Fumaça das queimadas pode causar 1,4 milhão de mortes por ano até 2100, diz estudo

Por Dentro De Tudo:

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A fumaça das queimadas, que já representa um problema de saúde em várias partes do mundo, pode se tornar ainda mais letal nas próximas décadas. Essa é a conclusão de dois estudos publicados na revista científica “Nature”, que indicam que o avanço do aquecimento global deve aumentar tanto a frequência quanto a intensidade dos incêndios florestais, resultando em um aumento no número de mortes relacionadas à inalação da fumaça. Nos Estados Unidos, a previsão é de que, até 2050, o país registre cerca de 70 mil mortes adicionais por ano devido à poluição proveniente dos incêndios, caso as emissões de gases de efeito estufa permaneçam elevadas. Globalmente, o número pode chegar a 1,4 milhão de mortes prematuras anuais até o final do século.

Os cientistas utilizaram modelos estatísticos e de aprendizado de máquina, baseando-se em dados de emissões de fogo entre 2001 e 2021. Eles cruzaram essas informações com registros de mortes nos Estados Unidos entre 2006 e 2019 para calcular como a exposição ao material particulado fino, conhecido como PM2.5, pode afetar a mortalidade futura. Os resultados sugerem que, no cenário de maior aquecimento, a fumaça dos incêndios poderá causar 71 mil mortes adicionais por ano em meados do século. A Califórnia, que já enfrenta temporadas de incêndios cada vez mais intensas, deve liderar o aumento de vítimas, seguida por Nova York, Washington, Texas e Pensilvânia. O estudo também estima que o custo econômico dessas mortes pode ultrapassar 600 bilhões de dólares anuais em 2050.

Os autores do estudo, liderados pelos pesquisadores Minghao Qiu e Marshall Burke, da Universidade de Stanford e de Stony Brook, afirmam que os impactos da fumaça das queimadas provocadas pelas mudanças climáticas podem ser algumas das consequências mais significativas e custosas do aquecimento no país. O segundo estudo, coordenado por Bo Zheng e Qiang Zhang, da Universidade Tsinghua, na China, teve uma abordagem global. Utilizando técnicas de inteligência artificial, os pesquisadores projetaram as áreas queimadas e as emissões futuras até 2100. Eles também utilizaram modelos atmosféricos para calcular como a fumaça circulará e impactará a saúde da população mundial. As projeções indicam que as mortes prematuras ligadas à poluição da fumaça podem aumentar seis vezes até o final do século, atingindo 1,4 milhão de pessoas por ano em um cenário intermediário de emissões. A África é identificada como a região mais vulnerável, com um aumento de até 11 vezes nas mortes relacionadas ao fogo, enquanto nos Estados Unidos e na Europa, o aumento esperado é de uma a duas vezes, ainda que em níveis preocupantes.

Os dois estudos, no entanto, não apresentam projeções específicas para o Brasil. A fumaça das queimadas contém não apenas cinzas visíveis, mas também diversos poluentes que, ao serem inalados, podem causar sérios problemas de saúde. Essa mistura tóxica inclui material particulado (PM2.5), monóxido de carbono (CO), compostos orgânicos voláteis (COVs), óxidos de nitrogênio (NOx) e metais pesados. O material particulado fino, conhecido como PM2.5, é particularmente perigoso, pois suas partículas minúsculas podem penetrar profundamente nos pulmões, provocando inflamações que podem desencadear doenças cardiovasculares graves, como arritmias e infartos. A Organização Mundial da Saúde recomenda que a concentração anual média de PM2.5 não ultrapasse 5 microgramas por metro cúbico de ar, um limite frequentemente excedido em episódios de fumaça intensa no Brasil.

Além do PM2.5, o monóxido de carbono, um gás inodoro e tóxico, é liberado durante as queimadas. Ele se liga à hemoglobina no sangue, impedindo o transporte de oxigênio e comprometendo a função dos órgãos. A exposição contínua a esse gás pode causar sintomas leves, como dores de cabeça, mas também pode resultar em consequências mais graves. Os compostos orgânicos voláteis (COVs), que também são emitidos durante os incêndios, podem aumentar o risco de câncer e prejudicar órgãos vitais. Outros poluentes, como os óxidos de nitrogênio e o ozônio, estão associados a crises de asma e outras complicações respiratórias. Além disso, a presença de metais pesados, como chumbo e mercúrio, é extremamente nociva, podendo causar inflamações e aumentar o risco de doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas.

Fonte: g1 – Adriano Machado/Reuters

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