domingo, 12 de maio de 2024

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Hospitais operam no vermelho e pedem socorro para não fechar

Por Dentro De Tudo:

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Hospitais filantrópicos de referência que recebem grande fluxo de pacientes vindos do interior de Minas Gerais e do entorno da capital vivem com risco de desassistência em função da falta de recursos. Em alguns casos, a dívida total quase bate a casa de bilhões. O quadro inibe a reposição de equipes, agravando o quadro já posto de falta de especialistas, reduz a capacidade de atendimento e coloca em risco a permanência do serviço, como mostra esta última reportagem da série “Do ‘apagão’ de médicos ao caos na saúde”. 

O cenário de caos nas unidades filantrópicas do país já é de conhecimento do governo federal, que, em nota, lembrou a importância delas para a universalização da saúde. “As entidades filantrópicas são parte fundamental do SUS. É por meio delas que grande parte da população tem acesso aos atendimentos de média e alta complexidade, como cirurgias e exames”, diz a pasta. Os hospitais filantrópicos são responsáveis por 50% dos atendimentos de média complexidade do SUS e 70% da alta complexidade.

No Hospital da Baleia, braço importante nesse contexto, a dificuldade financeira não é de hoje, mas o cenário é mais complexo agora porque a unidade chegou ao limite do endividamento e não pode mais recorrer a empréstimos bancários. Há 20 anos tentando equilibrar contas, a instituição tem um endividamento de R$ 96 milhões e opera com um déficit mensal de R$ 2,5 milhões. Só em 2022, o hospital, que atende 750 cidades mineiras, realizou mais de 644 mil procedimentos. 

Segundo a superintendente de mobilização de recursos do hospital, Danielle Ferreira, o endividamento se reflete em remarcações de cirurgias e impede a realização de investimentos de ampliação da estrutura.

“A gente é condicionado a fazer o pagamento antecipado de fornecedores. Para receber uma prótese ou órtese para fazer uma cirurgia, por exemplo, precisamos do recurso. Então, às vezes, as eletivas são atrasadas. Isso não ocorre sempre, mas não é incomum”, diz. 

No Hospital Risoleta Tolentino Neves, que funciona como porta aberta e é referência para 1,5 milhão de pessoas da região Norte da capital e de municípios do entorno, a superlotação e o desequilíbrio financeiro já comprometem o atendimento. 

A unidade opera com um déficit mensal de R$ 2 milhões, o que, segundo a diretora geral do hospital, Alzira de Oliveira Jorge, inibe melhorias de infraestrutura, readequação salarial das equipes e custeio das despesas. “A gente teve um aumento de atendimento, ou seja, o meu hospital está ficando mais caro, preciso de mais medicamentos, preciso internar e girar o leito mais rápido. Então a gente tem que fazer um malabarismo para dar conta”, diz.

A responsabilidade pelo custeio do Risoleta é repartida, sendo 54% do Estado, 33% da União e 13% do município de Belo Horizonte. Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que “está ciente da situação do Hospital Risoleta Tolentino Neves e vem trabalhando no sentido de recompor os valores financeiros reclamados pela instituição”.

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais disse que repassa R$ 130 milhões por ano ao hospital e que está viabilizando um novo convênio com R$ 3 milhões destinados para a compra de um novo tomógrafo e outros equipamentos médicos.

O Hospital Sofia Feldman também opera no vermelho e não descarta a possibilidade de fechamento de leitos caso não tenha um socorro financeiro. A unidade acumula R$ 100 milhões só em dívidas tributárias e opera com déficit mensal de R$ 2,5 milhões, segundo a diretora administrativa Tatiana Coelho Lopes.

“Além de BH, atendemos mais de 600 municípios. Se fecharmos leitos, cidades que não têm maternidade, como Jaboticatubas, de que os hospitais trazem as grávidas, vão ser as primeiras impactadas”, diz. O hospital tem ainda 110 leitos neonatais, sendo um reforço importante para o atendimento de gestações de risco. 

Cirurgias na Santa Casa podem parar

“As cirurgias não podem parar. A saúde é urgente”. O alerta estampado em um cartaz indica a falta de médicos anestesistas na Santa Casa de Belo Horizonte, hospital de alta complexidade, com atendimento 100% SUS (Sistema Único de Saúde).

A falta desses profissionais compromete a realização de cerca de 3.500 cirurgias na unidade em BH. No hospital de alta complexidade, o déficit desse profissional, responsável por avaliar se o paciente está apto a receber anestesia, é de 35%.

Uma realidade que compromete a realização de cirurgias e impulsiona campanhas para a contratação desses especialistas. “É uma situação que impacta o nosso dia a dia. Não temos a quantidade de profissionais para que todas as salas disponíveis funcionem. A nossa situação é bastante delicada, e por isso estamos abrindo a procura desse especialista tão disputado”, aponta Artur Tibúrcio, coordenador do bloco cirúrgico da Santa Casa BH.

Ministério da Saúde admite que assistência está em risco

O Ministério da Saúde reconhece as dificuldades financeiras enfrentadas pelas entidades filantrópicas. A pasta aponta, inclusive, que a falta de recursos coloca em risco a assistência à população. 

“Nos últimos anos, essas entidades têm enfrentado dificuldades financeiras, o que compromete a assistência para a população de várias regiões do país”, disse, em nota. Para tentar conter o problema, a pasta repassou, em abril deste ano, R$ 2 bilhões para 3.288 hospitais filantrópicos e Santas Casas de 1.700 municípios de todas as regiões do país.

“Sabemos que esses R$ 2 bilhões são fundamentais, mas não resolvem todos os problemas das entidades. Por isso a pasta trabalha constantemente para conseguir mais recursos para garantir a sustentabilidade do SUS”, completou o ministério.

Fonte: O Tempo.

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