A rotina dos caminhoneiros brasileiros tem se mostrado cada vez mais prejudicial à saúde mental desses profissionais. Jornadas exaustivas, pressão por prazos e longos períodos de solidão nas estradas contribuem para o surgimento de transtornos como ansiedade, depressão e estresse, segundo especialistas e levantamentos recentes.
De acordo com dados do Ministério Público do Trabalho (MPT), 50,49% dos motoristas recebem por comissão e 43,7% trabalham sem carga horária definida, o que gera insegurança e instabilidade financeira. Além disso, 56% da categoria trabalha entre nove e 16 horas por dia, e quase 25% chegam a ultrapassar 13 horas diárias. O levantamento mostra ainda que 43,7% dos caminhoneiros têm intervalos de descanso inferiores a oito horas entre jornadas, quando o mínimo previsto em lei é de 11 horas.
Outro dado preocupante é o uso de substâncias para suportar a sobrecarga. Uma pesquisa realizada no fim de 2023 revelou que quase 27% dos motoristas utilizam drogas ou rebites para conseguir dirigir por mais de 12 horas. O coordenador-geral de Segurança Viária da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Jefferson Almeida, aponta que, além dos inibidores de sono, há consumo frequente de drogas mais pesadas, como a cocaína.
Segundo especialistas, a atividade, que já é marcada por riscos físicos e acidentes de trânsito, se agrava com o impacto psicológico. A doutora em psicologia Michelle Engers Taube, que pesquisou a saúde mental da categoria, constatou que a chance de caminhoneiros desenvolverem transtornos mentais comuns é três vezes maior quando a jornada ultrapassa 12 horas diárias. Os longos períodos longe da família também intensificam o desgaste emocional.
O procurador do Trabalho Paulo Douglas de Moraes alerta para um “apagão de motoristas” no país. A idade média desses trabalhadores é de 46 anos, e muitos jovens não se interessam pela profissão justamente pelo impacto negativo da atividade.
O psiquiatra Alcides Trentin Júnior, representante da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), ressalta que a profissão deveria ser reconhecida como penosa. “Dirigir como motorista profissional, por tantas horas seguidas, exige estabilidade mental e atenção elevada. Os riscos de acidentes aumentam quando a saúde psicológica é negligenciada”, afirmou.
A atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), em vigor desde maio, estabelece que empresas devem garantir um ambiente de trabalho psicologicamente saudável. A determinação inclui a necessidade de identificar riscos psicossociais, como estresse, fadiga e sobrecarga, indo além da simples prevenção de acidentes físicos.
Para especialistas, o cumprimento das normas, aliado à criação de pontos de parada adequados e a políticas públicas efetivas, é fundamental para reduzir a sobrecarga dos caminhoneiros e promover mais segurança nas rodovias.
📷 Crédito da foto: Tânia Rêgo/Arquivo/Agência Brasil
📌 Fonte: Agência Brasil