Uma pesquisa divulgada no último domingo (11) pela Agência Brasil revela um dado alarmante: 90% dos brasileiros com acesso à internet acreditam que adolescentes não recebem o apoio emocional e social necessário para enfrentar os desafios do ambiente digital. O levantamento ouviu mil pessoas com 18 anos ou mais, de todas as regiões e classes sociais do país.
Entre os entrevistados, 70% defendem a presença de psicólogos nas escolas como uma medida essencial para reverter esse cenário. A pesquisa foi realizada pelo Porto Digital, em parceria com a Offerwise, e surgiu após a repercussão do seriado Adolescência, da Netflix, que escancarou o impacto da vida digital sobre a juventude e o distanciamento entre pais e filhos.
Para 57% dos participantes, o bullying e a violência escolar lideram os desafios de saúde mental enfrentados pelos jovens, seguidos por depressão e ansiedade (48%) e pressão estética (32%).
Segundo o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena, o cuidado com a juventude precisa ser uma responsabilidade compartilhada entre escolas, famílias, empresas e governos. “O futuro da inovação depende de como cuidamos dos nossos jovens”, afirmou.
A pesquisa também revela uma diminuição da supervisão parental na internet conforme os filhos crescem. Enquanto o controle sobre crianças de até 12 anos é mais rígido, apenas 20% dos pais pretendem manter ferramentas de monitoramento quando os filhos forem adolescentes.
O diretor da Offerwise, Julio Calil, defende a criação de espaços de acolhimento e orientação nas escolas, com suporte técnico e emocional tanto para pais quanto para os alunos.
Big techs reduzem moderação de conteúdo e acendem alerta
Outro ponto abordado pela pesquisa foi a recente mudança nas regras de moderação das principais plataformas digitais, que agora estão menos rígidas na exclusão de conteúdos. Para o professor Luciano Meira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), essa decisão prioriza interesses comerciais e reduz a responsabilidade social das empresas, aumentando a exposição de jovens a discursos de ódio e desinformação.
Meira defende uma reavaliação do Artigo 19 do Marco Civil da Internet, que limita a responsabilização das plataformas por conteúdos ofensivos sem ordem judicial. Ele também apoia o Projeto de Lei das Fake News (PL 2630/2020), parado na Câmara, como forma de regular o ambiente digital e proteger populações vulneráveis, como crianças, adolescentes e idosos.
Diálogo e confiança: a base da proteção digital
Para Meira, o principal desafio é construir um ambiente de confiança entre pais, filhos e educadores. Segundo ele, sem esse vínculo, nenhuma ferramenta ou restrição terá o efeito desejado. “As conversas sobre riscos e relacionamentos nas redes precisam acontecer com afeto e abertura”, explica.
O professor também propõe o uso consciente de ferramentas de monitoramento, mas alerta que elas não substituem o diálogo. “Não se trata apenas de proibir, mas de compreender e orientar”, conclui.