A saúde mental ganhou atenção redobrada nos últimos três anos, durante e após a pandemia de Covid-19 em todo o mundo, em função do adoecimento, exaustão e transtornos desenvolvidos por muitas pessoas. Para esclarecer a população sobre o tema e falar do assunto de forma preventiva, foi criada a campanha Janeiro Branco, que está em sua 10ª edição e este ano traz como mote o equilíbrio.
Para o médico psiquiatra da Rede Mater Dei de Saúde, Rodrigo Barreto Huguet, é interessante buscar inspiração nos gregos antigos, que acreditavam em “mente sã, corpo são”. “Não há saúde sem saúde mental. Pacientes com doenças clínicas adoecem mais emocionalmente, e pacientes com transtornos psiquiátricos adoecem mais clinicamente”, diz.
Segundo o médico, que integra a diretoria e a comissão de Transtornos Alimentares da Associação Mineira de Psiquiatria, e coordena a comissão de Psiquiatria e Psicologia da Sociedade Brasileira de Diabetes, a pandemia de Covid-19 sobrecarregou a todos emocionalmente, pelo medo do vírus, pelo isolamento, pelo luto com a perda de entes queridos, tornando mais evidente a necessidade das pessoas cuidarem mais da saúde mental para lidar melhor com as adversidades.
Como explica Huguet, os transtornos mentais são de origem multifatorial e biopsicossocial. “Isso quer dizer que há uma predisposição genética para transtornos psiquiátricos, bem como fatores de vida que os predispõem, como maus tratos na infância e outros traumas. Há pessoas mais e menos vulneráveis a adoecer mentalmente. Porém, há medidas que reduzem o risco de doenças psiquiátricas”, esclarece Huguet.
Entre as medidas mais abordadas estão:
– Não usar drogas e não abusar de álcool, uma vez que a dependência dessas substâncias agrava os transtornos mentais, além de poder causar sintomas depressivos, ansiosos, psicóticos, adoecimento clínico e aumentar o risco de suicídio;
– Procurar reduzir os níveis de estresse, separando tempo para lazer de qualidade e colocando mais a atenção em problemas reais do que em problemas imaginários;
– Cuidar da saúde física, com hábitos saudáveis, cuidando da alimentação, praticando atividade física, frequentando os médicos regularmente;
– Ter relacionamentos de qualidade, separando tempo para os amigos, família e amores.
Como explica o psiquiatra, emoções como ansiedade, tristeza, raiva, saudade e angústia são tão normais quanto a alegria, serenidade e paz. “Essas emoções e sentimentos fazem parte da riqueza da vida e são necessárias para causar desconforto e nos mobilizarem a procurarmos soluções para nossos problemas. Porém, quando essas emoções são excessivas, em frequência ou em intensidade, causando sofrimento significativo e duradouro, e sem um contexto que as justifique, é um sinal de transtorno psiquiátrico, e de que se deve procurar ajuda especializada”, indica.
Atenção aos sinais. Abuso de álcool e drogas, tristeza ou desânimo persistentes, ansiedade incapacitante, desconfiança exagerada, ideias de morte ou qualquer outra alteração emocional ou comportamental que cause sofrimento significativo ou prejuízo funcional ou social devem ser consideradas um alerta para a pessoa. Nesses casos, o médico recomenda uma consulta com um profissional médico psiquiatra, para que a pessoa esclareça melhor um possível quadro depressivo e estude a forma de tratamento.
“É muito importante encarar as dificuldades sem julgamento, seja em relação a si ou aos outros. Procurar ajuda psiquiátrica, para buscar as ferramentas necessárias para um diagnóstico e tratamento eficazes, é fundamental. Os transtornos psiquiátricos devem ser encarados como as doenças clínicas, sem preconceito. Não se melhora de nenhuma doença só com “força de vontade”, é preciso buscar tratamentos com evidências de eficácia. Um tratamento psiquiátrico adequado não provoca dependência e nem deixa o paciente “dopado”. Pelo contrário, objetiva permitir a ele retornar às suas atividades habituais. Ninguém tem culpa de adoecer, mas cabe ao paciente e seus familiares serem assertivos na busca do tratamento mais recomendado pelas evidências científicas”, acrescenta Rodrigo Huguet.
Transtornos não tratados. Os transtornos psiquiátricos, como depressão, transtornos ansiosos, dependências químicas e outros sempre foram muito frequentes, mas segundo o psiquiatra, muitas vezes não são tratados ou tratados de forma inadequada, por julgamento, preconceito, desinformação ou simplesmente falta de acesso ao tratamento.
“A saúde mental é essencial para todos os seres. Quanto mais precoce for o tratamento maior a chance de eficácia e menor o sofrimento para o paciente. Em geral, transtornos psiquiátricos leves a moderados podem ser tratados com psicoterapia, preferencialmente com uma terapia com mais evidências de eficácia, como a terapia cognitiva comportamental. Quadros moderados a graves necessitam de tratamento medicamentoso, isoladamente ou associado a psicoterapia”, comenta Huguet.
A Rede Mater Dei tem um serviço de Psiquiatria com uma equipe de psiquiatras que atendem interconsultas de pacientes clínicos internados com comorbidades psiquiátricas nas unidades Santo Agostinho, Contorno e Betim-Contagem. Essas unidades também contam com equipe de psicologia. A rede hospitalar não conta com atendimento de urgências psiquiátricas nos pronto-atendimentos. Pacientes com quadro de urgências devem ser encaminhados a um hospital ou clínica especializada.