Hobbies lúdicos reconectam adultos com a infância e desafiam o ritmo da vida moderna

Por Dentro De Tudo:

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Livros de colorir, bichinhos de pelúcia como acessórios de bolsas, bonecas realistas e personagens fofinhos estão ganhando cada vez mais espaço no cotidiano de adultos — e não apenas como modismo passageiro. São elementos de uma tendência que vem crescendo desde meados da década passada e que volta com força: a redescoberta do lúdico como forma de escape, acolhimento emocional e reconexão com a própria essência.

Recentemente, um livro de colorir da série “Boobie Goods” foi incluído em promoções de uma rede de fast-food no Rio de Janeiro e em São Paulo, reacendendo a discussão sobre a presença da ludicidade na vida adulta. A proposta é oferecer mais do que um passatempo: é criar uma experiência aconchegante e nostálgica, que devolve ao indivíduo sensações esquecidas da infância.

A diretora executiva do Museu do Brinquedo, Tatiana de Azevedo Camargo, aponta que o brincar é parte essencial da natureza humana. “Essa ludicidade é muito presente na infância, mas está em todos nós. Quando vemos adultos com esses hobbies, é uma forma de revisitar esse lado genuíno, uma expressão saudável e bem-vinda de humanidade”, explica.

Segundo ela, o sistema social e econômico moderno reprime o impulso de brincar, pois associa produtividade ao valor da vida adulta. “A sociedade preza o ‘ter’ em detrimento do ‘ser’. O brincar está no campo do ser, do sentir, do imaginar. Mas o ser humano resiste, e as manifestações populares — como o Carnaval — são exemplos de brincadeira coletiva e cultural”, completa Tatiana, que criou o Museu do Brinquedo a partir da coleção da avó.

Já o neurocientista e hipnoterapeuta Thiago Porto vê nuances mais profundas nesse fenômeno. Para ele, o retorno de adultos a atividades infantis pode indicar uma busca emocional não resolvida. “Muitos adultos têm funções emocionais infantilizadas, por conta de traumas não superados na infância. Isso se expressa quando essas pessoas encontram conforto em objetos como o bebê reborn ou em atividades como colorir”, afirma.

Porto lembra que, com o amadurecimento, a parte cognitiva do cérebro tende a suprimir o lado fantasioso e criativo. Por isso, hobbies como colorir ganham um valor mais terapêutico do que propriamente recreativo. “Essas atividades trazem acolhimento emocional. É mais sobre expressão do que diversão pura”, analisa.

Um dos maiores símbolos atuais dessa tendência é a série Boobie Goods, que apostou em desenhos simples, traços grossos, personagens fofos e cenas de tranquilidade — uma estética conhecida como cozy, que se tornou popular entre jovens adultos especialmente após a pandemia. Personagens como Momo, a cachorrinha que busca o lugar ideal para cochilar, e Pierre, o urso de poucas palavras, fazem sucesso por transmitir calma e acolhimento em tempos de sobrecarga.

Seja por nostalgia, terapia ou resistência ao ritmo imposto pela vida adulta, a ludicidade parece ter reconquistado um espaço importante. E, como reforça Tatiana, mais do que uma volta à infância, ela representa um retorno ao que nos faz mais humanos.

Por (Folhapress)

Foto: Jacob Ammentorp Lund / Getty Images

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