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Fique atento: crianças e adolescentes também podem ter diabetes

Por Dentro De Tudo:

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Há pouco tempo, o diabetes tipo 2, ligado à obesidade e a má alimentação, era o “do adulto” e o diabetes tipo 1, autoimune, era o “dos jovens”. Só que a situação não está mais tão dividida assim. Pouco a pouco, a doença do adulto começa a aparecer nos consultórios pediátricos, o que preocupa os médicos.

“Não podemos dizer que há uma epidemia, mas ainda assim notamos mais casos hoje. Estou formado há trinta anos e nunca tinha visto o tipo 2 em alguém com menos de vinte anos”, expõe Luis Calliari, endocrinologista pediátrico da Santa Casa de São Paulo e coordenador do Departamento de Diabetes no Jovem da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).

A fase mais suscetível é a adolescência, em especial a puberdade, quando a ebulição hormonal transforma o corpo todo. O hormônio do crescimento, que provoca o estirão, cria uma resistência periférica à insulina. O aumento de peso que costuma acompanhar este período ajuda a estabelecer um ambiente propício para o aparecimento da doença. Mas é preciso mais do que isso para que ela se instale de vez.

Sedentarismo é um dos fatores de risco

Essas mudanças acontecem com todos, o risco só ocorre se o pâncreas da pessoa não está ótimo ou ela tiver fatores como excesso de peso prévio, sedentarismo e histórico familiar. Jovens obesos, por exemplo, podem ter resistência à insulina além da natural da idade. O que é por si só alarmante, porque significa que o hormônio está com dificuldades em botar o açúcar para dentro das células e, assim, a glicose sobra em circulação.

“Há um número considerável de crianças com resistência à insulina, quadro que leva ao diabetes. Esse aumento, sim, é bem mais notado, e trata-se de um fenômeno reversível com hábitos de vida”, destaca Angela Spinosa e Castro, endocrinologista pediatra da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Por isso mesmo, quanto mais cedo esses desequilíbrios forem detectados, melhor.

Flagrando o diabetes tipo 2 nos jovens

O diagnóstico é relativamente simples. Assim como nos adultos, a doença está instalada se a glicemia estiver acima de 126mg/dl ou o resultado do teste de tolerância à glicose for 200 ou mais. O difícil é desconfiar do problema. Algumas crianças podem até ser tratadas como se tivessem o tipo 1, pois não se suspeita do tipo 2.

Os sintomas são os mesmo do adulto: maior produção de xixi, fome e sede em excesso, mas podem nem dar as caras. Nessa faixa etária, ela é mais perigosa, porque a glicemia fica descompensada de repente, então o adolescente costuma descobrir só quando passa mal e tem que ir ao pronto-socorro. Sem contar que ele tem mais complicações a longo prazo do que quem desenvolve a doença na vida adulta.

Além destes sinais, o escurecimento da pele na região do pescoço e das axilas em crianças e jovens acima do peso indica que a insulina pode estar elevada, o que merece investigação. Se o diabetes estiver instalado, o tratamento é feito primeiro com medicamentos, mas a aplicação de insulina entra em jogo quando o pâncreas deixa de dar conta do recado.

Dá para prevenir?

Apesar do forte componente genético que favorece o aparecimento do tipo 2 na adolescência, dá para atenuar o perigo com mudanças na rotina. Há fatores modificáveis, como os maus hábitos de vida, comer poucas verduras, poucos alimentos integrais e especialmente tomar bebidas adoçadas artificialmente.

É importante também ficar de olho no peso. Mas, diferentemente dos adultos, aqui não há um IMC (índice de massa corpórea) padrão para todos. Usamos referências de como o IMC deve ser para meninos e meninas com aquela idade e altura, e as crianças que saem fora dessa curva precisam de mais atenção.

Isso é importante porque, independentemente de ficar ou não diabético, a obesidade infantil é uma condição comum e perigosa. Tanto que pode levar ao diabetes tipo 2 na vida adulta. Para se ter ideia, um estudo do ano passado feito pelo King’s College de Londres mostrou que crianças obesas estão quatro vezes mais propensas a ter a doença já aos 25 anos, quando o mais normal é que ela apareça só depois dos 45.


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