Brasília – Por meio de nota técnica divulgada ontem, o Observatório COVID-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) chama a atenção para a resistência dos pais em relação à vacinação de crianças contra o coronavírus e avalia que esse processo resulta em lentidão na cobertura vacinal de primeira dose, num contexto preocupante de retorno das atividades escolares. O Ministério da Saúde, por sua vez, garante que o país já tem o número de imunizantes suficientes para atender todo o público infantil com ciclo inicial da proteção. Segundo a pasta, foram destinados mais de 20 milhões de doses à cobertura vacinal na faixa de 5 a 11 anos de idade.
As doses mais recentes dirigidas a esse público estão registradas em Informe Técnico da pasta. Na distribuição a ser iniciada nos próximos dias, 4,6 milhões de unidades pediátricas chegarão aos municípios, sendo 3,2 milhões destinados à primeira dose e 1,4 milhão à segunda aplicação. “A vacinação desse público deve ser autorizada pelos pais ou responsáveis, caso os mesmos não estejam presentes no momento da imunização. A orientação da pasta é que, em caso de dúvidas, os pais consultem um médico para orientá-los sobre a imunização dos pequenos”, afirmou o ministério.
Na análise sobre a baixa cobertura vacinal das crianças, os pesquisadores da Fiocruz destacam a influência das fake news. “Mesmo com evidências científicas favoráveis à vacinação contra COVID-19 entre crianças no Brasil, a difusão de notícias falsas tem provocado resistência das famílias sobre a eficácia e segurança da imunização para a faixa etária entre 5 e 11 anos”, diz o texto.
O documento apresenta o panorama atual da vacinação contra o novo coronavírus entre as crianças e aponta a grande heterogeneidade das campanhas de imunização em todo o país, reforçando a necessidade de articulação de todas as esferas de gestão para a expansão da cobertura vacinal no país. Os pesquisadores da Fiocruz avaliam que, num cenário em que apenas esse grupo não está imunizado, ele se torna particularmente vulnerável à infecção e à disseminação do vírus, inclusive entre outros grupos etários.
Os especialistas citam que o crescente movimento antivacina se apresenta diferentemente daquele observado em outros países. “Trata-se aqui de um receio seletivo para a vacina contra a COVID-19. Mais do que nunca, cabe o devido esclarecimento à sociedade civil, com linguagem simples e acessível sobre a importância, efetividade e segurança das vacinas, envolvendo a responsabilidade de todos os níveis de gestão da saúde no país”, pontuam.
A volta às aulas é necessária, mas como observa a nota técnica da Fiocruz, com a devida proteção às crianças. O documento destaca que a urgência, nesse momento, é por acelerar a distribuição de vacinas para todas os estados e o fortalecimento de uma rede colaborativa que faça os esclarecimentos necessários junto à população.
Para a pediatra e professora da Faculdade de Medicina da USP Ana Escobar, a imposição de condições pelo Ministério da Saúde para aprovação da vacinação de crianças contra o coronavírus atrasou a campanha de imunização, que poderia ter começado bem antes do retorno das aulas presenciais. “Perdemos esse tempo precioso”, afirma.
Discrepância
Os dados apresentados na nota da Fiocruz apontam que a heterogeneidade entre estados e capitais é notável, Toda a Região Norte do país encontra-se abaixo da média nacional. Entre as unidades federativas, apenas sete têm cobertura de primeira dose maior do que a média nacional: Rio Grande do Norte, Sergipe, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e o Distrito Federal.
O pior desempenho está no Amapá, com apenas 5,3% da população na faixa etária entre 5 e 11 anos vacinada. A nota técnica mostra que a cobertura vacinal de primeira dose é diretamente proporcional e maior nos estados onde a expectativa de vida ao nascer e o Índice de Desenvolvimento Humano são também maiores.
Diferentemente disso, a cobertura vacinal de primeira dose é menor onde há maior desigualdade de renda, pobreza e internações por condições sensíveis à atenção primária. Além disso, a cobertura vacinal de primeira dose tem relação inversa com a proporção de crianças na faixa etária elegível. Nos locais em que a proporção de crianças de 5 a 11 anos é maior, há menor cobertura vacinal de primeira dose para esse grupo.
Os dados do Ministério da Saúde indicam que a vacinação contra a COVID-19 conseguiu atingir 4,3 milhões de crianças. Isso significa que o Brasil imunizou apenas 20% do público-alvo um mês após o início da aplicação do imunizante nesta faixa etária. O Ministério da Saúde almeja vacinar 20 milhões.
Pfizer
O laboratório farmacêutico Pfizer apresentou, ontem, pedido à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o uso emergencial do medicamento para COVID-19 Paxlovid (nirmatrelvir + ritonavir). O Paxlovid é medicação do tipo antiviral e de uso oral. De acordo com a Pfizer, estudos apontam que, quando administrado no início da infecção, ele tem a capacidade de reduzir os casos de hospitalização e mortes. Esses dados serão avaliados pela agência reguladora, que tem até 30 dias para emitir um parecer.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Andreia Castro
País perdeu 640,7 mil
vidas para a doença
O Brasil notificou, ontem, 640.774 mortes em consequência da COVID-19, considerando-se 1.085 óbitos registrados em 24 horas. Ainda há 3.136 mortes em investigação, tendo em vista a demanda de exames e procedimentos posteriores. O número de pessoas que contraíram a doença respiratória alcançou 27.806.786. Ontem, foram confirmados 147.734 diagnósticos positivos da doença.
Em Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) informou que o total de casos confirmados de contaminação atingiu 3.051.423, contando-se 24.823 diagnósticos registrados ontem. Houve, ao todo, 58.600 óbitos no estado, sendo 81 em 24 horas.
Ainda no Brasil, o universo de casos em acompanhamento atingiu 2.649.421. O termo é adotado para designar diagnósticos notificados nos últimos 14 dias nos quais os pacientes não tiveram alta nem evoluíram para óbito. Até ontem, 24.516.591 pessoas se recuperaram da COVID-19, correspondendo a 88,2% dos infectados desde o início da pandemia.
As informações estão no balanço diário do Ministério da Saúde. Nele, são consolidadas as informações enviadas por secretarias municipais e estaduais de Saúde sobre casos e mortes associados à infecção viral.Os números em geral são menores aos domingos, segundas-feiras e nos dias seguintes aos feriados, em razão da redução de equipes para a alimentação dos dados. Às terças-feiras e dois dias depois dos feriados, em geral há mais registros diários pelo acúmulo de informações.
Segundo o balanço do Ministério da Saúde, os estados nos quais houve mais mortes por COVID-19 registradas até ontem são São Paulo (162.165); Rio de Janeiro (70.988); Minas Gerais (58.600); Paraná (41.879) e Rio Grande do Sul (37.706). Menores número de óbitos ocorreram nos estados do Acre (1.937); Amapá (2.091); Roraima (2.116); Tocantins (4.067) e Sergipe (6.191). Até ontem, foram aplicados 376,2 milhões de doses de vacinas contra a COVID-19 no país, das quais 170 milhões como 1ª dose e 154,9 milhões como 2ª unidade ou dose única. Outros 46,4 milhões de brasileiros já receberam a dose de reforço.