O governo de Minas Gerais aposta numa via paralela para conseguir a tão aguardada vacina contra a Covid-19. Enquanto espera a definição do governo federal sobre qual imunizante será utilizado no Brasil, a gestão de Romeu Zema (Novo) também mantém negociações com a Covaxx, divisão da norte-americana United Biomedical. A empresa está em processo de desenvolvimento de uma vacina contra o novo coronavírus. O grupo informa que prevê finalizar os testes até maio de 2021.
A negociação está avançada e foi oficializada por meio de “extrato de memorando de entendimento” firmado entre a Fundação Ezequiel Dias (Funed) e a Covaxx. O próximo passo é assinar o contrato, o que deve acontecer em até 60 dias, segundo confirmou o presidente da Covaxx Brasil, Elcemar Almeida. Ele vem a Belo Horizonte na próxima semana para negociar detalhes do documento.
“Estamos com tudo organizado para Minas”, disse o executivo. A parceria pode resultar na garantia que 25 milhões de vacinas venham para o Estado – o que seria suficiente para imunizar toda a população mineira, caso seja necessária dose única.
A capacidade de produção da Covaxx é de 50 milhões de vacinas – os outros 25 milhões devem ser encaminhados ao governo do Paraná. Empresa brasileira do ramo de medicina diagnóstica, o grupo Dasa – Diagnósticos da América também é parceiro da iniciativa e está investindo R$ 15 milhões nos estudos. Caso o imunizante seja aprovado, a empresa pretende comercializar a vacina também no mercado privado.
Mesmo não estando tão avançada nas pesquisas quanto suas concorrentes como Pfizer, Coronavac e Oxford, a Covaxx aposta que a facilidade no armazenamento da vacina (não demanda ultracongeladores) e a segurança (mínimo risco de efeitos colaterais) sejam diferenciais. Os estudos ainda não concluíram se serão necessárias uma ou duas doses. “Nossa vacina não será a primeira opção, mas será benéfica em termos de preço, qualidade e logística”, avaliou Almeida.
Além disso, especialistas afirmam que acordos com mais de um laboratório são importantes e evitam que governos fiquem dependentes de apenas um fabricante.
A vacina encontra-se no final da fase 1 dos estudos clínicos, desenvolvidos em Taiwan. As fases 2 e 3 devem ser realizadas no Brasil, e esse pedido será protocolado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda neste ano, segundo informações do presidente da companhia. A previsão é que essas etapas envolvam a adesão de aproximadamente 7 mil voluntários.
Investimento privado
A reportagem apurou que o arranjo foi possível graças à Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), que conseguiu mobilizar o empresariado mineiro a botar a mão no bolso. As empresas MRV, Localiza e Banco Inter se comprometeram a investir R$ 15 milhões no desenvolvimento dessa vacina. “A Fiemg foi determinante para que a Covaxx estabelecesse a parceria com o governo de Minas”, informou o presidente.
Uma das contrapartidas é que a tecnologia utilizada na fabricação do imunizante seja transferida à Funed. Os custos da vacina para os cofres do governo mineiro, no entanto, ainda são desconhecidos.
Governo confirma intenção
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) confirmou esses entendimentos. Por meio de nota, a pasta disse que trata-se de “conversa inicial”. No entanto, as negociações entre governo e laboratório estão oficializadas em um documento chamado “extrato de memorando de entendimento”, firmado entre a Fundação Ezequiel Dias (Funed) e a Covaxx.
As tratativas compreendem parceria técnico-científica para inovação, pesquisa, desenvolvimento e produção de vacina contra a Covid. O documento foi assinado no dia 6 de novembro e tem vigência até novembro de 2025.
Uma fonte ouvida pela reportagem informou que negociações do tipo são corriqueiras na Funed, mas que essa não deixa de chamar atenção, já que trata sobre a vacina que o mundo inteiro está investindo na descoberta.
A SES não quis repassar mais nenhuma informação complementar a respeito da negociação com o laboratório. A pasta ressaltou que definições sobre a vacinação em Minas Gerais estarão em consonância com o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde.
A reportagem consultou a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa para saber se o colegiado foi informado sobre as negociações envolvendo o Executivo. O deputado Carlos Pimenta (PDT), que preside a comissão, informou que os deputados não foram informados oficialmente sobre essa tentativa de viabilizar uma vacina contra a Covid-19.