Inclusão para quem sente dor: fibromialgia desafia preconceitos de gênero e classe

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Em meio às manifestações do Maio Roxo – mês de conscientização sobre doenças crônicas invisíveis – especialistas, pacientes e ativistas chamam atenção para as barreiras enfrentadas por quem convive com a fibromialgia no Brasil.

A chamada sociedade moderna ocidental proporcionou melhores condições de vida em vários aspectos. Ainda assim, boa parte da população segue à margem, sem acesso pleno a direitos fundamentais, como saúde e bem-estar.

Se, por um lado, temos mais opções de escolha em relação ao trabalho e tratamentos de saúde, por outro, o estilo de vida moderno também adoeceu muita gente. Estresse, ansiedade, depressão, síndrome do pânico, enxaqueca crônica, lúpus e fibromialgia afetam milhões de pessoas no mundo – e, em especial, as mulheres.

Desconfiança que dói

A fibromialgia, uma síndrome crônica que provoca dores musculares generalizadas e fadiga constante, é um exemplo claro disso. Em cada 10 diagnósticos, 8 são em mulheres. Globalmente, estima-se que 2,5% da população conviva com a doença. No Brasil, esse índice chega a 3%.

Por ser uma condição difícil de diagnosticar e sem exames laboratoriais conclusivos, muitas pacientes enfrentam desconfiança ao relatarem os sintomas. Ouve-se com frequência: “Essa doença é real?” ou “Ela não está exagerando?”

Essa dúvida constante faz com que mulheres sejam desacreditadas por familiares, empregadores e até por profissionais da saúde. A falta de acolhimento pode agravar ainda mais o sofrimento físico e emocional.

A dor e a desigualdade

Além do preconceito, fatores socioeconômicos também agravam o cenário. Quem possui melhores condições financeiras pode custear tratamentos mais completos, o que ajuda a minimizar crises – embora não elimine a dor. Já para mulheres empobrecidas, a realidade é mais dura: a dor diária interfere no desempenho profissional, na autoestima e nas relações familiares e sociais.

Diante disso, projetos de lei vêm sendo aprovados em 18 estados e no Distrito Federal, buscando garantir políticas públicas para atendimento adequado a pessoas com fibromialgia.

Mais que assistência: é preciso respeito

A acessibilidade e a inclusão das pessoas com fibromialgia vão além do acesso a medicamentos e consultas. É fundamental o atendimento por equipes multidisciplinares, incluindo fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, psiquiatras, neurologistas e reumatologistas.

Também são necessárias adaptações no ambiente de trabalho, jornadas mais flexíveis e políticas de proteção contra demissões motivadas por crises de dor.

Mas, para que isso aconteça, é essencial uma mudança de postura da sociedade. A fibromialgia não é “frescura” nem “corpo mole”. É uma dor real, invisível, mas incapacitante. O respeito e a empatia são os primeiros passos para a verdadeira inclusão.

Foto: Amenic181/iStock

Fonte: Artigo de Opinião – Vera Simone Schaefer Kalsing, professora associada do Departamento de Ciências Humanas da Universidade Federal de Lavras (Ufla), publicado em O TEMPO, em 19 de maio de 2025

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