A disparada dos preços de itens básicos tem obrigado milhões de brasileiros a fazer escolhas na hora de pagar contas.
A inflação não é justa, ao contrário. Ela promove a desigualdade social porque é um fenômeno, como se diz, “com dois pesos e duas medidas”.
As pesquisas de preços por faixa de renda mostram que para as famílias mais ricas, com rendimento acima de oito salários mínimos, o peso de alimentação e habitação é de menos da metade do orçamento (46,2%). Para as mais pobres, que vivem com menos de três salários mínimos, o essencial compromete quase dois terços de tudo o que ganham (65,7%). Agora pensa: nos últimos 12 meses, o que mais subiu foi justamente o preço do básico.
A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas acompanha a variação de preços por faixa de renda na cidade de São Paulo. Até abril, no acumulado em 12 meses, a inflação para os mais pobres foi de 12,8%. Para os mais ricos, ficou um pouco abaixo de 12%. Para os dois grupos, o avanço dos preços dos alimentos foi muito maior que o índice geral.
O economista Alberto Ajzental, professor da FGV, explica que o saldo dessa conta que não fecha é a perpetuação da pobreza.
“A família precocemente tem que começar a trabalhar, e quando falo precoce são os filhos. Os filhos não conseguem completar o ciclo de educação e antecipadamente têm que ir para o mercado de trabalho, e não conseguem sair de um ciclo vicioso da pobreza”.