Estudo identifica como Covid e Oropouche podem antecipar risco de doenças neurodegenerativas

Por Dentro De Tudo:

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Pesquisadores de uma universidade paulista identificaram que tanto o coronavírus quanto o vírus Oropouche conseguem infectar células do cérebro humano adulto, desencadear inflamação e alterar proteínas associadas a processos neurodegenerativos. Os dados ajudam a explicar sintomas persistentes, como confusão mental e perda de memória, e levantam a possibilidade de que essas infecções aumentem ou antecipem, em parte dos pacientes, o risco de doenças como Alzheimer e outras condições que afetam o funcionamento cognitivo.

O estudo utilizou fragmentos de tecido cerebral adulto coletados durante cirurgias e mantidos vivos em laboratório, permitindo observar de forma realista como os vírus interagem com células do sistema nervoso. Os resultados mostraram que ambos conseguem invadir o tecido cerebral, cada um afetando um tipo específico de célula e desencadeando respostas inflamatórias distintas.

No caso do coronavírus, observou-se infecção predominante em astrócitos, células que sustentam e regulam neurônios. Parte desses astrócitos morreu, e outra parte passou a liberar substâncias inflamatórias que prejudicam a comunicação neuronal, o que está associado a dificuldades cognitivas. Já o vírus Oropouche apresentou preferência pela micróglia, célula responsável pela defesa do cérebro. Quando essa célula é infectada, a inflamação torna-se ainda mais intensa, ampliando o dano ao tecido.

Uma das descobertas mais relevantes foi o aumento da proteína Tau fosforilada em tecidos infectados pelo Oropouche. Esse marcador está associado à perda de memória e à morte de neurônios, sendo um elemento presente em processos neurodegenerativos. Com o coronavírus, também foram registradas moléculas inflamatórias elevadas e sinais de inflamação generalizada.

Durante a pandemia, sintomas como “névoa mental” e lapsos de memória se tornaram comuns em pacientes após o período agudo da infecção. Segundo os pesquisadores, os achados ajudam a explicar por que essas manifestações são frequentes e como a inflamação cerebral, local ou sistêmica, pode comprometer funções como atenção, fala e memória.

Apesar dos resultados, os cientistas destacam que ainda não é possível afirmar que essas infecções causem diretamente Alzheimer ou outras doenças. No entanto, reforçam que o impacto observado no tecido cerebral humano indica que vírus com capacidade de alcançar o sistema nervoso podem contribuir para acelerar processos degenerativos em pessoas predispostas. A infecção, portanto, não determina por si só o desenvolvimento de demência, mas pode se tornar um fator adicional de risco dentro de um quadro multifatorial.

As pesquisas continuam com o objetivo de identificar mecanismos comuns entre o Oropouche e outros vírus que têm histórico de danos neurológicos, como o herpes simples. O mapeamento desses caminhos moleculares pode orientar futuramente estratégias terapêuticas. Estudos paralelos também analisam como diferentes tipos de células reagem individualmente ao processo de infecção, buscando ampliar a compreensão sobre o impacto dos vírus no cérebro humano.

Fonte do texto: g1 – Ribeirão Preto e Franca

Fonte das fotos: Murilo Corazza/g1; Getty Images via BBC

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