Febre em crianças: quando medicar, quando levar ao pronto-socorro e por que orientações mudaram

Por Dentro De Tudo:

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A temperatura considerada febre em crianças, que antes era de 37,8°C, agora passou para 37,5°C, de acordo com uma nova diretriz da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). A mudança está no documento científico “Abordagem da Febre Aguda em Pediatria e Reflexões sobre a febre nas arboviroses”, publicado neste ano pela entidade, e segue padrões adotados em estudos internacionais. Pela nova definição, a febre é reconhecida quando a temperatura atinge 37,5°C ou mais na axila, ou 38°C se medida por via oral ou retal, durante três minutos.

O entendimento sobre a febre evoluiu porque a SBP considera que a temperatura isolada não deve ser o único critério para definir febre em crianças. Segundo o documento publicado este ano pela entidade, a variação natural da temperatura corporal ao longo do dia faz com que um mesmo lactente apresente diferenças de até 1°C entre manhã e tarde. A febre passa, então, a ser entendida como um sinal fisiológico. O médico Alexandre Nikolay, coordenador do departamento de emergência pediátrica do Hospital Santa Lúcia Sul, em Brasília, explica que o aumento da temperatura corporal não é a doença em si, mas uma forma de defesa natural que avisa que o corpo está lutando contra alguma infecção ou problema. Para lactentes e crianças pequenas, a medição axilar com termômetro digital é recomendada, enquanto métodos infravermelhos devem ser usados apenas por profissionais treinados. Além disso, a mudança busca reduzir a chamada “febrefobia”, que é a ansiedade excessiva dos pais diante da febre, podendo levar a consultas e intervenções médicas desnecessárias. Por isso, a febre agora é definida como 37,5°C ou mais quando medida pela axila, mas a recomendação é avaliar também o estado geral da criança antes de medicar ou buscar atendimento médico.

Nem toda elevação da temperatura é sinal de febre. Quando há febre, o próprio cérebro — mais especificamente o centro termorregulador — ajusta o ponto de equilíbrio térmico do corpo, fazendo com que a temperatura suba de forma controlada, como uma estratégia natural para ajudar o organismo a combater vírus, bactérias e outros invasores. Já na hipertermia, o aumento da temperatura ocorre por causas externas ou pelo excesso de produção de calor interno, como após atividades físicas intensas ou em dias muito quentes. Nesse caso, o corpo não consegue dissipar o calor adequadamente. As crianças pequenas são mais suscetíveis a esse tipo de elevação, pois ainda têm um sistema de regulação térmica imaturo. O aumento de temperatura pode até ter um papel positivo, pois acelera reações do metabolismo e fortalece a resposta imunológica. Contudo, quando a temperatura ultrapassa 39,5°C, o calor excessivo pode prejudicar o funcionamento de enzimas e outros processos do corpo. Portanto, febres muito altas merecem acompanhamento mais próximo.

Ao lidar com uma criança com febre, o mais importante é observar o estado geral, verificando se ela está alerta, responde bem aos estímulos, mantém boa hidratação e respiração adequada. Também devem ser avaliados a frequência cardíaca e respiratória e o tempo de enchimento capilar, que indicam como está a circulação. Nos casos em que não é possível identificar o foco da infecção — a chamada febre sem sinais de localização —, os médicos seguem critérios clínicos para definir o risco de uma infecção bacteriana grave e a necessidade de exames ou internação. Segundo o pediatra Alexandre Nikolay, a maioria das febres é benigna e autolimitada, mas a avaliação cuidadosa é essencial para reconhecer precocemente os casos que exigem atenção. Ele ressalta que o comportamento da criança muitas vezes é mais revelador do que o número no termômetro. Uma criança prostrada, com dificuldade para respirar ou sinais de desidratação deve ser avaliada rapidamente. De acordo com as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria, os pais devem procurar atendimento médico especialmente quando a criança tem menos de 3 meses, a febre é persistente ou ultrapassa 39,5°C, há alterações no estado geral, sonolência excessiva, convulsões ou dificuldade para respirar, ou quando a criança tem doenças crônicas, imunossupressão ou desnutrição.

Antitérmicos como paracetamol, dipirona e ibuprofeno devem ser administrados quando há sinais claros de mal-estar, como irritabilidade, choro intenso, redução do apetite ou distúrbios do sono. Em menores de um mês, o paracetamol é o único antitérmico indicado, sempre ajustado à idade gestacional. O uso alternado de antitérmicos não é recomendado, pois estudos indicam que a combinação aumenta o risco de superdosagem sem melhorar o efeito terapêutico. Além disso, protocolos modernos enfatizam a avaliação detalhada da criança febril em vez da contagem exata de graus. Essa mudança ajuda a reduzir a ansiedade familiar, diminuir consultas desnecessárias e uso indevido de medicamentos, preservando a função defensiva natural do organismo.

Crédito da foto: Getty Images. Fonte: G1.

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