O envelhecimento da população mundial traz consigo um novo desafio silencioso: o impacto do declínio cognitivo sobre a saúde financeira dos idosos. Estudos recentes mostram que mudanças sutis no comportamento com o dinheiro — como pagamentos atrasados e decisões financeiras incoerentes — podem preceder em até seis anos o diagnóstico de doenças como a demência.
Um levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) analisou dados de um milhão de pessoas com mais de 50 anos, em 41 países, e apontou que, embora os cérebros atuais estejam mais ativos do que os de gerações passadas, há indícios de que o declínio cognitivo segue sendo um risco crescente e muitas vezes ignorado.
Segundo especialistas, a tendência humana de negar fragilidades e manter uma ilusão de superioridade pode dificultar a percepção desses sinais. Com isso, familiares e instituições financeiras precisam estar atentos a comportamentos que, embora sutis, podem indicar perdas na capacidade de julgamento e raciocínio lógico.
Um estudo feito com beneficiários do Medicare, nos Estados Unidos, mostrou que quedas recorrentes na pontuação de crédito e atrasos em pagamentos se tornaram evidentes anos antes de o diagnóstico de demência ser oficialmente feito. Nesse período, os idosos chegaram a perder, em média, 50% de suas economias.
Além das dificuldades naturais com a tecnologia bancária — como o uso de aplicativos ou caixas eletrônicos —, o quadro também favorece a ocorrência de fraudes e abusos financeiros. Para enfrentar o problema, iniciativas vêm surgindo para capacitar profissionais do setor financeiro a reconhecer e atender clientes em situação de vulnerabilidade cognitiva.
Uma das ações de destaque é a do BankSafe Dementia Hub, criado pela AARP, organização que representa quase 40 milhões de aposentados norte-americanos. A plataforma ensina bancos e instituições a identificar sinais de demência e desenvolver protocolos de atendimento com empatia e segurança.
Segundo a AARP, 84% dos profissionais que atuam com finanças disseram já ter atendido um cliente com sinais de demência, e 96% afirmaram não estar devidamente preparados para lidar com essas situações.
Entre os principais sinais de alerta, estão:
- Dificuldade em contar dinheiro ou dar troco corretamente;
- Demora excessiva para preencher formulários simples;
- Repetição constante de perguntas durante o atendimento;
- Atrasos frequentes em pagamentos de contas básicas;
- Transferências ou contribuições financeiras atípicas, que não condizem com o perfil do cliente.
Além disso, condições como depressão em idosos também têm sido associadas a quadros de demência, o que reforça a necessidade de atenção integral à saúde mental e emocional da pessoa idosa.
A prevenção e o suporte adequado não são apenas questões de saúde, mas também de proteção financeira e cidadania. Estar atento a essas mudanças pode ajudar famílias a agir mais cedo e instituições a oferecer um atendimento mais humano e eficiente.
Foto: Aging Without Limits / Reprodução – Fonte: g1
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