Os impactos da pandemia de Covid sobre a renda dos trabalhadores e principalmente sobre os empregos poderão ser sentidos até nove anos depois de o coronavírus fazer a primeira vítima no Brasil. É o que mostra estudo do Banco Mundial, que analisou os efeitos de outras grandes crises econômicas deflagradas por diferentes motivos sobre países como o Brasil, o Chile e o México. A conclusão do levantamento, apresentada ontem, não é nada animadora. Indica que a recuperação, quando realmente acontece, é com menos postos de trabalho – e mais precários.
Segundo Joana Silva, coautora do estudo “Emprego em crise – Trajetória para Melhores Empregos na América Latina pós-Covid-19”, isso acontece porque vários empregos formais são eliminados de forma persistente durante uma grave crise. De acordo com o relatório, a perda dessas vagas chega a 3% na América Latina, e, no Brasil é ainda maior: 4%. Nas situações em que houve retomada, ela se deu por meio do emprego informal, que cresce em média 2%. Na prática, significa um país com muitos trabalhadores empurrados para a informalidade.
Ainda segundo o relatório do Banco Mundial, trabalhadores menos qualificados passam a ter uma renda mais baixa por uma década após a crise. Já os mais qualificados, com ensino superior, conseguem se recuperar em um ou dois anos. Tudo isso agrava a desigualdade.
Para amortecer efeitos do desemprego, o estudo sugere o reforço de medidas como o seguro-desemprego e ações para promover oportunidades locais de emprego.
Briga por vagas vai mobilizar até profissional qualificado
A recolocação de profissionais menos qualificados deverá ser ainda mais árdua diante da grande competição pelas vagas que surgirem – disputadas inclusive por candidatos altamente capacitados, mas também sem ocupação formal.
“A pandemia deixou ainda mais cruel a necessidade de qualificação, a exclusão e a precarização dessa massa de trabalhadores menos qualificados”, diz Mafalda Ruivo Valente, economista.