Um estudante de medicina de 21 anos, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), virou alvo de críticas e reações de revolta nessa terça-feira (12) após debochar de um texto publicado pela fotógrafa Tracy Figg. No registro original, que viralizou nos últimos dias, a mulher fala sobre as mazelas da cultura do estupro.
Os versos de Figg viralizaram depois que o médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra foi preso por estuprar uma mulher grávida durante uma cesariana, no Rio de Janeiro. O caso veio a público nessa segunda-feira (11) e mobilizou um contingente de internautas, principalmente mulheres, que lamentaram a violência.
Paródia debochada
Após o texto da fotógrafa viralizar, uma “paródia” debochada foi publicada nos comentários do post original. A mensagem não agradou, e uma usuária chegou a questionou se ele estava “de sacanagem”.
Estudante de medicina debocha de texto da Tracy Figg sobre os ricos às mulheres na sociedade.
Até quando a violência feminina será vista como uma piada? Quantas mais de nós terão que morrer para serem ouvidas no Brasil?
O machismo mata, violenta e sartiriza a dor das mulheres. pic.twitter.com/Lm45CKMBQT
— UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES 💙 (@uneoficial) July 13, 2022
“No cruzamento da preferencial. Com placa de pare. Na mudança de pista. No sinal vermelho. Na pista molhada. Loiras. Morenas. NA CURVA ACENTUADA. No fim de rua. Na estrada de terra de qualquer cidade. No acostamento, no viaduto e em estrada. Por não dar a seta, por não acender os faróis, por não ligar o pisca-alerta”, diz o texto de Lucas Muller Mendonça (leia na íntegra abaixo), ironizando a suposta performance feminina no volante.
“Fiz um texto satírico justamente pra expor além de ridículo é bem transfóbico. Não existem pessoas com pênis que não são homens? E não existe estupro por parte de mulheres cis? Texto ridículo por texto ridículo, eu prefiro o meu. Tit for tat”, disparou o jovem.
‘Era a intenção’
Após a repercussão negativa dos versos que define como “satíricos”, Lucas se manifestou por meio dos stories.
“Achou o meu poema ridículo? Essa era JUSTAMENTE a intenção. Reconheçam que a conclusão do texto original também é ridícula”, disparou o estudante de medicina. Lucas defende que a suposta generalização defendida por Tracy é incorreta, uma vez que “mulheres também estupram” e “mulheres também cometem importunação sexual”.
Confira a íntegra dos posts abaixo:
O estupro no Brasil
Uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que, em 2021, foram registrados 56.098 boletins de ocorrência de estupros, incluindo vulneráveis, apenas do gênero feminino.
Isso significa dizer que uma menina ou mulher foi vítima de estupro a cada 10 minutos, considerando apenas os casos que chegaram até as autoridades policiais. Houve um aumento de 3,7% nos registros entre 2020 e o ano passado.
Ainda, um levantamento de 2020 do Instituto Patrícia Galvão aponta que 99% das mulheres têm medo de serem vítimas de estupro. Cerca de 52% dos entrevistados, o equivalente a 85,7 milhões de brasileiros, conhecem uma mulher ou menina que já foi vítima de estupro. 16% das mulheres disseram que já foram vítimas do crime,
esse foi o comentário dele ao perceberem o seu deboche ao texto similar a este cujo estava alertando as mulheres de estupro!
ele fez essa versão dizendo que os homens também. ridículo pic.twitter.com/6jZlwVI2B7
— Deivid Amber (@AmberDeivid) July 13, 2022
O BHAZ entrou em contato com o universitário e com a UFMS, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Caso as partes se manifestem, o texto será atualizado.
Relembre o que motivou o texto
O médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra foi preso em flagrante por estuprar uma paciente durante um parto cesariana. O crime ocorreu na madrugada dessa segunda-feira (11), no Hospital da Mulher Heloneida Studart, no bairro Vilar dos Teles, em São João de Meriti, no Rio de Janeiro.
A Polícia Civil disse que investiga o caso com o objetivo de apurar “outras possíveis condutas criminosas do médico”. Já o Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro) suspendeu imediatamente o médico e instaurou processo que pode resultar na cassação profissional dele.
Bezerra foi filmado por enfermeiras e técnicas da unidade de saúde durante um parto em que participava. A equipe médica vinha desconfiando do comportamento do homem, como, por exemplo, em relação à quantidade de sedativo aplicado nas gestantes.
Segundo a Polícia Civil do Rio, o homem responderá por estupro de vulnerável, já que a vítima estava desacordada. As autoridades ainda apreenderam frascos do sedativo usado e devem analisar o material biológico encontrado em uma gaze descartada por ele.
Indícios de repetição
Em entrevista à Globo News, ontem, a delegada que está à frente do caso, Bárbara Lomba, explicou que há sinais de que Giovanni Quintella Bezerra é um criminoso em série. “Realmente há muitos indícios de repetição desse tipo de crime, até mesmo pelo procedimento dele, a atuação dele, já tem uma desenvoltura. No vídeo a gente pode ver quer ele não mostra muita preocupação na hora de executar o crime”, começa.
“Tudo indica que ele já vem praticando há um tempo, ele se aproveita realmente daquela situação da vítima”, explicou a investigadora, da Delegacia de Atendimento à Mulher de São João de Meriti. Ainda de acordo com a delegada, o médico se aproveitava de sua posição de poder, inclusive, para intimidar os demais integrantes da equipe.
#Estudioi Anestesista preso por estuprar mulher durante parto
Delegada: “Nós mulheres somos vítimas, temos que ser levadas a sério”
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— GloboNews (@GloboNews) July 12, 2022
O post Estudante de medicina debocha de texto sobre violência sexual e gera revolta: ‘Mulheres também estupram’ apareceu primeiro em BHAZ.