ambiente e um envelope externo contínuo que envolve toda a partícula. Essa combinação de características nunca havia sido registrada anteriormente.
“Ele possui um formato muito inusitado. Para melhor entendimento, tem a forma de uma gota, como uma coxinha”, descreve Matheus Rodrigues, responsável por isolar o vírus.
Rodrigues, que é mestrando do Departamento de Microbiologia, faz parte de um grupo que investiga vírus gigantes em biomas brasileiros. As amostras que possibilitaram a identificação do Naiavirus foram coletadas durante uma expedição do Projeto Navio, coordenado pelo doutor Luiz Alcântara, em 2023. O momento da descoberta foi marcante para Rodrigues, que percebeu que estava diante de algo sem precedentes. “Com essas amostras, trabalhei e descobri um vírus nunca antes registrado na literatura ou na virosfera”, relata.
O pesquisador destaca que o tamanho e a estrutura incomum do Naiavirus o tornam uma raridade na natureza. “Esse vírus é muito grande, muito grande mesmo. Ele possui até 1,8 micrômetro, e numa escala normal de vírus isso é algo extraordinário”, explica.
A pesquisa não só avança o conhecimento sobre a biologia viral, mas também pode oferecer insights sobre a evolução dos vírus. “Esses vírus infectam amebas, que são unicelulares e eucariontes. Compreender essa infecção pode nos ajudar a entender como um vírus com características semelhantes poderia afetar humanos”, diz Rodrigues.
O artigo que descreve o Naiavirus, coautorado por outros 20 pesquisadores, foi publicado na revista científica “Nature Communications”. Para Rodrigues, a repercussão internacional do trabalho é uma grande conquista. “Nunca pensei em trabalhar com vírus, muito menos com vírus gigantes. Isso é uma realização muito grande, pois eu vinha de um contexto diferente. Saber que todo o esforço valeu a pena é algo muito importante”, comemora.
Além do valor científico, a descoberta possui implicações para futuras aplicações biotecnológicas. Rodrigues acredita que, por infectar amebas, o Naiavirus pode ser utilizado no desenvolvimento de vacinas, antivirais ou em processos antiparasitários. “Esse vírus pode ser uma ferramenta importante na luta contra amebas patogênicas”, sugere.
O nome Naiavirus também carrega simbolismo, homenageando a lenda indígena de Naia, uma jovem que se apaixonou pela deusa Jaci e que, segundo o folclore, foi transformada na flor Vitória-Régia. “A partir desse conto, decidimos homenagear a descoberta com esse nome, que surgiu de uma amostra de água”, explica.
Rodrigues também reflete sobre sua trajetória pessoal. Morador de Contagem, ele enfrentou desafios como longas viagens e madrugadas de trabalho para realizar seus experimentos. “Houve momentos em que precisei acordar às quatro da manhã para chegar ao campus às seis”, conta.
Ele ressalta a importância da diversidade na pesquisa científica, especialmente a presença de pesquisadores negros na pós-graduação, que ainda é escassa. “Ser um pesquisador negro no Brasil é complexo. Na graduação, vemos mais pessoas pretas, mas na pós-graduação a representatividade é baixa. Quero que minha presença inspire outros alunos a acreditarem que esse espaço é acessível”, afirma.
No Dia da Consciência Negra, Rodrigues reflete sobre seu papel na universidade pública e a importância de mostrar que, apesar das dificuldades, é possível alcançar esse ambiente e superá-lo.
**Fonte: BHAZ**
**Foto: Reprodução/Nature Communications**















