Férias escolares: hora de sair das telas e proteger crianças e adolescentes dos perigos ocultos da internet

Por Dentro De Tudo:

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Pais e responsáveis devem estar atentos ao uso de emojis nas redes sociais, pois alguns símbolos aparentemente inofensivos e lúdicos podem esconder conotações relacionadas a abusos e violências

As férias escolares estão chegando e, com elas, a oportunidade de crianças e adolescentes explorarem novas experiências longe das telas. Em uma era cada vez mais digital, em que 79% dos hobbies entre os jovens acontecem on-line, a atenção das famílias deve se voltar para o incentivo à parentalidade lúdica e à segurança virtual. Um estudo recente do ChildFund Brasil mostra que apenas 21% dos adolescentes praticam atividades off-line, como desenhar, passear ou fazer esportes — um dado que acende o alerta sobre o desequilíbrio entre o tempo de exposição à internet e os momentos de conexão real.

Mais do que uma distração inofensiva, o ambiente virtual pode esconder riscos graves. Intitulado Mapeamento dos Fatores de Vulnerabilidade de Adolescentes Brasileiros na Internet, o estudo do ChildFund Brasil, organização que atua há quase 60 anos na promoção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes, entrevistou mais de 8 mil adolescentes e revelou que 54% dos adolescentes já sofreram algum tipo de violência sexual on-line. Além disso, 20% afirmaram ter interagido com pessoas desconhecidas ou suspeitas em jogos e redes sociais.

“Só o fato de essa interação acontecer já demonstra uma situação de vulnerabilidade. O adolescente pode não saber identificar uma abordagem perigosa e é por isso que o acompanhamento dos responsáveis é indispensável, especialmente durante o tempo livre nas férias”, alerta Mauricio Cunha, diretor de país do ChildFund Brasil.

Parentalidade lúdica como estratégia de proteção 

Afastar as crianças e os adolescentes das telas pode parecer desafiador, mas não é impossível — e as férias oferecem o cenário ideal para isso. Atividades como praticar esportes, ler, jogar em grupo ou simplesmente conversar com amigos são necessárias para o crescimento físico e emocional. Esses momentos de pausa e conexão ajudam a reforçar laços familiares, sociais e cognitivos.
É justamente nesses instantes de convivência que a parentalidade lúdica — quando os adultos participam ativamente de brincadeiras e atividades com as crianças — se fortalece. Na infância, ela cria um ambiente seguro para que a criança confie nos adultos e compartilhe medos, sonhos e inseguranças. Já na adolescência, essa base afetiva é ainda mais importante, pois coincide com a formação e consolidação de vínculos fora do núcleo familiar, como amizades e grupos sociais.
“A internet, por sua vez, não precisa ser encarada como inimiga. Quando usada com equilíbrio e com a devida orientação, pode trazer benefícios significativos. Jogos digitais, por exemplo, podem ser educativos e estimular habilidades como trabalho em equipe, pensamento crítico e resolução de problemas”, complementa o diretor de país do ChildFund Brasil. 

Emojis que sinalizam perigo

Entre os sinais mais preocupantes que aparecem em trocas de mensagens e posts na internet estão os códigos utilizados por pedófilos ou pessoas mal-intencionadas, muitas vezes disfarçados em emojis que aparentam ser inofensivos. Alguns dos mais recorrentes são:

  • 🍭 Pirulito – referência ao termo “lollipop” do livro Lolita, escrito por Vladimir Nabokov, indicando interesse por menores;
  • 🍕 Pizza – associado ao termo “cheese pizza” (CP), uma gíria para pornografia infantil;
  • 🍐 Pera – associada à sigla MAP (Minor Attracted Person);
  • 🍑🍆💦🥵🔥 – usados em comentários sugestivos de conotação sexual em perfis de crianças.

“Os pais precisam estar atentos a esses códigos, especialmente quando aparecem repetidamente em interações com perfis de crianças e adolescentes. É um alerta silencioso, mas extremamente perigoso”, reforça Maurício do ChildFund Brasil.

Como identificar e prevenir

Apesar de 94% dos adolescentes entrevistados do Mapeamento declararem ter recebido alguma orientação sobre uso seguro da internet, a maioria ainda não sabe como agir em situações de risco. O bloqueio de perfis suspeitos é a reação mais comum, mas a ausência de denúncias contribui para a subnotificação dos casos e dificulta a responsabilização dos agressores.

Entre as principais recomendações para pais, mães e cuidadores está o estabelecimento de limites claros para o uso de telas, incentivando a preferência por atividades presenciais, como brincadeiras em família, leitura ou passeios ao ar livre. Também é importante manter um diálogo aberto sobre os riscos do ambiente digital, incluindo abordagens de desconhecidos, pedidos de envio de fotos e mensagens insistentes. 

Medidas como a instalação de filtros de segurança, programas de monitoramento parental e a configuração adequada da privacidade nas redes sociais ajudam a proteger crianças e adolescentes. É importante ainda observar possíveis mudanças de comportamento — como oscilações de humor, isolamento, vergonha ou medo — que podem indicar situações de risco. Caso haja dificuldades em equilibrar o mundo virtual com o real, a orientação é buscar apoio profissional. Mais informações em www.childfundbrasil.org.br.

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